Dia da Mulher Negra: artistas paraenses pretas comemoram o 25 de julho
Data nasceu a partir de um encontro na República Dominicana e destaca o protagonismo feminino contra as opressões de gênero e raça

O dia 25 de julho se configura como um marco para as mulheres negras. A data celebra o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha; o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra; e, em Belém, ganha ainda mais força com o Dia Municipal da Mulher Negra "Tereza de Benguela", instituído pela lei nº 10.060. Para artistas pretas paraenses, essas celebrações simultâneas destacam a importância de reconhecer a trajetória de resistência e a contribuição inestimável de mulheres pretas na construção social, cultural e econômica do Brasil e do mundo.
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Em âmbito internacional, a data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1992, resultando do trabalho de mulheres que se reuniram em julho daquele ano, na República Dominicana, no 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe. Naquela época, estas pessoas levaram discussões sobre os diversos problemas de suas realidades e propuseram alternativas de como resolvê-los, marcando a data como um dia de luta pelo protagonismo feminino negro em todo o planeta.
Já a referência à Tereza de Benguela se deu pela sua resistência e luta contra a escravização. Após a morte do seu companheiro José Piolho, Tereza se tornou a rainha do quilombo Quariterê e, sob sua liderança, todos ali resistiram à escravidão por duas décadas, té o ano de 1770.
O 25 de julho transcende a simples comemoração para muitas paraenses engajadas nas artes. Naíris Martins, modelo, destaca que a existência dessas datas é, além de um momento de reflexão profunda, uma forma essencial de celebrar a ancestralidade e reafirmar a própria identidade. Como mulher preta, ela acredita que é crucial lembrar da força, resistência e pluralidade das mulheres que, historicamente, foram marginalizadas e invisibilizadas.
"É uma data que reconhece a luta de mulheres que enfrentam não só o machismo, mas também o racismo, a desigualdade social e as violências estruturais presentes na nossa realidade. Essa data me toca de forma profunda e representa um espaço de memória, valorização das nossas histórias e também de articulação política. É um momento de olhar para o passado e honrar as que vieram antes de nós, mas também de pensar estratégias para transformar o presente e garantir um futuro mais justo para as próximas gerações", explica.
A voz da música e da militância se faz presente com Brena Corrêa, percussionista e integrante da banda afro Axé Dudu, um dos instrumentos de luta contra o racismo do Centro de Estudo e Defesa do Negro (CEDENPA). Para Brena, a música é um lugar de liberdade, uma ferramenta antirracista que a empoderou e que, ela acredita, pode empoderar muitas outras mulheres pretas.
"25 de julho é um dia para lembrar que precisamos ainda de mais reparações e políticas públicas eficazes para que nossas vidas sejam respeitadas. Mulheres negras fazendo o quê as deixam felizes, já uma grande referência na sociedade, pelo simples fato de resistirem ao sistema que nos mata cotidianamente. Eu estou cada vez mais me aprimorando em ensinar e deixar um legado, criando oportunidades de trocas com mulheres que sabem mais do que eu e, para as que ainda não sabem tanto, desenvolvo projetos de percussão no CEDENPA", avalia.
A arte como caminho de autodescoberta e combate ao racismo atravessa a jornada de Ingrid Gomes, artista e produtora cultural. Foi somente ao ingressar na licenciatura em Teatro pela Universidade Federal do Pará (UFPA), convivendo com outras pessoas pretas, que Ingrid começou a ter um olhar diferente sobre negritude, algo que reverberou profundamente dentro de si. Ainda estudante, ela observou que o teatro era um dispositivo poderoso para assentar um lugar de escuta, de fala, de cura e de reinvenção.
"Escolhi o teatro como arma para combater o racismo, como uma ferramenta de autocuidado, de criação de outras narrativas possíveis para nós, mulheres negras amazônidas. No espaço cênico (lugar de ser), pude afirmar minha identidade, tatear minhas histórias e confluir com outras pessoas por meio de poéticas comprometida com a vida e com a ancestralidade."
Para Ingrid, ver mulheres pretas no teatro paraense é perceber uma representatividade significativa em termos de presença: seja em cena, na direção, na iluminação ou na cenografia. Assim como Ingrid, a arte-educadora e dançarina Taynara Garcia também acredita no poder transformador da arte como política para a promoção da conscientização, seja em relação ao racismo, machismo, misoginia ou desigualdade social.
"A arte faz com que nós possamos refletir quem nós somos, quem nós somos, que a nossa ancestralidade são os que vieram antes da gente e o que nós queremos ser diante disso tudo. É importante ter mulheres negras como referência. Eu sinto que é uma retomada para um protagonismo que sempre aconteceu historicamente, porque as mulheres sempre foram porta-vozes de muitas construções artísticas e de muitas manifestações culturais. Elas foram construtoras de instrumentos, de cantorias, de danças, de muitas coisas que hoje a gente manifesta, multiplica e dá continuidade", explica.
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