RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

A resiliência de Lula e os desafios de um novo tempo

Rodolfo Marques

A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada entre os dias 12 e 14 de junho de 2025, trouxe um dado relevante para a cena política nacional: o presidente Lula (PT-SP) segue demonstrando resiliência, mesmo diante de um cenário cada vez mais adverso. Apesar dos muitos percalços enfrentados em seu terceiro mandato, iniciado em 2023, o petista mantém um núcleo sólido de apoio e ainda apresenta alguma margem para crescimento – sobretudo se intensificar ações sociais que sempre foram sua marca registrada.

O dado merece atenção: em tempos de desgaste acelerado da política e de fragmentação da opinião pública, manter estabilidade já é, por si só, uma conquista. O contraste com os seus dois primeiros mandatos é evidente. Entre 2003 e 2010, mesmo com o escândalo do mensalão, em 2005, Lula governou em um ambiente de bonança econômica, conciliação política e com amplo apoio popular. Agora, lida com um país mais polarizado, uma classe política mais imprevisível, o empoderamento excessivo do Legislativo na execução do orçamento público, e uma sociedade que, em boa parte, está cética com as promessas da política institucional.

Um dos principais fatores de desgaste do governo atual não vem exatamente da oposição formal – que segue desorganizada e sem um projeto claro para o país –, mas sim da atuação constante de setores da mídia e de outros atores via redes sociais. A blitz midiática contra o governo fabrica – e amplifica – crises quase que diariamente, somadas à ação de uma base extremista que, embora minoritária, é barulhenta e eficaz em moldar narrativas, mesmo que estas não encontrem amparo na realidade. O deputado federal Nikolas Ferreiras (PL-MG), é um exemplo que ilustra esse tipo de movimento mais estruturado na forma de abordagem do que no conteúdo real da crítica.

O ambiente digital, aliás, tem dado palco a uma nova mentalidade, baseada em promessas de “prosperidade fácil”. Influenciadores de finanças e do empreendedorismo propagam a ideia de que esforço individual basta para vencer –  ignorando desigualdades históricas e estruturais e de um ambiente cada vez mais competitivo. Isso cria uma cultura que deslegitima políticas públicas voltadas para os mais pobres e trata ações sociais como “privilégios”, dificultando o diálogo entre o governo e parcelas crescentes da juventude.

Além disso, o novo mercado de trabalho também impõe desafios. Mais exigente, precarizado e orientado pela lógica do alto desempenho constante, esse mercado resiste a intervenções do Estado e enxerga com desconfiança qualquer política que interfira em suas dinâmicas. Trata-se de uma geração de trabalhadores conectados, sobrecarregados e frequentemente desamparados – mas que, paradoxalmente, rejeita o discurso da proteção social, influenciada por valores neoliberais e narrativas de autossuficiência.

A extrema-direita, por sua vez, segue em ascensão no cenário global e ainda exerce forte influência no Brasil, mesmo após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL-RJ). Esse fenômeno, que transcende o ambiente institucional, contribui para o clima de instabilidade e de “fadiga de material” — um cansaço estrutural com as promessas da política, as disputas ideológicas e até com a própria ideia de bem comum. Lula, portanto, não disputa apenas com adversários, mas com uma atmosfera geral de desilusão e apatia.

Ainda assim, o potencial de crescimento de Lula existe. A retomada de programas sociais – e de aplicação de ações mais específicas de geração de emprego e renda – pode consolidar apoios importantes, sobretudo nas periferias urbanas e nas regiões Norte e Nordeste. Esses setores continuam sendo o principal capital político do presidente e, se bem mobilizados, podem garantir não apenas estabilidade, mas até recuperação de popularidade para dar suporte a uma possível quarta vitória eleitoral, em 2026.

Em suma, a pesquisa Datafolha mostra que Lula ainda tem musculatura política e social. Mas também evidencia que este terceiro mandato exigirá muito mais jogo de cintura, resiliência e criatividade do que os anteriores. O país mudou – e Lula também precisa mudar com ele, sem perder de vista o que sempre o fez forte: a capacidade de dialogar com o povo e de colocar os mais pobres no centro das prioridades do Estado.

 

 

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