Bioeconomia já movimenta R$ 9 bilhões no Pará e pode crescer com a COP 30
Estudo aponta que o setor pode gerar mais de 6.500 empregos no estado até 2050
A bioeconomia é apontada como um dos caminhos mais promissores para unir desenvolvimento econômico e preservação ambiental, especialmente na Amazônia. De acordo com um estudo da WRI Brasil, o setor tem potencial para adicionar R$45 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional e gerar mais de 800 mil empregos no Brasil até 2050. Só no Pará, a estimativa é de mais de 6.500 novos postos de trabalho, em um mercado que já movimenta cerca de R$9 bilhões, impulsionado pelo uso sustentável dos recursos da floresta.
Em escala global, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia movimenta cerca de 2 trilhões de euros e emprega 22 milhões de pessoas. A previsão da OCDE é que, até 2030, o setor represente 2,7% do PIB dos países membros, com potencial ainda maior em nações como o Brasil, que possuem grande biodiversidade e políticas públicas voltadas para o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis.
Com a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) prevista para novembro deste ano, em Belém, o crescimento desse mercado tende a se intensificar. O evento deve colocar a Amazônia no centro das discussões globais sobre clima e sustentabilidade, atraindo investimentos e fortalecendo iniciativas que unem ciência, tradição e empreendedorismo de impacto.
“Temos que deixar de ser um eterno potencial”
Para Raul Nunes, engenheiro químico e coordenador do Laboratório de Tecnologia Supercrítica (LABTECS/UFPA), é hora de transformar o discurso em ação concreta:
“Temos que deixar de ser um eterno potencial de desenvolvimento. Temos que virar realidade produtiva, e a bioeconomia pode nos ajudar nessa transformação econômica.”
No laboratório que coordena, Raul e sua equipe aplicam tecnologias limpas para extrair bioativos de frutos, plantas amazônicas e resíduos vegetais — substâncias com aplicação nas indústrias de cosméticos, alimentos e medicamentos. Ele explica que esse tipo de produção ativa toda uma cadeia, desde do plantio ao processamento, passando pela comercialização nos mercados nacional e internacional.
“Se este setor for incentivado, mudaremos toda a cadeia produtiva da região. Criaremos divisas para o nosso estado, pois utilizaremos nossos frutos e plantas para desenvolver novos produtos aqui, sem precisar vender como commodities.”
Para o pesquisador, a COP 30 representa mais do que uma vitrine ambiental:
“Temos que mostrar a nossa riqueza humana: a grandeza dos nossos povos tradicionais, das nossas universidades, dos centros e institutos de pesquisa. Precisamos ser respeitados não somente pelo nosso ecossistema, mas pelo que representamos na manutenção da floresta e na capacidade de aproveitá-la sem destruir nossas riquezas naturais.”
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Profissões que nascem com a bioeconomia
A expansão do setor abre espaço para o surgimento e valorização de novos perfis profissionais, como:
- Especialistas em biotecnologia, engenharia ambiental e química verde
- Produtores de cosméticos naturais, alimentos funcionais e fitoterápicos
- Técnicos em logística sustentável e energias renováveis
- Artesãos de biojoias e moda com propósito
- Guias e operadores de turismo de base comunitária
“Nosso potencial é a floresta”
Esse também é o caminho trilhado por Ingrid Teles, engenheira de produção que criou uma startup voltada ao reaproveitamento de caroços de açaí em novos produtos e serviços.
“Nós nascemos com esse propósito, de buscar soluções para problemas da sociedade, transformando resíduos em novos produtos e agregando valor a eles.”
Desde 2022, o negócio atua em duas frentes: a primeira é a produção de cosméticos sustentáveis, como sabonetes e hidratantes, com impacto social — a cada produto vendido, 5 litros de água são doados para comunidades ribeirinhas. A segunda frente oferece um sistema de tratamento capaz de transformar água de rio em água potável para consumo humano.
“Em eventos de tecnologia, muita gente não gostava quando eu dizia que o nosso potencial era a floresta. Mas essa é a nossa realidade. É aqui que nós estamos, e é nisso que devemos trabalhar.”
Apoio institucional faz a diferença
Para que negócios como o de Ingrid se consolidem, o apoio de instituições é essencial. No caso dela, o Sebrae Pará foi parceiro desde o início, por meio do programa Inova Amazônia, que ofereceu bolsa e suporte técnico na fase de aceleração. Hoje, a instituição segue sendo uma das engrenagens do ecossistema de inovação sustentável no estado.
Além do Inova Amazônia, o Sebrae atua com programas como o NISA (Negócios de Impacto Socioambiental), que identifica e apoia iniciativas com impacto ambiental e social positivo, e o NISA Delas, voltado especificamente para mulheres empreendedoras. A entidade também promove conexões com investidores, capacitações e editais públicos.
“A bioeconomia é uma das grandes apostas do Sebrae Pará para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, afirma Renata Batista, gerente de Sustentabilidade e Inovação da instituição. “Esse mercado está em expansão e representa uma oportunidade real de geração de renda, inclusão social e valorização da biodiversidade amazônica.”
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