Festival Acessa BH 2025 terá, pela primeira vez, artistas do Norte na programação
Paraense Rô Colares apresenta espetáculo inspirado em ancestralidade e vivências do espectro autista
O Festival Acessa BH, que começa nesta sexta-feira (5) e segue até dia 28 de setembro, em Belo Horizonte, traz em sua 5ª edição uma novidade histórica: pela primeira vez, a programação multicultural e gratuita contará com a presença de artistas da Região Norte. O evento, dedicado à acessibilidade, diversidade e artes cênicas contemporâneas, reúne trabalhos de pessoas com deficiência e amplia o acesso à cultura para todos. Confira a programação completa!
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Entre as atrações está o espetáculo “Pequeno tratado sobre a leveza das pedras”, da paraense Rô Colares. Artista da cena, escritora e doutora em artes, Rô se apresenta como ‘neta do Rio Arapiuns’, afirmando poeticamente sua ancestralidade indígena e vínculo com o território. Sua obra cruza apresentação, escrita e fabulação, articulando corpo, memória e política em práticas de presença e escuta. A apresentação será no dia 19 de setembro, às 20h, na Funarte MG.
Rô Colares, que foi diagnosticada tardiamente dentro do espectro autista, relatou que sua condição influencia diretamente a criação da obra. “Sou recém-diagnosticada, depois dos meus 50 anos, a partir do diagnóstico da minha filha. Esse espetáculo nasce dessa vivência e fala sobre a condição da pessoa dentro do espectro, refletindo as sobrecargas e violências que enfrentamos”, explicou.
A artista reforçou também a inseparabilidade entre sua identidade indígena e sua produção artística. “Meu corpo é um corpo indígena. A memória vive em mim, se move na minha dança, na minha vida e nas minhas relações com o mundo. É inseparável. O modo como danço na cena é o modo como me movo no mundo”, declarou.
Para ela, a presença de artistas nortistas no festival marca um avanço importante. Ela destacou que a acessibilidade oferecida pelo festival representa um verdadeiro exercício democrático. “Acessibilidade e diversidade salvam vidas. Em festivais como este, todas as medidas são pensadas tanto para o artista quanto para o público estar bem, podendo desfrutar da arte de maneira integrada e prazerosa”, avaliou.
Mais de 30 atrações e uma cena inclusiva
A programação do Festival Acessa BH 2025, realizada em vários espaços diferentes da capital mineira, reúne mais de 30 atrações entre espetáculos, filmes, videoclipes, oficinas, bate-papos e lançamento de livro. O evento coloca artistas e profissionais com deficiência como protagonistas de uma cena inclusiva e engajada, ampliando a diversidade e a representatividade nas artes.
A abertura será às 20h, no Sesc Palladium, com o espetáculo “Monga”, da atriz e diretora cearense Jéssica Teixeira, vencedora do 35º Prêmio Shell de melhor direção. Inspirada na vida da artista mexicana Julia Pastrana, a montagem tensiona a marginalização de corpos dissidentes e mistura terror psicológico com doses de humor.
O festival garante uma experiência acessível ao público com recursos como legendas descritivas, janelas de Libras, audiodescrição integrada, interpretação em Libras/Português ao vivo, pranchas de comunicação alternativa e abafadores de ruído. Além disso, os teatros parceiros contam com acessibilidade física, salas de regulação sensorial e empréstimo de cadeiras de rodas, além de permitirem o trânsito de cães-guia.
Segundo Daniel Vitral, um dos idealizadores, a ideia nasceu de uma inquietação compartilhada com sua irmã e sócia, Laís. “Há dez anos percebemos a ausência de pessoas com deficiência nos teatros, tanto no público quanto no palco. Decidimos criar um evento que não só garantisse acessibilidade para a plateia, mas que também fosse protagonizado por artistas com deficiência”, contou.
Daniel ressaltou que o festival é construído com apoio de uma equipe de sete consultores especializados, seis deles com deficiência, que orientam todas as etapas da produção. “Sempre quisemos trazer artistas do Norte. Este ano conseguimos realizar esse desejo com a Rô Colares, do Pará, e a Coletiva de Palhaças, do Amazonas. É um orgulho enorme expandir a pluralidade do festival e escutar as demandas do público”, afirmou.
Na programação, ainda há espetáculos de mais sete estados brasileiros e uma atração internacional do Reino Unido, com a participação da artista Dora Colquhoun, marcando o início de uma parceria entre o evento, a organização DaDa e a companhia ZU-UK. O espetáculo “That’s Why Deers Run” será apresentado no dia 25 de setembro, às 19h30, na Funarte MG.
O festival conta com o patrocínio master da Cemig por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, patrocínio master do Instituto Cultural Vale e patrocínio do Instituto Unimed-BH, Itaú Unibanco e Laranjinha Itaú por meio da Lei Federal de Incentivo. Conta, ainda, com o apoio da Fundação Clóvis Salgado, Funarte MG, Centro Cultural Unimed-BH Minas, Sesc Palladium e Mercure. Uma realização da Vitral Bureau Cultural, Lais Vitral, Governo de Minas Gerais — Governo Diferente, Estado Eficiente e Ministério da Cultura - Governo Federal - União e Reconstrução.
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