Drag, o quê? Drag King a arte de reinventar os estereótipos das masculinidades

Conheça ‘Max Chibé’ e ‘Don Pine’, Drag Kings da cena performática paraense

Ellen Moon D'arc
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O universo da performance apresenta infinitas possibilidades, pois entre o tradicional "masculino" e "feminino" há diversas montações para além do binarismo de gênero, pautadas no Queer, fluido, humano e não humano. Exagerar e brincar com essas características ditas masculinas e adicionar novos elementos, é o que fazem os Drag Kings. Na cena paraense alguns nomes se destacam, como de "Max Chibé" e "Don Pine". Internacionalmente artistas já apresentaram seus alter egos performando a masculinidade, a exemplo de Lady Gaga com Jo Calderone.

Se antes os Drag Kings eram performados por mulheres cisgênero e as Drag Queens eram retratadas por homens cis, esta informação é ultrapassada e o conceito precisa ser atualizado ao público leitor. Hoje as pessoas, independente de seus gêneros, utilizam as artes performáticas e modificam seus corpos com um propósito de comunicar. Então, pessoas cisgêneras e transgêneras, não bináries e fluidas podem performar as várias categorias de Drags que existem ou que ainda irão surgir.

O professor de arte da rede municipal de Belém e do Estado, Chrissie Santos de Lima, é um homem transmasculino não-binarie que dá vida ao Drag King "Max Chibé". Seu processo começou na graduação de Teatro na UFPA em 2009, tanto a descoberta do amor pela performance, quanto da sua identidade de gênero. Mas levou 10 anos para entender que ele poderia ser um King. "Tive contato com colegas que começaram a fazer drag Queen, o movimento das Themonias começou a tomar força, mas eu fiquei de fora por achar que mulheres não podiam se montar e outras negatividades que me falavam, porque na época me entendia enquanto mulher cis. Veio a pandemia, o clima claustrofóbico e de ansiedade somou-se com outros anseios artísticos que eu almejava, um deles foi de fazer drag, então decidi que era o momento de me montar", relembrou.

"A priori como drag Queen, mas na mesma época eu tive contato com o concurso 'King of kings online', organizado pela produtora 'Plasticine Produções' tendo como porta voz principal Viviane de Paoli que vive o Drag King 'Lorde Lazarus', e foi aí que tomei a existência dos Drag Kings e decidi que queria me montar como Drag King", completou.

Seu King tem apelo regional e ele o percebe como uma extensão de si mesmo. O nome é uma referência a seu pai, que se chama Max e o "Chibé", é devido ao chiado do sotaque regional e por ser um alimento popular, diz. "Combinados os dois eu percebo que ficou com um tom meio brega, assim como o meu Drag que é essencialmente meio brega. [...] Eu vejo o Drag king como uma extensão de si, um prolongamento, uma desconstrução principalmente de masculinidade. Não se trata de representar esteriotipos de masculinidade hétero cis-normativa, mas sim de desconstrui-las", disse.

"Meu drag é um corpo sensível que chora, possui gestualidade ora delicada, ora não, é o cavalheiro, mas também é a dama. Perceber essa desconstrução me fez perceber meu próprio processo de transição de gênero. Muito embora o movimento das Themônias já faça isso muito bem, percebo o peso que têm tratar meu fazer Drag como um King, pois o olhar já muda. A sociedade tende a ter uma ideia pré-concebida do que é masculino, assim como parece absurda a ideia de uma drag Queen barbuda pela concepção de feminilidade que as pessoas tem, então eu enxergo o fazer Drag king como um ato político e social também", concluiu.

Questionado sobre a principal mensagem e bandeira que levanta, enquanto Drag King, Max Chibé destacou suas vivências e também a utilização da tecnologia. "São universais como a própria marginalização de corpos dissidentes. Além disso, sempre assumi que a tecnologia é uma ferramenta que o ser humano precisa aprender a utilizar, senão se torna destrutiva. Relaciono à nossa regionalidade amazônida, irreverência malandra às vezes. Max Chibé proporciona ao público um 'olhar para si mesmo'. Eu precisei e preciso fazer isso quando me monto, além da existência dele ser um protesto, sensibilização para tudo isso dito anteriormente que me afeta, e nos afeta", finalizou.

image Cedric Ramos é tradutor líder de língua francesa e performa o Drag King "Don Pine" ou "Príncipe Negro". (Reprodução / Arquivo pessoal)

O Primeiro Drag King da cena contemporânea belenense

Cedric Ramos, 28 anos, é tradutor líder de língua francesa, em uma mineradora no Pará. Ele performa o Drag King "Don Pine" ou "Príncipe Negro" e conta que o nome é inspirado na música "Príncipe Negro", da banda Fruto Sensual e foi por meio dos amigos do Coletivo NoiteSuja que começou a se montar; com a Condessa e Tristan Soledade que descobriu a arte Drag e suas montações. Max Chibé destacou que Don Pine foi o precursor da cena Drag King contemporânea de Belém.

Falante da língua francesa desde os 13 anos, leva os elementos da língua para a sua performance, assim como o "Donjuanismo", já que Príncipe Negro é um Don Juan, um galanteador. "Meu nome é Príncipe Negro veio a partir da música do Fruto Sensual. E aí fica o Dom Pine, porque 'Dom', porque eu sou um 'Don Juan' e como falo e trabalho com língua francesa, falo francês há muito tempo, todo mundo que me conhece sabe que tem o francês na minha vida, eu falo francês desde os 13 anos - e eu tenho vinte e 28 agora -, então puxa um pouco do 'Donjuanismo', do galanteio. É por isso que é o Dom Pine, que é um Dom Juan", declarou.

Don Pine reforça que é importante que as pessoas saibam sobre a arte Drag e que esta pode ser feita por mulheres, por homens, por pessoas que performam. "A arte Drag King existe, é possível, é um momento de liberdade, de expressão. Quando a gente faz um Drag King a gente performa uma masculinidade e aí a gente tem oportunidade de mostrar que tipo de masculinidade você quer que exista, por meio também da arte evidentemente", arguiu

"Mostrar que é possível ter a figura masculina fazendo arte, maquiando, fazendo dança e que isso não nos torna menos homens ou fracos. E para além disso, a arte não é exclusiva de homens. Ela pode ser feita por mulheres. Normalmente muitas mulheres fazem a arte Drag King, mas pode ser feito por homens ou mulheres, pessoas, o importante mesmo é que você queira se expressar", argumentou.

 

Drag Kings para conhecer

 

1. Max Chibé

 

2. Don Pine

 

3. Lorde Lazzarus

 

4. Hinácio King

 

5. Kaô

 

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