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Editais de emergência na música movimentam cadeia produtiva e mostram horizonte promissor

Com Lei Aldir Blanc, setor trabalha a todo vapor com promessa de lançamentos por todo o Estado

Lucas Costa
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Não é novidade que a pandemia de coronavírus derrubou os artistas de diversas expressões, que ficaram desamparados por pelo menos seis meses até a criação dos auxílios que vieram por meio da Lei Aldir Blanc de apoio à cultura. Alguns meses depois, o setor mostra não apenas sinais de reabilitação, mas dá exemplos de como investimentos em cultura refletem também no movimento de uma grande cadeia de profissionais.

No Pará, o setor da música vive um momento de injeção de ânimo descrito por produtores como algo “nunca antes visto”. Somente a Psica Produções trabalha atualmente com projetos de cerca de 30 artistas, grande parte deles aprovados em editais da Lei Aldir Blanc no Pará.

Jeft Dias, um dos criadores do Psica, diz que o momento se dá por uma série de fatores, principalmente pelas condições criadas pelo Estado com os editais de incentivo. Mas também destaca o papel de produtoras engajadas com artistas periféricos, que enfrentam maior dificuldade quanto aos processos de captação de recursos ou inscrições em editais.

“São vários fatores até chegar nesse momento que estamos vivendo agora, de vários lançamentos, acho que nosso estado nunca viu isso. Quando a gente viu a oportunidade da Lei Aldir entrando, nos preparamos para ela e pensamos ‘vamos aprovar o máximo de artistas periféricos possíveis’, porque a gente acredita que o futuro da cultura nortista paraense, amazônica, está nas periferias. Tudo o que a gente já produziu aqui, desde a lambada ao carimbó, tudo é periférico. Então a gente acredita que o correto é investir dentro da periferia. Então o aporte é positivo, vai deixar um legado bem grande, e estamos fazendo de uma forma que a galera consiga entender a importância de se investir bem no trabalho”, explica Jeft, que encabeça a Psica Produções ao lado do irmão Gerson Junior.

O legado deixado pelo momento de injeção de recursos da Aldir Blanc, segundo Jeft, vai ainda além de se ter um grande volume de lançamentos no Estado, refletindo também no movimento de uma cadeia produtiva que inclui profissionais de diversas áreas, conectadas com tal produção. “Com R$ 10 mil para fazer um EP, quem trabalha no underground há muito tempo consegue entregar um com menos que isso, mas ele vai fazer coisas pedindo favor, alguém vai trabalhar de graça, e o trabalho não vai ter o alcance na imprensa que teria caso estivesse pagando alguém para fazer assessoria. Então quando a Psica entra nesse negócio e mostra a cadeia produtiva por trás de um trabalho desse, a importância que tem de remunerar cada um desses, os artistas vão vendo o resultado”, destaca.

Do independente ao movimento de mercado

É difícil estimar a quantidade de artistas e grupos independentes em atividade no Pará atualmente, cena que costuma produzir seus trabalhos com pouco recurso. Com os incentivos da Lei Aldir Blanc, artistas que nunca antes tiveram acesso a dinheiro de editais ou recursos, podem agora não só desenvolver trabalhos sem aperto, mas envolver mais profissionais neste processo.

Um destes exemplos é a banda Lui, de Marabá, que trabalha no lançamento de seu primeiro álbum com o valor recebido por meio da lei. O duo formado por Letícia Portela (voz e baixo) e Mário Serrano (guitarra) tem uma sonoridade marcada por influências do pós-punk, emocore e dreampop, mesclados a elementos da música eletrônica. Em 2020, o duo lançou três singles, além de um videoclipe. 

Trabalhando atualmente no álbum, Letícia diz que o processo tem sido diferente do que o duo fez até agora. “Está sendo muito legal porque a Lui sempre foi uma banda totalmente independente. O meu parceiro de banda é produtor, e a gente sempre gravou, mixou, masterizou e distribuiu nossas músicas sozinhos. Eu também sempre cuidei da identidade visual, por ser designer e ilustradora”, conta ela.

“Então tudo sempre foi no se vira nos 30, e a gente fazendo. O que está sendo muito legal com o incentivo é que estamos vendo muito artista como a gente poder bancar um projeto com cara de banda grande, conseguindo ter capital para ter uma equipe que vai descentralizar alguns serviços, o que às vezes a gente fazia sozinho por falta de opção mesmo. Está sendo muito legal ver tanta banda fora do eixo da capital conseguindo lançar projetos e ter mais visibilidade, porque a gente sabe que no nosso estado, a capital meio que domina a maioria das bandas que estão no mainstream”, destaca Letícia.

Os incentivos também representaram uma mudança na produção do trabalho de Reiner, músico de Belém. Com os R$ 10 mil do edital Aldir Blanc ele pretendia lançar um álbum de oito faixas, mas optou por trabalhar em um EP de quatro faixas, para que pudesse bancar não apenas as gravações, mas serviços como assessoria de imprensa e fotografia, além de envolver mais músicos em suas gravações. 

“Eu escolhi seguir nesse caminho eletrônico psicodélico, indie, porque era muito mais barato gravar na minha casa, fazer beats eletrônicos e fazer as coisas mais interessantes com sample. São coisas que eu gosto de fazer, mas que vesti a camisa porque era muito mais barato e viável para mim[...]. Com a Aldir, esse processo foi somado, essas minhas gravações se tornaram guia para o que a gente queria fazer dentro do estúdio. Uma coisa que mudou totalmente o meu trabalho foi a gravação de bateria, tocada pelo Junhão, um baterista que me acompanha a bastante tempo, o Márcio Jardim tocando bateria, e também com a produção do Leo Chermont, que divide a produção comigo. Foi algo que mudou muito a produção da parada, meu trabalho era muito unilateral, só tinha eu ali tocando, às vezes uma participação cantando; mas com essas pessoas meu trabalho criou outro significado, vieram outras cores, deixou de ser unilateral. Mai gente vestindo a camisa para fazer um trabalho legal”, conta ele.

Reiner também é seu próprio produtor executivo, e fala ainda do que conseguiu até agora com o incentivo. “Tem sido bem de boa gerir toda essa parada com essa grana que eu nunca tive disponível para fazer, eu ganhei R$ 10 mil para fazer um EP de 4 faixas. A gente já conseguiu muita coisa que eu nunca iria conseguir se não tivesse participado, se não fosse contemplado pela Aldir Blanc. Acho que a lei veio em um momento crucial para a Cultura”, diz.

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