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Exu do carnaval: conheça a arte de Demerson D'alvaro, que brilhou na Acadêmicos da Grande Rio

Passarelas e palco, a trajetória do artista que se tornou campeão do Carnaval de 2022 é de resistência e talento.

Bruna Dias
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Demerson D'alvaro interpretou Exu na Acadêmicos da Grande Rio, escola campeã do Carnaval 2022. Depois disso, “seus caminhos se abriram”, vieram mais trabalhos e premiações. No Instagram são quase 100 mil seguidores acompanhando de perto o sucesso deste artista cheio de talento e representatividade.

O O Liberal bateu um papo com o ator Demerson D'alvaro. Confira:

O ano de 2022 foi bem movimentado para você. A sua interpretação de Exu abriu espaço para conhecimento. Como tu avalias o ‘pós Exu’ para a sociedade, para que pudessem conhecer o orixá? Como foi fazer parte dessa desmistificação de Exu?

D: Para mim foi maravilhoso, ele abriu várias portas na minha carreira e poder contribuir com essa desmistificação de Exu, como um homem negro nessa sociedade, é muito importante. Sobre intolerância religiosa, ocorreram muito poucas, a cada mil mensagens, uma ou outra pessoa questiona algumas coisas, mas o importante, é que quem não conhecia o orixá, ao me encontrar na rua ou até na rede social, fala comigo e fica conhecendo Exu através do meu trabalho, pessoas que falavam que tinham medo do orixá, procuraram saber quem realmente era, me agradecem por eu ter apresentado. As pessoas perceberam que Exu não é o mal, não é o diabo, como é pintado, desde quando a primeira caravela portuguesa chegou no Brasil trazendo os negros escravizados, ninguém veio da África para o Brasil para passar férias, eram pessoas negras africanas escravizadas com a sua religião, e sua crença.

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A sua interpretação ajudou na conquista do título da Grande Rio e com nota máxima para a comissão de frente. O resultado de um trabalho longo, que começou bem antes. Como você vê essa conquista? Como foi o processo de dar vida a Exu com tanta perfeição?

D: Foi maravilhoso ser campeão com a Grande Rio. Sou um grãozinho de areia no meio e desse oceano, que é a escola de samba. Muito antes de estar aqui, já tinha escola de samba, já tinha Exu. Ser campeão com uma escola que nunca tinha sido campeã... não sei nem como descrever! Ainda falo que a ‘minha ficha não caiu’. Dar alegria ao povo de Caxias, ser imagem, é um prazer, só posso agradecer, não tem mais o que fazer. O personagem começou a ser construído em 13 de junho de 2020, até ir para a avenida foi muito tempo, muito estudo, muita leitura, muita pesquisa de campo. Eu perguntava ao Babá (sacerdote responsável pelo templo) várias dúvidas. Como não tenho incorporação, surgiam alguns questionamentos. Conversava também com amigos, que são filhos de Exu, e com o carnavalesco, para encontrar esse lugar. Ainda não tenho noção desse personagem que eu fiz, para mim foi um trabalho árduo de ator, que foi muito prazeroso, diante de tanta repercussão e só agradecer aos orixás e a Exu, que me permitiram.

Com Exu muitas pessoas começaram a conhecer o trabalho de Demerson D'alvaro como artista. Como foi esse ano pós campeão do Carnaval?

D: Eu fiz três trabalhos com a Globoplay. Um já lançou, o ‘Encantado's’, está bem legal minha participação. Também tem ‘A Divisão’, vai sair esse ano, e ‘O Jogo que Mudou a História’, que faço um personagem bem antagônico com o protagonista, o nome dele é Jacinto, um jogador de futebol, por isso me senti em casa. Agradeço ao José Júnior pelo apoio, por abrir essa porta, além disso eu fiz um filme, a previsão para estrear é depois de julho, tem também outros trabalhos, como desfiles. Para mim está sendo um prazer poder mostrar a minha arte para além do Carnaval, tudo se abriu depois dele. Eu sou do Carnaval desde a barriga da minha mãe, estar podendo acessar esses lugares, através do Carnaval é lindo.

No SPFW você mostrou o seu lado modelo. Qual a importância de estar na passarela? Como você vê a importância de estar ocupando diversos lugares através da arte?

D: O convite foi um sonho que eu jamais imaginaria, porque sair do Carnaval para o São Paulo Fashion Week é uma coisa inimaginável. Recebi um convite após o Baile da Vogue. Eu já era modelo de longa data, já tinha desfilado no Fashion Rio e em outros lugares do Rio e também fora Brasil, como Espanha e Portugal. Foi maravilhoso poder desfilar para Meninos Rei, que são dois queridos baianos. Uma marca super dentro do que eu acredito, do gosto, que fala sobre religiosidade, sobre nós negros.

És uma voz bem ativa quando falamos de cor, arte, lutas... Na sua opinião, qual a importância da representatividade e dar vozes a temas sociais?

D: Fico muito feliz em saber que eu sou uma voz ativa. É muito importante a representatividade, desde casa já vivo isso. Na minha família existe uma diversidade religiosa muito normal. Minha mãe é evangélica, minha esposa é candomblecista, minha vó é umbandista, tem uma prima que é mãe de santo e outra budista, um tio e meu afilhado, são Testemunhas de Jeová, então cada um tem sua religião, porém todos se amam. Juntos não temos nenhum tipo de briga ou atrito por conta de religião, nos respeitamos. Toda essa representatividade não vem de hoje, é o conhecimento da tataravó, que faleceu com 103 anos. Ela nasceu escrava, e por mais que falem de da liberdade, da abolição, esquece... a história ensinada na escola não é a que foi vivida, isso eu escutava da boca dela. É muito complicado falar no lugar do negro hoje na sociedade, falar de toda essa representatividade, que precisa ser além do Carnaval, mas em todas as áreas da sociedade. Falar d representatividade da mulher, dos corpos trans. Eu tive vários trabalhos também com palestras dentro da universidade, dentro de escolas municipais e também em um banco muito conhecido internacionalmente. Falar nesse lugar de homem negro, que é resistência para mim, é uma satisfação muito grata. Pretendo ter essa voz, ganhar muito outros espaços e sempre que estiver falando será neste lugar, de homem negro que entende sua origem, da onde veio e sabe para onde quer ir.

 

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