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Marchinhas continuam embalando o Carnaval após séculos

Clássicos do século XIX e início do XX ainda estão na ponta da língua dos foliões

Enize Vidigal
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"Ô abre alas que eu quero passar..." As marchinhas são a cara do carnaval de Norte a Sul do Brasil e, em Belém, não é diferente. Inspiradas nas marchas militares e influenciadas pelo fado e outros ritmos europeus, as marchinhas ganharam força em solo brasileiro entre os anos 20 e 50, com compositores como Chiquinha Gonzaga, Braguinha e Lamartine, conforme explica o professor de Música Brasileira, Yuri Guedelha. Ele é um dos artistas paraenses a agitar Belém com bailes de carnaval ao som de marchinhas. Já Eloi Iglesias, virou símbolo do carnaval de rua com o Bloco do Fofó, que há 27 anos arrasta foliões com marchinhas clássicas, desde o pré-carnaval, revitalizando a quadra festiva no bairro da Cidade Velha.

Eloi Iglesias segue firme no comando do bloco público, todos os domingos até o carnaval, acompanhado do carro de mão chamado "Boi Sem Rabo". O bloco sai da Praça do Arsenal, às 15 horas, para percorrer a Avenida Tamandaré até a Insano Marina Club, onde acontece um show fechado com ele próprio e a banda Charanga do Fofó. "As marchinhas não saem de moda, são clássicas, não tem como fazer um baile de carnaval tradicional sem elas. As marchinhas trazem sentimentos de amor, de romance, alegria, ingenuidade e um pouco de malícia, mas sem pornografia", defende o cantor.

O Bloco do Fofó traz os sucessos dos compositores tradicionais, como Chiquinha, Ary Barroso, Sérgio Sampaio, Braguinha e Carmen Miranda, mas também os autores paraenses do momento, como Juca Culatra e Dona Onete, e até sucessos dos anos 80 em ritmo de carnaval, como Vando. Puxar uma dessas marchinhas clássicas no bloco é a certeza que o público vai cantar junto. "A galera canta porque essas músicas estão no inconsciente coletivo". "O Fofó revitalizou o carnaval da Cidade Velha, um bom tempo após o desaparecimento do Afoxé do Guarda-Chuva. Voltou com a coisa neo-romântica fazendo um passeio pelos carnavais do passado". O evento cresceu e surgiram vários blocos de venda de abadás, inclusive com outros ritmos e atrações nacionais.

Marchinhas são sinônimo do Carnaval

As marchinhas continuam sendo o chamariz da maior festa popular de rua do país. Mas nem só de marchinhas vivem a pular os foliões. Yuri Guedelha, outro representante belenense das marchinhas, incrementa o repertório do show dele, "Velhos Carnavais", também com sambas-enredo das escolas de samba cariocas e belenenses e sucessos de artistas regionais. Já no bloco carnavalesco do folclórico Epaminondas Gustavo, personagem do juiz Cláudio Rendeiro, chamado "Atrás do Sem Aquele", o samba-enredo dá lugar à uma marchinha inédita e autoral com temática social. "Marchinha tem a ver com o carnaval mais saudoso, é pitoresca. Bloco de carnaval combina mesmo é com marchinha", diz Rendeiro.

Yuri Guedelha & Sarau Brasil apresentam o show "Velhos Carnavais" todos os sábados até o carnaval, no Boteco da Nina (Av. Visconde de Souza Franco, 1364, Nazaré), sempre a partir das 17 horas. Ele também se prepara para levar o repertório ao Baile do Pierrot, da sede social do Clube do Remo, no próximo dia 14, às 21 horas. "No meu baile faço um mix de marchinhas tradicionais, clássicos de samba-enredo de escolas do Rio e de Belém e de blocos antigos paraenses, como Rancho e Quem São Eles, Boêmios da Campina, Arco-Íris Xavante e Vila Farah, artistas regionais como Gaby Amarantos, Lia Sophia e Pinduca e marchas-ranchos, que sãos mais lentas e românticas, como 'Bandeira Branca', 'Máscara Negra' e 'As Pastorinhas', entre outras", revela o músico.

Professor de Música Brasileira, Guedelha afirma que as marchinhas tiveram forte influência do fado e de outros ritmos europeus, sendo uma variação das marcha militar que era usada para estimular os combatentes. "Com o tempo, as marchinhas foram relaxando e ganhando textos mais cômicos, mais voltados à brincadeiras", explica. "As marchinhas surgiram no início do carnaval, festa popular universal, desde o tempo de Baco e Dionísio. No Brasil, Chiquinha Gonzaga foi uma das pioneiras, que fez 'Ô Abre Alas', no século XIX. Pegou mais força no início do século XX, com auge entre os anos 30 e 50. Começou a ter conotação de crítica política, algumas mais ingênuas e outras mais sérias, e, hoje, algumas marchinhas ganharam interpretações politicamente corretas, como 'O Teu Cabelo Não Nega', de Lamatine Babo. As marchinhas fazem sucesso por causa das letras de rima curta e fácil, versos simples e cômicos, que viraram 'chiclete'. As marchinhas eram pra divertir, tirar sarro".

Por volta dos anos 50, ele descreve que as marchinhas "saíram de moda" com o surgimento das escolas de samba, que cresceram em popularidade e passaram a dominar com o samba-enredo, tendo como auge os anos 60 a 80. "A marchinha caiu em desuso, apesar de não ter morrido, mas sempre foi saudada. As marchinhas que ainda são cantadas nos bailes são as tradicionais, como Roberto Kelly, Lamartine Babo, Braguinha e a Chiquinha. Isso são fenômenos da música brasileira. Resistiram os clássicos, que são sempre revividos em todos os carnavais. Afora isso, são as músicas do momento, sucessos relâmpago. Ainda hoje, existe concurso de marchinha da prefeitura do Rio de Janeiro, mas (as marchinhas inéditas) não 'pegam'", aponta.

Bloco

Desde 2014, Epaminondas Gustavo comanda o bloco carnavalesco "Atrás dos sem Aquele", que arrasta brincantes todos os anos pelas ruas de Belém ao som da fanfarra da orquestra do Boi de Máscaras Vaca Velha, de São Caetano de Odivelas, que desfila acompanhada dos personagens cabeçudos e pierrots. A cada ano, o evento adota um tema social com uma marchinha autoral e inédita. O tema deste ano é a reciclagem e o aproveitamento do lixo. "Pega dois bardi (baldes) e vem. Vamo limpá, vamo limpá toda Belém", diz o refrão. O bloco ganha as ruas no próximo dia 2 de fevereiro, com concentração às 16 horas, em frente ao Bar Municipal (Rua Municipalidade, 1643, Umarizal).

Entidades de reciclagem foram convidadas para atuar na conscientização junto ao público durante a passagem do bloco. A letra da marchinha deste ano é assinada por Rendeiro e a juíza do Trabalho, Vanilza Malcher, e a melodia, por Rendeiro e o músico Adilson Alcântara. Mas o "Atrás do sem Aquele" só ganhou ganhou marchinhas autorais e inéditas a partir de 2017, quando abordou o tema do combate ao trabalho infantil. No ano seguinte, a temática foi o aleitamento materno. E, no ano passado, o combate à violência doméstica. A primeira edição, em 2014, foi embalada por uma paródia da marchinha "Jardineira", de Orlando Silva . Em 2015 e 2016, o bloco deixou de sair devido ao falecimento da promotora de justiça Symone Morhy, uma das idealizadoras do evento.

"O bloco canta todas as marchinhas com a fanfarra da orquestra do Boi de Máscaras. Não tem trio. O bloco não tem fins lucrativos, a venda de abadás é para custear as despesas do bloco. Em anos anteriores, destinamos recursos para o projeto de aleitamento materno da Santa Casa de Misericórdia do Pará e ongs de atendimento a vítimas de violência doméstica", declara Rendeiro. Este ano, será a conscientização pela coleta seletiva de lixo e reaproveitamento uso consciente dos resíduos. A musa do bloco será a promotora de justiça Ana Maria Magalhães, q atua nessa área. A Associação Amigos de Belém, que trabalha com coleta seletiva, vai estar no bloco trabalhando a conscientização junto ao público, e estamos chamando outras entidades, como a Cooperativa Reciclando Lixo Transformando Vida, de egressos do Sistema Penitenciário".

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