Flipa celebra a obra de Ruy Barata neste final de semana

O poeta, compositor, advogado e político faria 100 anos em junho de 2020 e ganha homenagem antecipada da iniciativa que visa valorizar escritores paraenses e suas produções

Bruna Lima

19.10.19 9h24

Ruy Paranatinga Barata completaria 100 anos em 2020 (Divulgação)

Há seis anos que o terceiro final de semana do mês de outubro vem sendo reservado para o encontro de escritores, leitores e amantes da literatura produzida no estado do Pará. A Feira Literária do Pará, Flipa, tem como patrono este ano o poeta, compositor, advogado e político Ruy Guilherme Paranatinga Barata. A programação começa neste sábado e vai até o domingo, com bate-papo e troca entre autores e leitores.

O primeiro dia da feira é reservado ao patrono Ruy Barata, conhecido nacionalmente por suas letras em canções gravadas por Fafá de Belém e outros intérpretes e pelos livros de poemas. Em 2020, o poeta e compositor completaria 100 anos de idade e, diante disso, os organizadores da Flipa, iniciativa independente criada para chamar a atenção não somente para os livros, mas para toda obra produzida no estado, decidiram começar as homenagens pelo centenário do poeta.

Ruy Barata era um homem multi e, pensando nessas suas várias facetas, a feira organizou um dia de bate-papo para falar do lado escritor, compositor, político e boêmio. A versão escritor ficará por conta de Tito Barata, que é jornalista e filho do poeta. Ele vai dividir com o público informações sobre as produções literárias de seu pai, que o tornaram imortal.

"A Flipa é um evento de resistência da literatura feita no Pará, e Ruy, por certo, gostaria muito dessa homenagem. Ele, que partiu cedo rumo às estrelas, também é um dos nossos símbolos de resistência. Por isso, vez por outra, as estrelas o trazem de volta para iluminar as ideias e os debates. Isso se chama imortalidade", declara Tito.

O lado compositor ficará por conta da cantora paraense Fafá de Belém, que vai contar um pouco sobre o contato e as experiências trocadas com Ruy Barata. A artista viveu o sucesso com a canção "Foi assim", letra de Ruy em parceria com o filho Paulo André Barata. Já a versão boêmia virá do relato do jornalista Edgar Augusto Proença que vai contar curiosidades e andanças de Ruy pela noite de Belém.

Já o lado político do patrono da Flipa caberá a Alfredo Oliveira e Salomão Larêdo, que é um dos organizadores da feira. Eles vão fazer um apanhado da atuação de Ruy na política do estado. "Ruy Barata foi um homem muito atuante em diversos mundos. Por isso fizemos essa divisão, pois temos muito o que falar dele", ressalta Salomão Larêdo. A programação começa 10h e vai até às 19h.

O segundo dia da feira tem uma programação mais diversificada e continua com as homenagens. Às 10h, o Grupo Teatro de Apartamento faz uma leitura dramática em homenagem ao escritor Walcyr Monteiro. Às 11h, tem um bate-papo sobre o tema "A importância da Literatura Juvenil na Formação dos Leitores", com Roberta Spindler e Giuliana Murakami que terá mediação de Fernanda Karen.

Pela parte da tarde. às 16h, a feira homenageará o jornalista Bernardino Santos. O filho dele, Leonardo Santos, e Ernane Malato vão falar um pouco da trajetória de 80 anos da vida do colunista. E no encerramento as mulheres escritoras tomam conta do espaço falando sobre as personagens femininas marcantes na literatura universal. E quem vai falar sobre o assunto é Bruna Guerreiro e Amanda Pinheiro com mediação de Lorena Ribeiro.

Iniciativa independente

Os escritores paraenses Salomão Larêdo e Edyr Augusto Proença integram a comissão de organização da Flipa, que ainda tem Filipe Larêdo, que representa a Editora Empíreo, e Deborah Miranda, a Livraria Fox. Eles realizam esse trabalho independente com a intenção de chamar a atenção do público, não somente para os livros, mas para toda a literatura produzida no Estado.

Edyr Augusto explica que a iniciativa luta por espaço e maior visibilidade dos autores paraense, uma vez que os escritores encontram dificuldade de colocar suas obras para o conhecimento do público. "A Flipa, além de uma proposta de encontro e troca, é uma maneira de colocar os escritores de todo o Estado em evidência e saber que aqui há muita produção", explica o escritor.

Outro ponto alto do evento é desmistificar a impressão falsa de que o Pará produz apenas temas folclóricos e lendários. Débora Martins faz questão de ressaltar que a produção de escritos no estado é ampla e diversificada. "Aqui falamos da Amazônia, de moda, gastronomia, entre outros assuntos, sendo ficção ou não. E a Flipa é mais um espaço e oportunidade de mostrar o nosso amplo universo de criação", pontua a organizadora.

Ruy Barata - Santareno de alma universal

Ruy Guilherme Paranatinga Barata completaria 100 anos em junho de 2020. Nasceu em Santarém e foi alfabetizado pelo próprio pai, Alarico de Barros Barata, que também era advogado. Aos dez anos veio para Belém, onde deu continuidade aos estudos nos colégios Moderno e Marista. Em 1938. entrou para a Faculdade de Direito do Pará e em meio aos estudos sentiu aumentar o amor pela poesia.

Em 1941, casou com Norma Soares Barata, com quem teve sete filhos: Maria Diva, Rui Antônio, Paulo André Barata (parceiro constante em várias canções, entre elas, as mais famosas, "Foi assim" e "Pauapixuna"), Maria Helena, Maria de Nazaré, Maria Inez e Cristóvão Jaques (Tito).

Em 1943, publicou seu primeiro livro de poemas "Anjo dos Abismos" com apoio de Dalcídio Jurandir. Nessa época, o pai de Ruy exercia liderança política na região do Baixo Amazonas , o que influenciou o jovem Ruy, aos 26 anos, a entrar para a política, sendo eleito deputado estadual. Foi reeleito em 1950 e, no ano seguinte, publicou o livro "A Linha Imaginária".

Ruy Barata morreu em 23 de abril de 1990 durante uma cirurgia, em São Paulo, para onde viajou a fim de coletar dados sobre a passagem de Mário de Andrade pela Amazônia. Pouco depois de sua morte foi lançada a segunda edição do livro Paranatinga.