HQMix 2025: Artistas nortistas batem recorde de indicações ao 'Oscar dos quadrinhos brasileiros'
Pela primeira vez, artistas e obras da região Norte somam 14 indicações à premiação
A região Norte alcançou um marco inédito no Troféu HQMix 2025, considerado o “Oscar dos quadrinhos brasileiros”. Pela primeira vez em mais de três décadas de premiação, artistas e obras nortistas somaram 14 indicações, o maior número já registrado, reforçando a força e a diversidade da produção da região no cenário nacional.
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Entre os destaques está a ilustradora e quadrinista paraense Helô Rodrigues, finalista na categoria Melhor Web Tira. Ela publica suas tiras no Instagram, onde reúne mais de 25 mil seguidores, e foi indicada pelo conjunto de seu trabalho. Suas criações trazem inspiração no cotidiano paraense, sempre com humor e leveza.
Segundo ela, a indicação foi recebida como uma grande surpresa. Helô explicou que havia interrompido as publicações por dois anos devido à maternidade e só retomou a produção em 2024. Nesse período, acumulou ideias que resultaram em uma nova leva de tirinhas publicadas na rede social.
“Eu confesso que não esperava ser indicada. Foi uma surpresa muito grande, ainda mais perto de artistas que admiro desde o início da minha trajetória”, relatou.
Para a artista, o reconhecimento tem um valor especial por estar enquadrado da representatividade nortista. Helô destacou que, durante muito tempo, artistas da região ficaram de fora do radar nacional. “É muito importante poder estar nessa história. Esse tipo de reconhecimento mostra que a gente está aqui, produzindo quadrinhos de qualidade e gerando público”, afirmou.
A quadrinista também comentou a dimensão simbólica de estar entre os finalistas. “Só o fato de ser indicada já significa muito, porque passa por toda uma curadoria. É como se eu já tivesse ganhado um prêmio”, disse, com expectativas.
Ela pretende lançar, até o fim deste ano, seu primeiro livro, “Quadrinhos com jambu”, uma coletânea das tirinhas publicadas em seu perfil nas redes soicias, incluindo as webtiras que lhe renderam a indicação ao prêmio.
Conheça as outras indicações
Além de Helô, outros artistas e coletivos da região foram lembrados. A obra “Onde Habita o Medo”, dos autores Tai (Pará) e Nil (Amazonas), recebeu três indicações: Melhor Publicação Independente Edição Única, Melhor Publicação de Aventura/Terror/Fantasia e Melhor Publicação Juvenil.
O Coletivo Kitnet (Pará) concorre com “A Viagem de Maíra” em duas categorias: Melhor Publicação Independente de Grupo e Melhor Publicação Infantil. O Pará também marca presença com os coletivos Serendi e Quadrinhos à Margem, ambos indicados em Melhor Publicação Independente de Grupo.
Quadrinhos à Margem
Este último reúne histórias de artistas interioranos paraenses que escrevem a partir das memórias dos municípios onde nasceram ou foram criados. A coletânea reflete sobre os privilégios e privações de estarem “à margem”, conceito que nasceu das pesquisas de Felipe Furtado, organizador do projeto, ao perceber que a maioria da visibilidade para artistas paraenses estava concentrada na região metropolitana, principalmente em Belém. Entre os autores participantes estão Dias Junior, Matheus Siqueira, José Henrique, Alexya Queiroz, Taate e July Silva.
Coletânea reúne histórias de artistas interioranos do Pará e reflete sobre estar “à margem” (Arquivo pessoal)
Felipe Furtado afirmou que a indicação representa um momento histórico para o projeto. Segundo ele, poucos artistas do Pará haviam alcançado esse tipo de reconhecimento anteriormente, na maioria devido à falta de editais públicos voltados para quadrinhos na região.
“Esse troféu é uma das maiores honrarias que um quadrinista pode receber no Brasil. Ter um reconhecimento assim expande nosso trabalho para outros lugares e oportunidades, permitindo conectar nossas obras com todo o país”, explicou Furtado.
Ele destacou que o projeto já havia sido contemplado anteriormente com o prêmio Mapinguari de Quadrinhos e que, apesar de ser a primeira publicação de muitos dos artistas, a coletânea mostra a qualidade artística e discursiva da produção paraense.
O resultado do HQMix será divulgado em dezembro, mas Furtado afirmou acreditar no potencial do projeto como ponto de partida para discussões em escolas, universidades e projetos sociais. Ele também comentou sobre planos de expandir a iniciativa, inclusive estudando a possibilidade de lançamentos em formato de fanzine, reforçando o desejo de dar ainda mais visibilidade aos artistas do interior do estado.
Para o quadrinista Matheus Siqueira, que também integra a coletânea, a indicação representa reconhecimento e valorização do trabalho dos artistas do Norte. Ele comentou que, apesar da ‘Síndrome do impostor’, sente que a produção da região tem tanto valor quanto a de outros centros artísticos do país.
“Seria uma grande hipocrisia dizer que nunca me visualizei nessa situação de ser premiado pelo meu trabalho. Saí de Cametá com os olhos abertos para o mundo, e ver que nossos trabalhos agora são reconhecidos nacionalmente é incrível. É como se estivéssemos construindo uma estrada que conecta nossa cidade a outros lugares do país”, disse o artista.
A ilustradora Alexya Queiroz também destacou a importância do reconhecimento e da colaboração entre os autores. Ela destaca que o livro é a junção de diferentes traços, trajetórias e essências, e cada artista tem um pedacinho de vida presente na obra.
“As pessoas não estão apenas lendo uma história ou admirando uma pintura, elas estão lendo a nossa história, estão gostando e reconhecendo. Como jovens artistas, esse é um incentivo enorme para continuarmos nessa carreira e nos mostra que estamos no caminho certo”, comentou.
Na categoria Melhor Publicação Mix, foi nomeada a obra “O Outro Lado do Mucuruçá”, do projeto Barcarena Fantástica, criado por Francy Botelho, Fabiana Pina, Milton Santos e Sérnio Angelim (Pará). Já a publicação “Maramunhã na Terra Waraná”, de Evaldo Vasconcelos, Rayanne Cardoso, Malika Dahil e Izabelle Regina (Amazonas), aparece entre as finalistas de Melhor Publicação Infantil.
Os nortistas também aparecem nas categorias individuais: Ray Cardoso (Amazonas) concorre como Novo Talento Desenhista com “Maramunhã na Terra Waraná”, e Tai (Pará) disputa como Novo Talento Roteirista com “Onde Habita o Medo”.
As indicações também contemplaram iniciativas culturais da região. A Semana do Quadrinho Nacional de Manaus (Amazonas) foi lembrada como Melhor Evento, enquanto a exposição “Sangue, Suor e Nanquim”, de Luiz Andrade (Amazonas), concorre na categoria Melhor Exposição.
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