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Drag, o quê? Mães Drags da cena paraense

Série 'Famílias Drags', neste Dia das Mães conheçam quem são as 'Mães' Drags da cena paraense

Ellen Moon D'arc
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Dentro da comunidade LGBTQIAP+ e da cena Drag não só paraense, mas mundial, há um conceito chamado de "Famílias" ou "Famílias Drags", que seria a união desses indivíduos/performers a partir dos laços de afeto, que independem da consanguinidade. Para falar das famílias, a coluna dá início a uma série de três reportagens com os temas "Mãe", "Haus" e "Ball", elementos que também compõe o universo diverso dessas famílias. Neste Dia das Mães, conheçam quem são as mães Drags da cena paraense.

Nem todas as pessoas LGBTQIAP+ têm acolhimento na sua família núcleo, e por vezes são expulsos de casa e amparados por outras pessoas dentro do movimento, tornando-se uma nova família, dividindo o mesmo teto e afinidades. O documentário “Paris is Burning” retrata essas "Drag Balls" e apresenta as Haus (casas ou famílias) mais famosas da

época, no contexto norteamericano. A figura da "Mãe", "Mother" ou "Mama" da casa é destacada. O pesquisador Juliano Bentes que também performa o Skyyssime destaca em seu livro que essas relações: "assemelhavam-se a uma relação de família, onde havia uma mãe que era responsável por ensinar e guiar seus filhos. Esses ensinamentos eram repassados e o ingresso na Haus dava-se por afinidade ou solidariedade".

image Xirley Tão e sua mãe Zezé. (Reprodução / Divulgação)

Mãe de muitas filhas

Em Belém, há mães Drags conhecidas, à exemplo de Coytada mother da Haus Of Carão, Shayra Brotero, mother da Haus of Maguariudry, Pandora Rivera Raia, mama da Haus of Ver-A-Queen; mãe Gigi Híbrida, da Haus of Híbrida, Monique Lafon, mãe da Haus of Lafon, além da mama Xirley Tão, Haus of Tão e mãe de muitas filhas, como a própria diz. Xirley Tão é performada pelo professor e biólogo Adriano Penha Furtado, 45 anos, que já se monta há mais de 10 anos. Conta que a sua mãe biológica é uma referência. Quando se tornou Mãe Drag e passou a viver a cena local, entendeu que esses laços por escolha eram fortes. "Minha mãe biológica é uma referência. Ela ainda costura minhas roupas. Meu marido sempre ajuda em tudo nas minhas coisas e das minhas filhas.. Sou mãe de Flores Astrais, Dangela do Curió, Jamburana Tão Tremida e mais um monte pelo mundo. Tenho Filha em Moçambique: Maçaniqueira", iniciou.

"Eu me montei e já fui mãe na mesma hora. No dia que fui pra rua em Belém, faz mais de 10 anos, encontrei um ser humano que me disse: 'gostei disso, quero ser isso, quero ser tua filha e meu nome é Flores Astrais'... e assim nasceu a primeira. Flores pariu um monte que pariram outras tantas. Já faz tempo que no rolê me chamam de vó, bisa, tatara... tem gente que nem sei quem é e que vem falar comigo falando que é da minha casa... que seja... estará sempre aberta", completou.

O técnico de enfermagem Brendo Pinheiro é a Drag Monique Lafon. Uma curiosidade, é que antes de ser mãe da sua casa, já era filha da Gigi Híbrida, performada por Jean Negrão, figurinista, carnavalesco e produtor cultural. A sua relação com a família consanguínea é de apoio. "Começei a me montar em 2012 para apresentações artísticas na dança, não tive muito apoio da minha mãe biológica porque ela sempre trabalhou muito, mas minha avó materna sempre estava nessas apresentações. Minha avó segue até as minhas filhas nas redes sociais", disse.

Monique reflete as questões que tangenciam as pautas LGTBQIAP+ e dentro de sua família Drag quer possibilitar o acolhimento. "Na Haus of Lafon sempre abrimos diálogos sobre o que estão achando do andamento da haus e sempre os mesmo discursos aparecem: 'a falta de afeto e apoio moral e artístico está sendo suprido na haus'. Nos apoiamos muito. Como mãe eu sempre ensino a importância de ter referências locais. Me inspiro nas haus em torno da gente, mas me inspiro principalmente nas minhas filhas. Temos muitas referências e admiração pelas nossas artistas", seguiu.

image Gigi Híbrida (trajando um vestido preto) mama da Haus of Híbrida e suas filhas. (Reprodução / Divulgação)

Gigi Híbrida começou a se montar em 2002 e brinca que "muita sombra já passou por essas pálpebras". Sua mãe apoia o seu fazer artístico e participa sendo mãe também das outras Drags. "Minha mãe sempre apoiou meus fazeres artísticos, sempre foi minha incentivadora, e tivemos uma família muito unida. Minha mãe acaba sendo um pouco mãe das meninas. Tenho muita sorte de ter 5 filhas drags com total apoio de suas famílias biológicas, o que me dá um lugar de confiança ao saberem que vou dar o meu melhor para que seus filhos artistas tenham uma relação de amor e seriedade dentro da minha haus. As suas famílias sabem do quanto levo minha arte a sério e tento repassar tudo a elas o que sei e conquistei nesses anos como drag aqui em belém e pelos lugares onde passei, costumo dizer que ser mãe drag, é ser e sentir a dor e a delícia de ser uma, duas vezes", arguiu.

image Mama Pandora Rivera Raia da Haus of Ver-A-Queen. (Reprodução / Divulgação)

O comunicador Felipe Modesto ou Pandora Rivera Raia é mãe da Gabrielly Rivera Raia. Ela relembra que nunca quis o título de mãe Drag, talvez por não ser filha Drag de alguém, mas que a relação começou e se estabeleceu assim. "Era distante pra mim a ideia. Mas eu conheço a Gabi desde que ela era muito criança. Éramos beatas. Eu sou a mãe beata dela antes mesmo de ser a mãe drag (risos). Como sempre fui a referência dela, ela já me chamava de mãe antes mesmo de ser drag. E eu adotei. Nós somos muito parecidas. Muito mesmo. Parecidas nas loucuras, nas referências, no humor. Eu não poderia ter outra filha se não ela. Família drag é como dividir uma catuaba e se sentir numa ceia de natal. As drags se unem e formam haus e essas haus se unem e formam família. Que sorte a nossa!", finalizou.

Para acompanhar as mães Drags é só seguir os @xirleytao @rivepandora @hausofveraqueen @gigi.hibrida @haus_of_lafon  @haus_of_hibrida no Instagram. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja, com a produção do figurino de La Falleg Condessa. E das microempreendedoras Lenny Gusmão (Lenny Laces), que cede as laces - prótese feita fio a fio em uma tela de microtule - e da designer de unhas, Rubi Coelho que cuida dos alongamentos de unhas. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.

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