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RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Governo Bolsonaro tem ano de 2021 muito difícil, com crise sistêmica e novos desafios

Rodolfo Marques

O ano de 2021 – segundo ano da pandemia de Covid-19 – foi, seguramente, o pior ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), iniciada em janeiro de 2019. Foram 12 meses com questões polêmicas e percalços de todas as ordens, que contribuíram para uma reprovação recorde do governo, em setembro,  e para a inquietude sobre as chances de reeleição de Jair Bolsonaro, em 2022. 

Sem dúvida, o ano, no Brasil, foi marcado pela expansão da Covid-19, com a marca de quase 620 mil mortes e de 22 milhões de casos/contaminações. As posturas negacionistas do presidente da República sobre as medidas restritivas – distanciamento físico e uso de máscaras, principalmente – e em relação ao retardamento na compra das vacinas (além do questionamento da eficácia delas), foram fatores preponderantes para o agravamento da crise sanitária no país. Em março, houve a troca na titularidade da pasta da Saúde, com o general Eduardo Pazuello dando lugar ao médico Marcelo Queiroga. A situação se agravou com o “apagão” de dados de vacinação em dezembro

Todavia, com a cultura do brasileiro de gostar de se vacinar e de se proteger das formas mais graves das doenças, o cenário nacional teve uma melhora no segundo semestre, com menos internações e mortes. A aceleração da vacinação também está ligada à CPI da Covid, que durou cerca de seis meses e que trouxe, à tona, várias questões das falhas do governo na gestão da pandemia. Já em novembro e dezembro, a expansão da variante Omicron do novo coronavírus, assim como os surtos de gripe (influenza/h3N2) deixaram o país em alerta.  

No âmbito político, Bolsonaro também passou por vários desafios e incômodos. Após longas discussões, acabou se filiando ao Partido Liberal (PL), agremiação pela qual deverá disputar a reeleição, neste ano. O presidente também fortaleceu sua aliança, no Congresso Nacional, com os partidos do “Centrão”, grupo heterogêneo de partidos e de parlamentares que dá suporte, em geral, ao Poder Executivo, a partir da negociação para a ocupação de cargos e de priorização de verbas públicas para determinados destinos. Jair Bolsonaro se aproximou muito do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). 

O chefe do executivo também entrou em choque com o Supremo Tribunal Federal, em especial com os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Em 7 de setembro, houve muita repercussão, com as mobilizações de rua contra e a favor do presidente, perpassando pela questão do funcionamento das instituições democráticas. Houve grande apreensão com a possibilidade de radicalização por parte de Bolsonaro – o que acabou não acontecendo, apesar das declarações, em geral, desastrosas do presidente. 

No contexto socioeconômico, o país “desabou” em praticamente todos os índices, com a necessidade e expectativa para a recuperação em 2022. A crise econômica, derivada da pandemia e de todas as consequências geradas a partir dela, trouxe à evidência o problema da fome, da ampliação do desemprego, da carestia – nos preços do gás de cozinha, da gasolina e da carne, por exemplo –, e os desníveis sociais. O governo Bolsonaro ainda não indicou caminhos claros para o enfrentamento dessa crise – assim como o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu protagonismo na gestão e relevância nas falas e decisões públicas.

Por fim, no cenário diplomático e das relações internacionais, o governo federal teve alguns momentos que merecem destaque, em 2021. A troca de governo nos Estados Unidos, com a posse de Joe Biden, em 20 de janeiro, gerou um realinhamento nas relações bilaterais, visto que Bolsonaro havia hipotecado apoio irrestrito ao presidente ianque anterior – e derrotado por Biden no pleito de 2020 –, o empresário Donald Trump, do Partido Republicano. No final de março, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deixou o cargo e deu lugar ao diplomata Carlos França. 

Em 21 de setembro, Jair Bolsonaro fez o discurso de abertura na Assembleia Geral da ONU, mantendo a tradição brasileira dentro desse evento. Em sua fala, o presidente fez uma defesa de seu governo e tocou em algumas pontos referentes ao patriotismo e ao aspecto religioso. E, na COP-26, realizada em novembro, em Glasgow (Escócia), o presidente acabou não se fazendo presente e o país pouco contribuiu, em nível federal, na discussão do meio ambiente e da Amazônia. O Brasil, no geral, aliás, vem perdendo relevância no campo internacional e desperdiçando oportunidades de relações bilaterais e multilaterais mais sólidas. 

Assim, o ano de 2021 foi extremamente complicado para o governo federal, que não soube lidar de maneira efetiva com a crise sistêmica e que ampliou os embates com algumas instituições brasileiras. Há a clareza de que a questão socioeconômica guarda relação direta com as perspectivas políticas e escolhas eleitorais – como será observado no ano de 2022. Ao mesmo tempo, é indiscutível a resiliência de Jair Bolsonaro em relação aos seus apoiadores mais fiéis. Em todas as pesquisas de intenção de voto e mesmo as que tratam da avaliação do governo, Bolsonaro possui de 19% a 24% de simpatia dos cidadãos-eleitores. 

Para se viabilizar no pleito presidencial e para garantir governabilidade no seu último ano do mandato, em 2022, portanto, o chefe do executivo federal precisará rever atitudes e evitar processos de radicalização político-institucional.

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Rodolfo Marques
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