Com afeto e ancestralidade, ‘Panela Histórica’ coloca Marabá no mapa do cinema internacional
Produção venceu festival na Coreia do Sul na categoria Comunidade e ODS

Reconhecendo e valorizando as culturas alimentares locais, os insumos da biodiversidade amazônica e a memória afetiva das cozinhas da cidade do sudeste paraense, o filme “Panela Histórica: Memória Gastronômica da Cidade de Marabá" foi premiado internacionalmente. A produção venceu na categoria Comunidade e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), no Festival Internacional de Cinema de Gyeonggi (SDGsFF), realizado na cidade de Pyeongtaek, na Coreia do Sul.
VEJA MAIS
Único representante brasileiro selecionado na edição deste ano, o média-metragem foi exibido ao lado de filmes da China, Estados Unidos, Colômbia e Turquia. Segundo a jornalista e produtora cultural Liane Gaby, idealizadora e presidente do Instituto Cultural Amazônia do Amanhã (ICAA), a premiação internacional representa mais do que um reconhecimento estético. "Receber esse prêmio é, sobretudo, uma celebração das minhas raízes em Marabá e da força das mulheres amazônidas que deram vida ao Panela Histórica", disse.
Ela, que é natural de Marabá, destacou que o resultado foi fruto do trabalho coletivo da equipe, do olhar sensível do diretor Junior Braga e da direção de imagem conduzida por Walda Marques, que trouxe um olhar poético para o registro das memórias alimentares.
Na produção audiovisual, a culinária marabaense é mostrada como expressão de um legado construído a partir do encontro entre culturas: povos indígenas, migrantes nordestinos, imigrantes libaneses e goianos ajudaram a moldar os sabores e os modos de vida da região.
O filme mergulha, segundo Liane, nesse universo afetivo por meio do relato de doze personagens - dez mulheres e dois homens - que participaram de oficinas de escuta e compartilharam histórias, receitas e o contexto histórico da cidade.
“O ‘Panela Histórica’ nasceu da vontade de guardar para sempre os sabores que fazem de Marabá esse verdadeiro caldeirão cultural”, afirmou. Ela explica que as oficinas permitiram documentar o saber de gerações, incluindo vivências ligadas à economia da castanha do Pará, à chegada dos libaneses e à fusão de práticas alimentares ancestrais e contemporâneas.
A fotógrafa Walda Marques, responsável pela direção de imagem, diz que seu maior desafio foi ‘traduzir em imagens o afeto que envolve a comida de família, os saberes ancestrais e a resistência das mulheres’. Ela afirma que a fotografia também é memória e que o filme é ‘feito de memórias vivas’.
Entre os relatos emocionantes que compõem o filme está o da advogada Mariza Almeida, neta do imigrante libanês Tufy Gaby. Ele chegou ao Brasil aos 12 anos e encontrou em Marabá o novo lar. Foi lá que ensinou à filha Marlene os pratos típicos da cidade de Tiro, no Líbano, cujos segredos atravessaram gerações até Mariza.
Para Liane, o impacto do filme está justamente na simplicidade e universalidade de suas histórias. “Quase todos os personagens são mulheres que, com sabedoria ancestral, preservam tradições de sustento e afeto à mesa”, diz.
A idealizadora acredita que essa combinação, aliada ao protagonismo feminino e ao alinhamento da categoria, estabelece um elo com qualquer público, seja na Ásia ou na América.
Liane também complementa que o filme traz a autenticidade de uma cidade ainda pouco retratada no audiovisual brasileiro. “A singularidade de Marabá, aliada a uma produção sensível, deve ter criado uma ponte emocional com o júri e com a plateia internacional”, avaliou.
Para ela, o projeto audiovisual é também um retrato sensorial e emocional da cidade. "O cheiro do arroz Marizabel cozinhando no almoço, a pausa no fim da tarde para um café com pamonha ou bolo mangulão, a lembrança da minha mãe me ensinando a fazer quibebe com leite de castanha. Tudo isso inspirou a criação do filme”, contou.
A idealizadora reforça que o filme reforça o compromisso do ICAA com o empoderamento feminino. “Ao transformar essas tradições familiares em um documentário, buscamos homenagear a identidade amazônica e ampliar o reconhecimento do saber ancestral de Marabá”, declarou Liane.
O filme foi realizado por meio do Lei Federal de Incentivo à Cultura e resultou também em um livro ilustrado com as histórias de vida, receitas e fotografias dos personagens retratados.Até o final do ano, o ‘Panela Histórica' seguirá em circulação por festivais e mostras nacionais e internacionais. Após essa etapa, ficará disponível gratuitamente no canal oficial do ICAA no YouTube. O público também poderá acompanhar as novidades sobre exibições, lançamentos e parcerias por meio do Instagram do projeto: @panelahistoricahttps://www.instagram.com/panelahistorica/.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA