Arte Pará 2024: arte contra o preconceito vence o prêmio da 41ª edição
A artista Rafael Moreira foi a ganhadora da bolsa de residência do Arte Pará 2024
Quebra de expectativas, corpor trans e diversas lutas sociais: esses e outros temas englobam a arte vendedora do prêmio Arte Pará 2024, proporcionando um intercâmbio no Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes em Goiânia para Rafael Matheus Moreira (27), uma artista que transmite em sua arte seus anseios, incômodos e percepções de mundo. Com a série “Quebra- Natureza Viva”, a artista coloca em debate questões importantes que passam pelo seu íntimo e também para reflexões de gênero.
A série surge por meio da pesquisa do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA ) em artes visuais voltada para poética, que propõe a reflexão sobre a quebra de expectativa com o olhar cisgênero sobre os corpos trans. “Principalmente o olhar masculino, cria uma ideia de corpo trans, de corpo travesti e essa ideia perpassa pela marginalidade, por coisas negativas. Então, a minha intenção é quebrar essa expectativa, a minha ideia é contar outras histórias, eu utilizo a história da arte para contar a minha história como pessoa trans e a história de outras meninas também”, explica a artista.
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Ela destaca, ainda, que usa o nome Rafael Matheus Moreira por uma questão de contestação, uma vez que não é comum que pessoas trans ocupem espaços que ela vem ocupando. Então, por isso, decidiu assinar seus trabalhos no gênero masculino. Isso também é uma forma de fazer referência à história da arte, nos séculos passados, onde as mulheres precisavam usar o nome masculino para terem seus trabalhos credibilizados, porque acreditava-se que o trabalho de mulheres não tinha valor.
"Então, hoje eu faço referência a essa época, porque muita coisa é descredibilizada e com certeza é uma grande conquista nesse sentido”, explica a artista. Rafael já participou três vezes do Arte Pará e duas delas foi agraciada com premiações. E, nesta edição, ela não sabia que tinha prêmio. "Eu estava lá em casa quando a Nina mandou mensagem: 'olha, você ganhou um prêmio'”, recorda a artista.
Rafael adianta que a experiência será um grande aprendizado, pois seus trabalhos também têm muita a ver com cidade, principalmente, com a cidade de Belém, a sua visualidade. “Então, pensar que eu vou para um lugar mais afastado dessa cidade, vai me abrir muitas possibilidade”, acrescenta a artista.
A trajetória da artista está muito marcada com a sua vida íntima, pois, foi por meio das artes e desse processo artístico, que se entendeu como corpo trans. “Então, para mim a arte é vida, não há divisão. É uma coisa muito única”, destaca.
Arte Pará 2024
O Arte Pará, com mais de 40 anos de tradição e de um trabalho sistemático da Fundação Rômulo Maiorana, tanto em formato competitivo quanto em realizações de caráter especial, sempre foi um catalisador das artes visuais no Estado, dando visibilidade e fomentando produções artísticas, e ao mesmo tempo, provocando diálogos e discussões relevantes sobre a cena artística nacional .
Com o tema "Um Norte [transcursos – caminhos]", a curadora da exposição, Nina Matos, explica que nesta edição há aspectos singulares, entre eles a exibição de um material museológico do fotógrafo paraense Luiz Braga.
O Arte Pará 2024 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Rouanet, sendo um dos apoiadores mais duradouros da mostra. A realização é da Fundação Romulo Maiorana (FRM).
Serviço:
Data: 3 de outubro até 29 de dezembro de 2024
Horário inicial em conformidade com o SIMM/Secult : de terça a domingo de 09h às 17h.
Local: Museu Casa das Onze Janelas
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