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Dalcídio Jurandir fez do homem amazônico protagonista da literatura

Nascimento do escritor completou 114 anos no último dia 10 de janeiro

Vito Gemaque
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O escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909 - 1979) foi um ponto mudança da literatura amazônica. O autor do Ciclo do Extremo-Norte, que reúne dez obras, deu ao homem comum amazônico protagonismo na literatura brasileira. Dalcídio, que nascia há 114 anos, foi premiado com o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), um dos maiores reconhecimento na literatura brasileira. Natural de Cachoeira do Arari, município do Arquipélago do Marajó, próprio escritor caracterizava suas obras como feitas pela “gente mais comum” a chamada “aristocracia pé no chão”.

O professor e pesquisador da Universidade do Estado do Pará (UEPA) Elielson Figueiredo, de 48 anos, doutor e mestre em Estudos Literários pela UFPA, produziu uma dissertação dedicada às obras de Dalcídio Jurandir, especialmente ao romance Belém do Grão-Pará.

“Dalcídio deu contornos poéticos à prosa amazônica, como ninguém o fez antes dele. Nas décadas anteriores ao seu aparecimento estávamos muito presos a dois vetores básicos: ora uma idealização da vida selvagem; ora um determinismo que condicionava os personagens às violentas forças da floresta. Dalcídio coloca seu protagonista – Alfredo - em crise, no limiar da reflexão acerca da existência, mas essa atividade se dá a partir dos grandes signos da cultura: o rio e suas cheias; o misticismo popular; a gastronomia e a ancestralidade dos costumes indígenas e africanos”, explica.

image Professor Elielson Figueiredo ressalta que os personagens de Dalcídio Jurandir continuam vivos. (Divulgação / Elenilse Araújo)

As obras de Dalcídio Jurandir que por anos ficaram longe das prateleiras tem voltado paulatinamente às estantes das livrarias com a disponibilidade para novos leitores. Um desses empreendimentos que tem reeditado o Ciclo do Extremo-Norte é da editora bragantina Pará.grafo, que trabalha no sétimo livro da coleção, iniciada em 2017. A previsão é que em maio o "Passagem dos Inocentes" entre em campanha de financiamento coletivo. Os editores Dênis Girotto e o André Fernandes começaram o projeto há seis anos tem conseguido lançar novas edições das obras graças ao apoio dos leitores.

A empreitada começou quando André Fellipe Fernandes, de 32 anos, procurou o editor Dênis Girotto proprietário de uma pequena editora em Bragança, nordeste paraense. Os amigos conversaram sobre a escassez das obras de Dalcídio Jurandir, um dos mais importantes romancistas paraenses. Eles decidiram executar o projeto ousado de reeditar toda as obras de Dalcídio. Os livros já lançados e financiamento coletivo de “Passagem dos Inocentes” estará disponível no site da editora em www.e-paragrafo.com.br.

“A gente tende a começar a lendo literatura estrangeira, ou com a brasileira do nordeste ou sudeste, porque é que estudamos no ensino médio. A gente meio que pula com a nossa literatura, e acaba julgando a qualidade. Quando tive o contato com a literatura do Dalcídio, vi que era igual ou melhor do que tinha lido na vida inteira. Dá aquele misto de indignação e provocação de você querer que todo mundo leia aquilo e tenha acesso. É a nossa identidade, senti como se tivesse me descobrindo e quis que todo mundo tivesse pudesse saber e ter contato [com as obras de Dalcídio]”, relembra o editor André Fernandes.

Segundo o professor Elielson Figueiredo, o mundo dalciniano que inspirou o autor continua vivo no dia-a-dia das idiossincrasias do Estado do Pará. “Toda a galeria de personagens de Dalcídio está ao nosso redor, todos vivíssimos. Nossos ambulantes e seus pregões; os políticos e suas disputas por poder; os jovens que vêm do interior – como eu vim – para estudar na capital, entre outras figuras humanas. Ler a ficção de Dalcídio, nos prepara e educa o olhar para a compreensão dos complexos e múltiplos matizes da nossa realidade, sobretudo no que diz respeito às desigualdades sociais, ao racismo e à pretensa erudição que discrimina os saberes populares”, detalha. “Como ler Dalcídio sem pensar na musicalidade das periferias de Belém? Como passar pelo grupo escolar Barão do Rio Branco sem lembrar de Alfredo?”, indaga.

INFO – Obras da Série Extremo-Norte de Dalcídio Jurandir

Chove nos Campos de Cachoeira (1941)

Marajó (1947)

Três Casas e um Rio (1958)

Belém do Grão Pará (1960)

Passagem dos Inocentes (1963)

Primeira Manhã (1968)

Ponte do Galo (1971)

Os Habitantes (1976)

Chão dos Lobos (1976)

Ribanceira (1978)

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