Pavulagem leva cor, música e inclusão ao centro de Belém no 1º Arrastão do ano

O centro de Belém amanheceu neste domingo (15/06), tomado por chapéus coloridos com fitas azul, verde, amarela e vermelha, música e cultura popular. O cenário marcava a expectativa para o início da temporada de cortejos do Arrastão do Pavulagem, que realizou sua primeira edição de 2025 com a participação de um número recorde: 1.200 integrantes no Batalhão da Estrela. Os próximos cortejos acontecerão nos dias 22 e 29 de junho e 6 de julho.

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A concentração começou às 8h, em frente ao Theatro da Paz, com a Roda Cantada, formada por um grupo de músicos e os fundadores do Arraial do Pavulagem, Júnior Soares e Ronaldo Silva. O cortejo saiu por volta das 10h e desceu a avenida Presidente Vargas até a Praça Waldemar Henrique, onde foi encerrado com um show especial marcado para às 14h.

Entre os vários brincantes do Batalhão da Estrela, a aeromédica Cisley Oliveira, de 27 anos, viveu seu primeiro Arrastão como pernalta. Ela já acompanhava o Arraial do Pavulagem há anos, mas neste domingo realizou um antigo desejo: subir nas pernas de pau e integrar o cortejo. O sonho havia sido adiado por conta da rotina corrida da maternidade.

Quando uma amiga a avisou sobre a oficina deste ano, decidiu se inscrever. “Não estou subindo sozinha, estou subindo com uma galera que me ajudou muito”, afirmou Cisley, ao destacar o espírito coletivo dos colegas que a apoiaram inclusive nos cuidados com o filho durante os ensaios. 

A pernalta também mencionou a importância afetiva da experiência: seu avô era fã do Arraial do Pavulagem e as “perninhas” usadas por Cisley no cortejo remetem a ele. “Toda essa questão cultural, de estar com os amigos, de viver Belém, tudo isso é muito importante para mim”, disse.

O processo de preparação, segundo a aeromédica, começou ainda em maio. “Cheguei às 7h20 para me arrumar na Praça da República, mas os ensaios foram de domingo a domingo. Hoje é gratificante ver esse trabalho de tantos meses tomando forma”, afirma.

Há também os veteranos, que não abrem mão de viver a tradição popular. O engenheiro Paulo Dias, 26 anos, acompanha o Arraial há mais de quatro anos. Para ele, o evento representa um momento de vivência coletiva com a cidade. “É muito legal ver tantas pessoas reunidas, vivenciar esse calor humano que Belém traz. Do início ao fim me encanta”, declara.

Ronaldo Silva, presidente do Instituto e co-fundador do Arraial,  celebrou os 38 anos do cortejo nas ruas de Belém. Para ele, o Arraial é uma escola sem paredes, um lugar onde se aprende e se renova a fé e a esperança. “Quando chegamos aqui, sentimos que as crianças haviam  se afastado dos mais ‘velhos’, e aqui atravessamos os dois mundos”, disse. 

O músico considera o cortejo um espaço de construção coletiva da memória popular. “Esse brinquedo pode possibilitar descobrir a história do passado e, no presente, escrever o futuro”, afirma.

Inclusão e acessibilidade

Este ano, o Arrastão contou com a estreia do "Cortejo Infância(s)", uma iniciativa voltada à inclusão de crianças neurodivergentes e com deficiência. A proposta foi construída por meio de uma parceria entre o Instituto Arraial do Pavulagem, o Grupo Mundo Azul, a Superintendência da Primeira Infância da Prefeitura de Belém, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) e a Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação (COESS/Seduc).

O objetivo da ação foi garantir um espaço mais acolhedor e seguro para que o público infantil, especialmente os neurodivergentes, possa vivenciar os movimentos culturais da cidade. A estrutura contou com o apoio de cerca de 15 profissionais e terapeutas, que acompanharam as crianças e suas famílias durante todo o percurso.

O prefeito de Belém, Igor Normando, participou do cortejo e destacou a relevância do evento para a cidade. “A prefeitura participa e contribui com esse que, sem dúvida alguma, é uma das grandes expressões culturais da nossa cidade”, afirmou. 

Ele também ressaltou ainda a importância do cordão inclusivo e da participação da primeira infância no evento. “Estamos todos juntos, com um grande sentimento de calor humano, de expressão cultural e de amor pela nossa terra”, disse.

Sobre sua participação direta no cortejo, Normando revelou que participou no passado, e em 2025, seguirá a tradição de prestigiar a cultura popular da cidade. Os Arrastões do Pavulagem foram reconhecidos como Manifestação da Cultura Nacional em 2024 pelo Governo Federal. Em maio deste ano, a Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), aprovou uma lei que institui junho como 'mês do Arrastão do Pavulagem' no Estado. 

Para ele, o Pavulagem é um patrimônio da cidade e cada cidadão que puder deve acompanhar o arrastão. “Trazer a inclusão para dentro do evento, trazer as crianças e todos que fazem a nossa cidade, é uma tarefa e um orgulho de todos nós”, complementou.

Com o tema "Arraial da Floresta", a edição deste ano é uma realização do Instituto Arraial do Pavulagem com patrocínio da Equatorial Pará e da Lei Semear, através da Fundação Cultural do Pará (FCP). Conta ainda com apoio do Governo do Pará, Secretaria de Cultura do Estado (Secult/PA), Prefeitura de Belém, TV Liberal, Point do Açaí, Ferryboat Amazonas, Sesc (PA), Blois e Oliveira Assessoria Contábil e da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves).