'Árvores que tocam' estreia no Festival de Ópera do Theatro da Paz

Em uma espécie de transe, o percussionista Thiago D'Albuquerque abre o teatro musical "Árvores que Tocam". Ele reproduz com instrumentos, tecnologia e com o próprio corpo, os sons do amanhecer em um mangue. Foi observando os sons da floresta que Thiago teve a ideia de compor o espetáculo, que será apresentado pela primeira vez no Theatro da Paz, na terça-feira, 12, às 20h, como parte da programação do XVIII Festival de Ópera do Theatro da Paz.

Thiago nasceu em uma família de músicos e, aos cinco anos, já tocava. Entrou para o Conservatório Carlos Gomes aos seis anos e por ouvir muita música afro, desde pequeno já conseguia reproduzir os sons dos tambores. Um dia, estava no Conservatório e ouviu um coral ensaiando. Intrigado o menino perguntou ao professor, que música era aquela e ele lhe respondeu: 'Floresta do Amazonas, de Heitor Villa-Lobos'.

"Aquela música não saiu da minha cabeça e marcou a minha história musical desde criança. Eu comecei a ouvir muito Villa-Lobos, tanto que ele é uma das maiores referências desse trabalho, assim como outros compositores amazônidas, como Tinoco Costa e Luiz Pardal", e continuou. "Minha modesta ideia era fazer um trabalho que misturasse esse erudito com o popular e que pudesse dar prosseguimento ao que Heitor Villa-Lobos fez e deixou pra gente", relata.

A obra reúne percussão, canto e dança e é marcada pela mistura de instrumentos populares e eruditos, como carimbós, maracas, caxixis, marimbas, xilofones e tímpanos, com a incursão de recursos tecnológicos. O objetivo do espetáculo é levar ao público a sensação de estar no meio da mata ouvindo os sons dos pássaros, da chuva, dos rios, as folhas caindo, o vento nas árvores e sentindo o ritmo da sonoridade amazônica.

Composto especialmente para o Grupo de Percussão da Escola de Música da Universidade Federal do Pará (Emufpa), o espetáculo tem direção cênica e musical do maestro Vanildo Monteiro, participação da soprano Ione Carvalho, do coral da UFPA e da Companhia de Dança Ana Unger.

Segundo o maestro Vanildo Monteiro, de início "Árvores que Tocam" seria apenas a peça do recital de formatura de Thiago, quando concluiu o curso de música pela Escola de Música da Universidade Federal do Pará (Emufpa). Porém, o trabalho cresceu, criou corpo e com o convite para participar do XVIII Festival de Ópera do Theatro da Paz, se transformou em um Theatro Musical.

"O espetáculo é dividido em três partes. Na primeira parte, 'Da correnteza do rio', o público é estimulado a perceber algumas das múltiplas sonoridades que compõem a natureza e o cotidiano amazônico. Na segunda, chamada 'No meio da mata', o foco é a performance dos tambores e ritmos amazônicos que são vividos, sentidos e tocados nos barracões e no meio da mata - é uma releitura da rítmica de algumas práticas musicais paraenses. E na terceira e última parte, 'Ecos da Floresta', o espectador é instigado - por meio dos toques, sons e vozes - a refletir acerca da necessidade de preservar a natureza e a cultura amazônica. Se a floresta for destruída, perderemos a matéria-prima para a confecção dos instrumentos, não teremos mais as sementes para fazer os chocalhos. Não só a 'vida' morre, morre o som e o som é vida".

Durante o espetáculo não há nenhuma fala, toda a percepção do público é sensorial. Ana Unger, diretora cênica do espetáculo, explica que todo o elenco foi dividido por personagens. Os bailarinos, por exemplo, representam os Tocantes, seres que levam a emoção ao coração de cada um, através dos movimentos. "Juntamos o elenco e fizemos alguns laboratórios e oficinas de preparação corporal e técnicas de respiração para que todos respirassem e usassem o corpo em unidade. Tivemos alguns desafios, um deles diz respeito aos músicos, que na maioria das vezes estão mais preocupados com a técnica musical, e desta vez receberam a tarefa de atuarem também", afirmou.

Para a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, "Árvores que tocam" é uma experiência sensorial única a ser vivida por todos. "Thiago é uma grata surpresa. Um jovem com a sensibilidade de observar profundamente a importância de preservarmos e valorizarmos a nossa floresta, não só por meio de preocupação ambiental, mas misturando isso aos nossos fazeres, à nossa cultura ancestral, que é rítmica. O nosso Festival de Ópera cresce junto com essa ideia de que tem sentido de urgência preservar o que é nosso e também de nos incluirmos nessa simbiose que funde cultura e meio ambiente", finaliza a secretária.

Agende-se:

O XVIII Festival de Ópera do Theatro da Paz, apresenta o teatro musical "Árvores que tocam”, de Thiago D'Albuquerque
Local: Theatro da Paz
Data: terça-feira, 12, às 20h
Ingressos: bilheteria do Theatro da Paz e neste link
Informações pelo telefone (91) 4009-8758