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Artistas e produtores culturais em Belém celebram a guitarrada como manifestação da cultura nacional

Gênero musical que fala dos ritmos regionais e do jeito de viver dos amazônidas tem reconhecimento do Congresso Nacional a partir de projeto de lei que agora segue para sanção do presidente Lula

Eduardo Rocha
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Em Belém, artistas e produtores culturais comemoram a aprovação pelo Congresso Nacional do projeto de lei de autoria do deputado federal Airton Faleiro (PT-PA) que torna o gênero musical guitarrada manifestação da cultura nacional. Após ter receber aprovação da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, o projeto de lei nº 170/2023 foi aprovado, por unanimidade, nesta terça-feira (15) pela manhã na Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal. Foi uma aprovação terminativa, sem necessidade de ir a plenário, e agora o projeto de lei segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O deputado federal Airton Faleiro nasceu em Portela, no Estado do Rio Grande do Sul, mas mora no Pará desde 1978. Ele se considera um "paraúcho" e é assim que comemora a aprovação do projeto de lei nº 170/2023 de sua autoria. "A guitarrada é um gênero musical que reúne tudo o que nós temos na música regional e abre espaço para outros ritmos, ou seja, muitos ritmos, estilos vieram depois dela, como o brega pop e o calipso. Como a guitarrada é uma produção única e importante para a cultura brasileira de uma forma geral, nós apresentamos o projeto de lei que foi aprovado hoje (15)", destaca o parlamentar.

Faleiro acrescenta que a guitarrada "é um dos maiores símbolos da nossa identidade cultural". "Nasceu no Pará, ganhou o Brasil e precisa ser valorizada como patrimônio nacional”, afirmou o parlamentar. O projeto teve relatoria do senador Paulo Paim (PT/RS), que destacou o simbolismo da aprovação no contexto da COP 30, que será realizada em Belém. “O ano da COP 30, que ocorrerá no Pará, valoriza ainda mais o momento em que reconhecemos, como manifestação da cultura nacional, a guitarrada — um gênero musical, instrumental, que surgiu no Pará”, defendeu. O deputado Airton Faleiro ressalta o protagonismo dos músicos do Mestre Vieira, Pio Lobato e Aldo Sena, entre outros, na trajetória do gênero musical.

Invenção sonora brasileira 

Para o músico Félix Robatto, um dos atuais nomes da guitarrada no Pará, "a guitarrada é o gênero musical instrumental contemporâneo de guitarra mais autêntico dos últimos tempos". "Acho incompleto transformarem a Guitarrada em patrimônio da cultura nacional e não incluir o nome de Joaquim de Lima Vieira, conhecido como Mestre Vieira. A guitarrada existe porque Mestre Vieira existiu", diz Félix, que toca esse tipo de música há mais de 20 anos, a partir de pesquisa sobre Vieira. "Pio Lobato teve muita importância no retorno da valorização do gênero musical, após isso, a banda La Pupuña foi de extrema importância também, banda que fundei", completa.

image Félix Robatto: guitarrada para todos e celebração pela obra de Mestre Vieira (Foto: Divulgação)

O músico e produtor cultural Pio Lobato lembra que nos anos 1970 Mestre Vieira lançou o álbum "Lambada das Quebradas", em que adaptou ritmos diversos a sua maneira de tocar para animar bailes no interior do Pará. Eram os passos decisivos e históricos da guitarrada, gênero que, depois, passou um longo tempo esquecido, até Pio Lobato elaborar o projeto "Os Mestres de Guitarrada", que virou disco em 2004. 

image Pio Lobato: resgate da guitarrada para as novas gerações de admiradores da música instrumental (Foto: Divulgação)

"Foi um trabalho semeado na universidade pública (UFPA) e viabilizado na emissora pública (Funtelpa), essa trajetória é mais importante do que o próprio gênero musical, foi um processo de investimento público, que hoje volta como patrimônio brasileiro, acho muito bacana!", destaca Pio. Ele mantém pesquisa musical com a banda Cravo Carbono e com a diva do carimbó chamegoso, Dona Onete. Parte dessa pesquisa pode ser conferida no álbum "Tecnoguitarrada" (2007).

Para a jornalista e produtora cultural Luciana Medeiros, "esse reconhecimento da guitarrada como manifestação da cultura nacional é um passo muito importante na valorização desse gênero musical que nasceu aqui na Amazônia, com Mestre Vieira, e que representa uma verdadeira invenção sonora brasileira". "É o reconhecimento de uma linguagem própria, com identidade e história, que mistura referências do carimbó, da cúmbia, do merengue, do bolero, do choro e transforma tudo isso em algo único: a guitarrada", diz.

Luciana enfatiza: "Ver esse gênero ganhando esse lugar é também ver a música da Amazônia finalmente sendo ouvida com o respeito que merece. Por muito tempo, a guitarrada foi tratada como algo menor, regional demais, quando na verdade ela é sofisticada, popular, dançante e profundamente brasileira". 

Ela trabalhou com Mestre Vieira por 10 anos, até sua partida em 2018. Luciana atua no projeto de valorização da obra de Vieira: DVD "Mestre Vieira - 50 Anos de Guitarrada"; a série de animação "Os Dinâmicos"; o Inventário Mestre Vieira, que originou uma site e um songbook com 30 partituras; e, agora, o Baile da Guitarrada - Lab Música. Em outubro, será lançado o documentário " Coisa Maravilha – A Invenção da Guitarrada".

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