PF e COP 30: mais de 1.200 agentes atuam em varreduras antibomba e monitoramento de chefes de Estado
Sobre as manifestações, delegado Delano Cerqueira Bunn diz que uso de força será “último recurso”; equipes farão mediação direta com grupos sociais
Durante a realização da COP 30, em Belém, a Polícia Federal e órgãos parceiros estabeleceram um protocolo fundamentado no direito constitucional de manifestação: 98% da cidade foi designada como área livre para protestos. E, quando uma manifestação ocorrer, a mediação será conduzida por equipes especializadas, não pela força policial. O uso de força é considerado último recurso. O objetivo é garantir expressão pública sem prejudicar segurança ou mobilidade.
Essas informações foram dadas, em entrevista ao Grupo Liberal, pelo experiente delegado da Polícia Federal Delano Cerqueira Bunn, coordenador-geral de Segurança de Dignitários e Grandes Eventos da Diretoria de Proteção à Pessoa. Segundo ele, o principal legado que a gente traz para a COP em Belém "é o legado da superação, é o legado do orgulho de ter dado certo".
A PF assumiu a coordenação geral da segurança pública durante a Cúpula de Chefes de Estado e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que serão realizadas, respectivamente, entre os dias 6 a 7 e 10 a 21 de novembro, em Belém/.
O evento reunirá cerca de 150 delegações estrangeiras, incluindo mais de 50 chefes de Estado ou de Governo, consolidando-se como o maior desafio de segurança já organizado no Brasil. O delegado Delano Cerqueira Bunn informou que mais de 1.200 policiais federais atuam diretamente na COP 30, em Belém, além de operações coordenadas em outras capitais onde chefes de Estado têm agendas paralelas. O trabalho envolve controle migratório sem filas, escoltas oficiais e mobilidade urbana integrada, veículos e instalações com varredura antibomba, monitoramento fluvial, aéreo e terrestre e investigação e prevenção antiterrorismo. Abaixo, a entrevista do delegado à Redação Integrada de O Liberal.
Pergunta: Delegado, a Polícia Federal vai fazer a coordenação geral da segurança pública da COP. Quantos agentes e unidades estarão envolvidos diretamente aqui em Belém?
Resposta: A Polícia Federal está dentro de um contexto interagências, em que nós sentamos com todos os órgãos. Sob a coordenação da Casa Civil, da Presidência da República, e desenvolvemos um modelo de governança que vai trabalhar a questão da segurança do grande evento, segurança dos dignitários estrangeiros e nacionais. A cybersegurança e a segurança das infraestruturas críticas. Esses quatro grandes temas foram pensados dentro de um contexto de defesa nacional, da inteligência, de segurança pública, inteligência de estado, da segurança pública em si e da gestão do grande evento. O grande evento pensado dentro da cidade e a cidade também precisa funcionar durante o grande evento.
Pergunta: E, nesse contexto, o que foi desenvolvido?
Resposta: Para isso foram desenvolvidos alguns centros de cooperação, de integração interagências que são fundamentais para essa compreensão de como essa segurança está articulada. Porque primeiro a gente pensa na segurança da cidade. E aí nós temos o CESIR, o comitê estratégico de segurança integrada regional, que está funcionando no CCPI da Segup. Ali estão todas as agências em nível federal, estadual e municipal que podem contribuir com aqueles quatro grandes temas que eu falei. Então, a cidade precisa estar funcionando, precisa estar fluida. O cidadão precisa compreender o grande evento e saber que também ela é parte desse contexto. Aí a gente vem agora para o local do evento E aí, quando eu falo local do evento, eu penso também na perspectiva dos deslocamentos das autoridades.
A gente chama de local do evento e ponto de interesse desde o aeroporto de Belém, Aeroporto Internacional, a Base Aérea, o Porto de Outeiro, outros portos que são responsáveis por todo o insumo logístico para o nosso evento. As rotas desses deslocamentos, os locais de acomodação e o local principal.
O coração da Cúpula de Líderes e da COP 30, que é o Parque da Cidade, onde vai funcionar a Blue Zone durante a conferência. E, agora (a entrevista ocorreu na quinta-feira, 6, pela manhã), está acontecendo a Cúpula de Líderes. Em todos esses locais a gente tem aí uma coordenação de área de segurança pública. A CASP é responsável por fazer essa governança da segurança com todas essas agências, também pensando especificamente no local do evento.
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Pergunta: E sobre as novas ameaças?
Resposta: Você tem as novas ameaças, como, por exemplo, a questão dos drones. Um drone pode ser um meio recreativo, um esporte, uma atividade de entretenimento, mas ele também pode representar uma ameaça. Então, existe uma central de monitoramento antidrone em que todas as capacidades brasileiras estão sendo agrupadas, coordenadas e distribuídas no terreno de maneira a garantir que nenhum drone vá sobrevoar nenhuma área protegida pela nossa coordenação de segurança.
E, obviamente como a gente está falando de delegações internacionais, existe também um esforço de criar um ambiente de cooperação internacional para que as agências de segurança estrangeiras responsáveis pela segurança de chefes de Estado, chefes de governo ou chanceleres, eles possam aportar informações que possam ser úteis para a nossa atividade de segurança aqui no Brasil. Então nós temos o Centro de Cooperação Policial Internacional.
Todas essas agências trabalhando de maneira coordenada - estou falando de agências do Ministério da Defesa, agências da Casa Civil. Aí você tem o GSI, o Gabinete de Segurança Institucional. No Ministério da Justiça e Segurança Pública, você tem a Polícia Rodoviária Federal, a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) e a Polícia Federal. Você tem a Segup, a Secretaria de Segurança Pública, e todas as estruturas, da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros. Você tem no município também a questão da mobilidade urbana, você tem a Segbel, responsável também pela mobilidade urbana.
Você tem o Detran. A gente está falando aí das agências reguladoras, questão da distribuição da água, questão do sinal de comunicação de internet. Anatel, ANA, Anac. Enfim, todo mundo trabalhando com o mesmo propósito. Esse propósito de trazer um ambiente tão seguro nos padrões internacionais que a gente possa causar uma boa impressão para as delegações estrangeiras. Que, antes de chegarem, elas precisam ter segurança para chegarem aqui. Então a gente faz segurança.
Pergunta: O senhor falou da sensação de segurança...
Resposta: A gente tem como um efeito da nossa segurança é a sensação de segurança. E essa sensação de segurança traz o quórum de países, para votação das questões das resoluções climáticas. Então, dentro do nosso contexto da matéria substantiva que temos, como principal estratégia brasileira, a questão do fundo de financiamento das florestas tropicais, essa votação ela precisa acontecer num ambiente em que você tenha quórum. Para você ter quórum, você tem que ter segurança. E, com segurança, você vai ter a votação da resolução, que é o objetivo do Estado brasileiro, para trazer o desenvolvimento para a região, da região amazônica como todo.
Pergunta: Nessa operação complexa que o senhor citou, são quantos agentes da Polícia Federal e quais são os principais desafios logísticos e de inteligência enfrentados pela Polícia Federal a coordenar o maior o esquema de segurança já realizado no país?
Resposta: A atividade da Polícia Federal é bem ampla. A gente tem milhares e milhares de delegações chegando no território brasileiro. O que é que eles fazem? Imigração. Quem faz a imigração? A Polícia Federal. Não podemos ter fila nos aeroportos. Não podemos deixar uma autoridade que chegou com um avião com 500 representantes esperando a imigração. A gente precisa ter um trabalho fluido no controle migratório. Isso é feito com um planejamento, baseado nas experiências das COP’s anteriores. Então a nossa a nossa diretoria de polícia administrativa realizou um plano em que a gente conseguiu colocar o número ideal de policiais no controle migratório.
As delegações chegam e as que têm segurança da Polícia Federal, elas entram no esquema de segurança aproximada sob a proteção integral 24 horas por dia, 7 dias por semana, sob a proteção da Polícia Federal. Então, nós precisamos de carros blindados, carros de segurança que precisam passar por varreduras antibombas. Nós temos equipes de varreduras antibombas de todo o Brasil e apoiados também por estruturas das polícias militares de outros estados, através de um trabalho de cooperação com a Secretaria Nacional de Segurança Pública e esses carros passam por um esquema de varredura antes das autoridades entrarem.
Essas autoridades vão para os hotéis ou para acomodações alugadas, de apartamentos alugados. Esses locais também precisam passar por varreduras e precisam estar sob constante vigilância, tanto da Polícia Federal, quanto da Polícia Militar. As delegações se deslocam na cidade e precisam de um apoio de mobilidade urbana integrado com todo o sistema de mobilidade da cidade.
Então nós temos o trabalho da Polícia Rodoviária Federal, da Segbel (Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade), e a Polícia Federal também dentro da central de escoltas da Polícia Rodoviária Federal, cuidando da fluidez desse de toda essa atividade. Você tem o trabalho no local do evento, segurança no local do evento, grupos táticos da Polícia Federal, coordenação de aviação operacional. Você tem a questão da fiscalização fluvial, um trabalho importante no Porto de Outeiro, nos demais portos e do deslocamento das autoridades estrangeiras quando elas pedem algum tipo de agenda que envolva o modal fluvial, o modal marítimo. Então, você tem o trabalho da Polícia Federal também na parte da cibersegurança e na prevenção do terrorismo.
Então, toda a atividade de inteligência hoje está voltada para a garantia de que, na COP 30 e no território brasileiro, a gente não vai ter nenhum tipo de problema de qualquer natureza, sob qualquer ótica. Então, ao todo, diretamente trabalhando aqui em Belém, nós temos 1.200 policiais federais para algumas dessas atividades, mas o nosso trabalho não se resume a Belém. Você tem chefes de estados que visitaram outras capitais.
Você tem o príncipe da Inglaterra que veio do Rio de Janeiro e está chegando em alguns momentos aqui em Belém. Você tem o presidente da França que esteve em Salvador e está chegando em alguns momentos aqui em Belém. Outras capitais também receberam um impacto da COP 30. Não apenas essas, mas pelo menos mais umas 15 cidades. Nós tivemos chefes de estados que estavam cumprindo outras agendas, aproveitaram que viriam para a COP 30 e, estando do Brasil, aproveitaram e estão fazendo outras agendas.
Você tem um trabalho bem articulado em nível nacional, e coordenado com agências internacionais. Nós temos a Interpol, representante da Polícia Federal na Europol (Agência da União Europeia para a Cooperação Policial), adidos policiais no exterior nas embaixadas do Brasil, todos trabalhando direta ou indiretamente para nossa atividade. Um evento desse só dá certo porque as instituições são parceiras.
Pergunta: As características de Belém tornam esse trabalho mais complexo ainda?
Resposta: Toda cidade tem uma vertente e essa vertente precisa ser respeitada e, obviamente, o melhor parceiro para trabalhar nessa questão é o parceiro local. Então, o trabalho da Segup e o trabalho da Segbel... E aí eu, quando eu falo Segup e Segbel, eu falo todas as agências abaixo dessas estruturas. Foram fundamentais, assim como a nossa articulação com a superintendência aqui do Pará, o Dr. Andrade (Alexandre de Andrade Silva), nosso superintendente. A gente tem aí uma integração absoluta. Um evento desse só dá certo porque as instituições são parceiras.
A gente já vem de uma doutrina, que não foi no G20, não foi no BRICS. Ela já vem lá da Jornada Mundial da Juventude, vem do Rio + 20. Você tem uma doutrina do Estado Brasileiro de cooperação interagências em que a Polícia Federal hoje ela está nesse papel de coordenação de liderança, mas existe um conceito bem muito importante de liderança situacional. Então você tem agências que vão entender de mobilidade urbana muito melhor do que a Polícia Federal. Então, é quem a gente ouve. A gente ouve o parceiro e esse parceiro tem a capacidade de nos apoiar para que a melhor decisão seja tomada para aquele cenário. Então, houve um planejamento ao longo de todo este ano.
Ele começou no ano passado. Mas, depois que acabou o G-20, a gente pôde arregaçar as mangas e trabalhamos desde o início do ano com dedicação exclusiva para que a COP 30 acontecesse em Belém nem sem nenhum tipo de impacto negativo para a população e nem tampouco negativo para as delegações estrangeiras do grande evento. A cidade está conseguindo cumprir o seu papel de ser uma grande anfitriã para este grande evento. É como se o prédio da ONU fosse transplantado para o Parque da Cidade
Pergunta: Delegado, de que forma o Departamento de Segurança das Nações Unidas participa dessa integração e quais os protocolos de comunicação serão adotados em caso de incidentes?
Resposta: O Departamento de Segurança das Nações Unidas é a agência de segurança da ONU, que faz a segurança de todas as os eventos da ONU. Quando você tem uma Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, não são as polícias dos Estados Unidos que cuidam da segurança. É o Departamento de Salvaguarda e Segurança das Nações Unidas (UNDSS) que é responsável por essa segurança dentro do local da ONU. O vai acontecer no dia 9? No dia 9, domingo, vai ser concluída uma varredura, uma última varredura no local do evento, logo depois da cúpula. E vou fazer uma metáfora aqui. É como se a Assembleia Geral da ONU, o prédio da ONU lá em Nova Iorque, fosse transplantado para Belém do Pará, para o Parque da Cidade. Então, aquele território vai ganhar o status de território inviolável, como se fosse uma embaixada.
É um território em que o Brasil assinou um memorando de entendimento para, como país-sede, um acordo-sede, em que o Brasil garante a segurança do perímetro, garante os meios. Mas, naquele momento ali, quem coordena a segurança dentro do local da conferência. Estou falando aí do dia 9, como o dia anterior à inauguração, à cerimônia de inauguração.
E efetivamente no dia 10, até o dia 21, podendo prorrogar aí - normalmente se prorrogam as COPs. Elas nunca acabam no dia que estão programadas, podendo prorrogar até para o dia 22 ou 23. Em todo esse período, enquanto não acabar a COP, ela vai estar sob a coordenação da ONU.
E o Brasil tem um papel de fazer esse perímetro externo, ser uma força de reação e existe um centro de comando e controle lá dentro, coordenado pela ONU. Esse centro de comando e controle vai ter um representante do Ministério da Justiça e Segurança Pública. E esse representante tem o papel de receber as demandas, tratar e repassar para a as autoridades nacionais.
Para que qualquer demanda que venha da ONU seja devidamente atendida no melhor protocolo possível, de maneira mais eficiente o quanto possível. Esse centro vai ter uma representação brasileira. Essa representação brasileira vai cuidar de ser a contraparte para todas as medidas relacionadas à atividade da segurança da ONU.
Pergunta: A Blue Zone terá status especial, semelhante a uma embaixada. Quais os limites de atuação que a Polícia Federal terá dentro e fora dessa área e como se dará essa cooperação com a ONU, já que esse espaço é considerado um território internacional.
Resposta: Perfeito. Do mesmo jeito que as polícias dos Estados Unidos têm uma ótima relação com a ONU. Por exemplo, quando entra uma autoridade estadunidense numa Assembleia Geral da ONU, os seguranças americanos entram, os seguranças brasileiros também vão poder entrar fazendo a proteção das autoridades. Assim como qualquer ameaça, qualquer atividade, qualquer ato que possa constranger ou atentar contra o evento da ONU, da conferência, nós estaremos repassando as informações em tempo real. Garantindo que que não haja qualquer tipo de incidente.
Eu, particularmente vim a Belém, mais de 10 vezes ao longo desse ano, para reuniões tanto com eles quanto com outras agências. Vídeoconferências foram toda semana, praticamente. Tivemos vídeoconferência para pontos de controle, para todas as atividades. Existe um trabalho da Polícia Federal também oculto, que é o Estatuto do Desarmamento. Prevê que o Brasil possa conceder autorização de porte de arma para agentes de segurança estrangeiros. Esses agentes de segurança estrangeiros podem ser tanto os agentes de segurança estrangeiros dos chefes de estados, como também os agentes de segurança estrangeiros da UNDSS da ONU, do departamento de segurança da ONU. Então, eles estão sob a nossa, sobre a nossa concessão de porte de arma dentro do local do evento. Existe um acolhimento. São grandes parceiros.
As relações na segurança pública são relações muito consolidadas. Não é a primeira vez que a Polícia Federal e a UNDSS trabalham juntas. Elas já trabalharam juntas em diversas outras oportunidades. E essa é mais uma que a gente está consolidando essa relação de parceria, no mais absoluto espírito de cooperação internacional.
Pergunta: Delegado, que tipo de monitoramento será realizado no entorno da Blue zone? Como será garantida a segurança do chefe de Estado durante os deslocamentos em Belém?
Resposta: Da mesma forma como está sendo na cúpula que começou hoje (quinta) e termina amanhã (sexta). Teremos chefes de estados que chegarão também para participar da conferência. Provavelmente a inauguração da conferência, o ato de abertura da conferência seja o evento mais com a maior presença de chefes de Estado. Mas nós teremos, durante toda a conferência, ministros de meio ambiente, ou de temas relacionados a questões ambientais, como, por exemplo, transição energética, minas e energia. Você tem uma série de temas, exemplo, Ministério da Pesca.
Cada país vai ter um nome para essas para essas agendas, mas assim, a gente vai ter muitas visitas de autoridades de alto nível. Algumas delas receberão segurança aproximada da Polícia Federal. Todas elas estarão sob o nosso monitoramento de todo o esquema de segurança pública da de todas as agências.
O entorno da Blue Zone a gente tem aí o grande trabalho da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), do Comando Conjunto Marajoara e da Polícia Militar, que fazem esse papel de polícia de perímetro, Você tem o papel da CASP, da coordenação de área de segurança pública, em que o nosso delegado regional executivo Dr. Smith, é o coordenador de desse centro de comando e controle do perímetro externo da Blue Zone.
Uma força de reação para qualquer necessidade. E você tem o trabalho das agências de saúde. Da Secretaria de Saúde, dando todo o aporte insumo, na questão da atenção à saúde. Você tem o trabalho do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. Se tiver qualquer tipo de incêndio ou início de incêndio. A UNDSS vai contar com o apoio do Corpo de Bombeiros, a DSS vai contar com o apoio de todas as estruturas brasileiras. E da Polícia Federal, por exemplo, com a central de monitoramento antidrones. Nós temos aí uma grande rede que vai estar em prontidão, 24 horas por dia, 7 dias por semana durante todo o período da Conferência. À disposição de qualquer necessidade da Blue Zone.
Pergunta: Queria que o senhor me falasse um pouco sobre esse trabalho de tecnologia e inteligência para prevenir possíveis ataques cibernéticos e eu queria saber que o que que mais preocupa a Polícia Federal em meio a tantas preocupações, alguma que se sobressai?
Resposta: Olha, a gente tem aí um trabalho de uma rede de inteligência é muito atuante. Todas as ameaças nacionais estão sendo monitoradas. Todo chefe de Estado, quando vem visitar outro país, ele traz o seu risco agregado, o seu risco geopolítico, ele também transporta quando ele vem para cá. Então existe um trabalho de cooperação internacional no campo da inteligência voltado para essa atividade. Também no campo da cibersegurança. Você tem o papel da Polícia Federal com a nossa diretoria de repressão a crimes cibernéticos e todas as agências de governo, coordenadas pelo MGI. Aí eu estou falando do Sepro, da Dataprev.
Você tem todo um trabalho de agregar segurança diminuir superfície de ataques, de crimes cibernéticos, agregar a segurança, fazer um trabalho de endurecimento das nossas redes, tornando cada vez mais resilientes os nossos sistemas. Você tem uma atividade bem robusta, para que a gente garanta a prevenção de qualquer atentado, de qualquer ilícito.
Pergunta: Há protocolos específicos de segurança para eventuais protestos manifestações ou ameaças visuais que possam surgir durante a COP?
Resposta: Bom, vamos falar sobre os protestos. Primeiro, manifestação, o direito de manifestação. Quando a gente fala protesto, talvez traga um sentido um pouco negativo. Mas a gente precisa lembrar que a Constituição Federal tem lá no artigo 5º, como cláusula pétrea, o direito de manifestação. E, trazendo isso um pouco para o histórico da COP, a gente pode dizer que o Brasil com o seu regime democrático, um país livre, a gente tem aí uma demanda enrustida de alguns anos, juntando países.
Com regimes mais duros, onde foram as últimas duas ou três COPs. Juntando isso com o período pandêmico, em que as pessoas estavam enclausuradas nas suas casas, a gente tem aí pelo menos 5 anos que não tem uma COP com livre manifestação no sentido mais amplo. Seja pela pandemia, seja pelos regimes mais autoritários. E o Brasil está recebendo agora a cópia do pós-pandêmica do país, primeiro país de regime democrático.
Então, a gente preparou um protocolo em que existe uma premissa básica - o direito de manifestação. O direito de manifestação é uma cláusula principal do nosso protocolo. As pessoas têm essa possibilidade, devem se manifestar, tem esse direito e esse direito é garantido pelo Estado brasileiro e garantido pelas forças de segurança.
Então, a gente tem reuniões periódicas com grupos sociais que pretendem se manifestar durante a COP e estamos entendendo as demandas. Dentro dessas demandas, a gente começa a fazer um esquema de organização muito parecido com o das autoridades estrangeiras.
Vamos organizar para fazer essa atividade mais bonita possível, mais atraente, com maior impacto, mas que também não cause prejuízos para as delegações estrangeiras no deslocamento de um chefe de estado, que preserve o perímetro da do local do evento, é só isso que a gente precisa preservar. A gente senta, conversa, negocia, organiza e temos um plano. Então, nós temos aí na cidade 98% da cidade como zona verde, para manifestações. Manifestações que vão acontecer são livres, são apoiadas pelo Estado brasileiro. E existem mediadores governamentais voltados para essa para essa para garantir o sucesso da manifestação.
Então, esses 98% do território estão preservados, serão garantidos de seguranças e a gente vai acompanhar essa manifestação e garantir também que a contrapartida que foi criar as forças de segurança planejaram, o Estado brasileiro garantiu, A Secretaria Geral da Presidência da República dialogou, entendeu, mapeou. Vamos agora trabalhar o que não fazer na manifestação.
Então nós temos zonas alaranjas, zonas vermelhas. A zona laranja é o ponto de negociação. ‘Olha, você não deveria ter passado por aqui. Então daqui não pode passar’. É o momento em que o Estado diz: ‘Olha, lembra que a gente combinou aquilo? Vamos cumprir?’ E dali a gente mantém um ambiente de mediadores não policiais como a primeira camada. Essa primeira camada ela é de mediadores especialistas.
Então, você tem determinadas áreas do governo mais aptas para trabalhar o diálogo com comunidades indígenas. Você tem determinadas áreas do governo mais aptas para trabalhar o diálogo com movimentos sociais, com grupos de trabalhadores, com organismos internacionais. Então, você escolhe os melhores mediadores para fazer esse diálogo e deixa as forças de segurança na retaguarda, usando a sua doutrina de uso seletivo da força em último caso, de maneira muito pontual e é tudo que nós não queremos é fazer o uso da atividade de usar força contra manifestante. A COP não é para isso.
A COP não foi planejada para isso. Mas eu te digo que o ambiente de colaboração com os movimentos sociais tem sido o melhor possível. Esses diálogos já acontecem há mais de 4 meses e a gente está entendendo. E, na verdade, o Estado brasileiro está suprindo necessidades logísticas colocando: ‘olha, se aqui é o ponto de concentração’. O que é que a prefeitura, o que é que o estado pode fazer?
Vamos melhorar essa praça, vamos colocar um banheiro um banheiro público nas proximidades. Então, esse diálogo ele está acontecendo no sentido de facilitar a vida do manifestante e garantir que ele faça a sua manifestação e ela aconteça e ela tenha bom impacto para a imprensa. Que aquela voz reprimida consiga ter a sua a sua atenção durante a COP.
Pergunta: Delegado, por que que é importante ter feriado nesse período da Cúpula dos Líderes?
Resposta: O feriado tem uma necessidade estratégica para qualquer grande evento. Isso não é só em Belém, aconteceu também no Rio de Janeiro.
O Estado brasileiro está focando como uma estratégia de sustentabilidade a implantação de um fundo internacional de financiamento das florestas tropicais. Essa é a questão. Se a gente não tivesse fundo, o que que vai acontecer no futuro com a floresta amazônica? O desmatamento, plantação de soja, fazendas de produção agrícola.
Esse modelo econômico ele se mostra inviável diante da nossa perspectiva, de conservação, de prevenção de crimes ambientais. E, para o estado brasileiro, é importante trazer uma alternativa de desenvolvimento para a região. Para isso a COP vem para Belém para sensibilizar as delegações. Sensibilizando as delegações, o assunto ganha um mote. Mas só que não adianta só sensibilizar.
A COP tem que ter quórum. Se ela não tiver quórum, o que é que acontece? As resoluções não são votadas, elas não ganham legitimidade. Para ter quórum, ela precisa ter segurança. Por quê? Porque as embaixadas nos procuram e perguntam: "Meu chefe de estado vai estar protegido?" Vai. Teremos isso, teremos essas medidas.
E inclusive vai ser decretado feriado, o que vai facilitar a mobilidade urbana e a gente vai garantir que seu chefe de estado vai cumprir todas as agendas desejadas. Esse feriado de 2 dias ele causa um grande impacto, eu tenho certeza, para muitas categorias de comerciantes e outras atividades do estado. Mas ele tem uma função primordial. Sem o feriado, o assunto segurança ele perderia muito em credibilidade internacional. Então, a credibilidade internacional é a essência do sucesso da COP. Sem credibilidade internacional, as delegações não vão ter a sensação de segurança para poderem estarem presente aqui e votarem. As quase 140, 150 delegações que estão chegando em Belém. 140, 150 de 197 países é um número muito elevado.
Pergunta: Já temos quórum?
Resposta: Já temos quórum. Então, a COP já alcançou o seu sucesso. Vamos ter quórum. Por que? Porque nós tivemos sensação de segurança. Dentro do pacote de sensação de segurança, você tem as medidas de segurança adotadas, que é o que provoca a sensação de segurança e as medidas estruturais do estado, como o feriado, por exemplo. Então o feriado está dentro desse contexto do pacote de segurança. Precisamos ter a cidade mais liberada, trânsito mais liberado para que para que o impacto desses deslocamentos das delegações conviva de maneira mais fluida com a harmonia da cidade.
Pergunta: E se houver um incidente com uma delegação estrangeira?
Resposta: A nossa doutrina segue uma premissa básica de três letras: Proteger, retirar e reagir. Policial que trabalha com segurança dignitários ele protege. Ele retira e, depois, ele reage. O que é que ele faz? A autoridade sofreu alguma lesão? Toda a rede público-privada está à nossa disposição.
Nossos deslocamentos aerotáticos da coordenação de aviação operacional estão prontos para qualquer deslocamento, para qualquer hospital conforme a hipótese do incidente. Então, E a Polícia Federal tem um papel muito importante também, é o de investigar. E a investigação criminal contra qualquer delito ligado à segurança de autoridades é da própria Polícia Federal. Então a gente faz todo esse toda essa atividade, tanto a atividade da segurança operacional como a atividade da investigação. Mas, repito, estamos preparados para que isso não aconteça.
A cidade está segura, a cidade está com todas as forças de segurança no seu máximo esforço de capacidade operacional. O evento cúpula de líderes já começou. Temos quórum, temos segurança, temos sensação de segurança.
A segurança tem o seguinte lema: Segurança boa é aquela que não aparece. Ou seja, não aconteceu nenhum incidente. Poxa, mas aconteceu o G-20, aconteceu BRICS. Tem interação com a imprensa, mostrando as capacidades que são empregadas, mas a gente não tem a mídia negativa de um incidente que aconteceu. A gente trabalha dessa forma, o planejamento de tantos anos, acumulando experiência, trazendo as boas prática de um evento para o outro tem, tem esse objetivo. Garantir que, no final do evento, a gente não tem uma notícia, nenhuma notícia para falar de nenhuma, para nenhuma delegação estrangeira de maneira negativa.
Pergunta: Delegado: queria que o senhor me falasse um pouco sobre a Polícia Federal como polícia de estado e qual é o legado que a Polícia Federal espera deixar para segurança pública da região amazônica e para o país após a COP?
Resposta: Acho que ela traz uma grande inspiração. Muita gente criticou, e a gente foi sempre um defensor dessa ideia.
‘Poxa, mas para fazer essa COP na no Norte do Brasil, por que não faz no Sudeste?’ E a gente, com todas os nossos desafios logísticos, a gente sempre enfrentou esses argumentos conservadores no sentido de ‘por que mudar de cidade’?
E eu acho que o principal legado que a gente traz para a COP aqui em Belém é o legado da superação, é o legado do orgulho de ter dado certo. É o legado de mostrar para o povo do Pará que ele está no centro da atenção do mundo e aí a gente está falando de um legado de autoestima do nosso povo brasileiro. Do norte do Brasil, o Pará representando todo o norte do Estado brasileiro. É o legado da superintendência do Pará, dos servidores da superintendência do Pará de terem o orgulho de terem acolhido todo o efetivo da Polícia Federal, de ter organizado a gestão logística junto com a nossa diretoria de proteção à pessoa. No fundo, é o legado da autoestima.
Isso sentido do subjetivo. No sentido material da discussão climática, o que a gente mais espera é que a nossa a nossa solução de sustentabilidade econômica, social para a região Amazônica, ela seja definida. Nós não temos que viver de financiamentos, de doações esporádicas. A gente tem que buscar um modelo de bioeconomia que esteja muito bem definido e ele tem o seu valor dentro de uma cadeia cadeia global de suprimentos.
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