Marcha Global pelo Clima reúne 50 mil pessoas em Belém e cobra a ‘COP da Verdade’
Ministras Marina Silva e Sônia Guajajara participaram da mobilização, que reuniu movimentos de 62 países
A 'Marcha Global pelo Clima', realizada na manhã deste sábado (15), encerrou por volta das 11h38 após aproximadamente três horas de percurso pelas ruas de Belém. Segundo a organização, cerca de 50 mil pessoas participaram do ato, que teve como bandeira central a defesa da 'COP da Verdade', termo utilizado pelos movimentos para reforçar a necessidade de compromissos reais e implementações imediatas no combate à crise climática. A caminhada começou nas primeiras horas do dia, saindo do Mercado de São Brás em direção à Aldeia Cabana, no bairro da Pedereira, reunindo lideranças de movimentos sociais, povos originários, quilombolas, ribeirinhos, organizações ambientais e representantes da sociedade civil.
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Durante o deslocamento, quando o cortejo avançou pela avenida Duque de Caxias e chegou ao cruzamento com a travessa Mauriti, encontrou um esquema de segurança montado pelos órgãos responsáveis. O bloqueio teve o objetivo de impedir tentativas de aproximação às imediações da Blue Zone, área oficial da COP 30 no Parque da Cidade. Apesar da barreira, a marcha seguiu com faixas, cartazes e palavras de ordem em defesa da Amazônia e contra a exploração de combustíveis fósseis, integrando a programação da Cúpula dos Povos, que reúne lideranças de 62 países em debates sobre proteção dos territórios, transição energética justa e combate às falsas soluções de mercado.
Lideranças
O ato contou com a presença das ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas. Em entrevista ao Jornal O Liberal, Guajajara destacou que levar a manifestação para a rua representa garantir 'a presença do povo, dos movimentos, de quem sempre esteve cuidando e protegendo’. Para ela, as vozes presentes no ato devem influenciar as discussões oficiais. “Certamente o que é dito aqui vai, sim, ter uma incidência lá nas decisões”, afirmou.
Marina Silva reforçou a importância simbólica da mobilização ao declarar que a marcha representa ‘o encontro daqueles que sofrem o problema da emergência climática, mas que têm o propósito de ajudar a resolvê-lo’, afirmando ainda que esta é ‘a COP da implementação’ das iniciativas climáticas.
Entre os participantes estava o ativista humanitário Thiago Ávila, coordenador internacional da Coalizão da Flotilha da Liberdade de Gaza, que está em Belém para acompanhar as atividades paralelas à conferência. Ele afirmou que a presença popular é essencial no enfrentamento ambiental e que ‘a saída vem da cidade, do campo e das florestas a partir dos povos, não dos governos’.
Segundo Ávila, delegações de vários países expressam a mesma demanda por um modelo de vida equilibrado e sustentado pela relação harmônica com a natureza. “As pessoas estão aqui do mundo inteiro dizendo que a gente quer um planeta ecologicamente equilibrado, onde as pessoas se entendam quanto parte da natureza e a gente alcance o bem viver”, disse.
A militante Renata Moara, do coletivo ‘Juntos’, destacou que a marcha ocorre em meio ao trabalho intenso do movimento na Cúpula dos Povos e no chamado ‘Processo de Belém’. Ela explicou que o grupo tem defendido três bandeiras centrais: a luta indígena, a oposição à perfuração da Foz do Amazonas e o enfrentamento ao processo de financeirização das florestas.
“Nosso movimento tem atuado trazendo três marcas que a gente acha fundamental”, afirmou. Renata reforçou que a demarcação imediata de territórios indígenas é uma reivindicação histórica e científica, afirmando que ‘a demarcação de território significa o futuro do planeta’.
Em relação à financeirização das florestas, criticou o processo do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (PFFF) ao afirmar que ‘as nossas florestas, os territórios, não são mercadorias, são vidas, são lutas, são a nossa casa’, destacando que os povos da Amazônia não devem permitir que seus territórios sejam transformados em produtos financeiros.
Manifestações políticas e artísticas marcam o trajeto
Durante o percurso, diversas intervenções políticas, performances e expressões artísticas marcaram o ato. Entre elas, chamou atenção a presença do artista dinamarquês Jens Galschiet, que apresentou a escultura “A Praga Laranja”, inspirada nas ações de Donald Trump. A obra retrata o presidente americano sentado sobre as costas de um homem que afunda sob seu peso. “Temos essa escultura do Donald Trump ao lado, em cima de um homem pobre. O homem pequeno, [pode ser] você, eu e a questão climática, tudo que ele [Drump] quer pesar”, afirmou o artista, acrescentando que o objetivo é incentivar a união ‘para fazer um mundo melhor’.
A escultura estava acompanhada de um texto poético que descreve a metáfora: “Estou sentado nas costas de um homem. Ele está afundando sob o peso. Eu faria qualquer coisa para ajudá-lo, exceto descer de suas costas. – O Rei da Injustiça”.
Uma parte do Batalhão da Estrela, do Arraial do Pavulagem, se juntou também ao ato como uma cobra de 30 metros feita pelos movimentos sociais para reforçar a necessidade da preservação da biodiversidade.
Próximas atividades
O movimento também antecede ações como o 'Banquetaço', neste domingo (16), e a entrega da “Carta dos Povos” ao presidente da COP 30, André Corrêa do Lago.
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