O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Sobre a sabedoria do perdão

OCélio de Morais

Todos devemos reconhecer com sinceridade d’alma: perdoar não é fácil e não é para qualquer um, embora o perdão como um valor humano esteja ao alcance de todos.

E também precisamos reconhecer que é mais fácil acusar e condenar pessoas sem dó e nem piedade: às vezes endossando outros comentários maliciosos, acusatórios e condenatórios;  às vezes sem saber a razão verdadeira;  às vezes por espírito de  revanchismo pessoal, rancor, raiva e ódio; às vezes por “lacração ideológica” ou às vezes para se mostrar “politicamente correto”.  

Isso é o que se vê na internet e nas redes sociais – o “tribunal super-ético” do mundo atual – onde a tempestade de acusações pode ser equiparada aos apedrejamentos que ocorriam aos cristãos, no primeiro século depois de Cristo, somente porque professavam a fé em Jesus.

Sempre são arranjadas justificativas para não perdoar. Razões para acusar ou apedrejar são catadas – aqui e acolá, em qualquer mínimo detalhe – sobre   ato ou fala que, por infortúnio ou por momento infeliz,  a pessoa tenha cometido. E, assim, uma maravilhosa história construída com honradez e com responsabilidade profissional é totalmente ignorada, é   apagada.  Aniquila-se a história, aniquila-se a honra.  

Então, essas questões cruciais da natureza humana têm me lançado ao desafio para compreender, nas perspectivas teológica e filosófica, qual o sentido da simplicidade e da humildade neste modelo de sociedade líquida que se mostra cada vez mais materialista. 

E minhas reflexões apontam para dois caminhos: os conflitos humanos que são decorrentes da dicotomia entre o materialismo exacerbado e o valor sublime da espiritualidade.

Pessoa que é extremamente materialista não acredita na existência Divina de Jesus e duvida até da existência de Jesus enquanto homem histórico. Seus valores são rigorosamente fundados nas palpáveis coisas terrenas. Para esse tipo de pessoa, a vida acaba – é assim mesmo redundante – quando a vida acaba. 

Na perspectiva materialista, – que é uma perspectiva filosófica da vida, talvez por isso e possivelmente naquela razão soberba — o maior objetivo da vida é a acumulação de dinheiro, de poder e da fama. Esse é um campo minado pela inveja, traição, soberba, egoísmo, vaidade, arrogância e desejo insano de destruir o semelhante, vícios que modificam as virtudes da simplicidade e da humildade. 

Esta pensata teológico-filosófica quer destacar três valores teológicos outorgados por Jesus  para todas as pessoas de boa vontade – pessoas de boa vontade são aquelas abertas à caridade e à fraternidade – e que os considero substanciais à  vida espiritual e filosoficamente centrada nas virtudes da simplicidade e da humildade. 

São os valores da autoconversão e da caridade, do exercício do perdão permanente e da reciprocidade do perdão. 

Nas palavras de Jesus, reproduzidas com fidelidade pelo apóstolo Mateus porque, como discípulo,   esteve  com o Messias – portanto, viu, vivenciou e testemunhou essas verdades –  um  especial valor teológico para a vida espiritual é a autoconversão e a caridade.

Veja-se:

—  “E  Jesus disse: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.  Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” ( Mateus, 7:/1-5)

A mensagem de Jesus é bem clara: se  somos passíveis de erros e os cometemos, não devemos julgar, pois, primeiro devemos ter a autoconversão, isto é, adverte que toda pessoa precisa fazer a sua autorreflexão (e reconhecer suas falhas e erros) e não  simplesmente apedrejar, acusar e condenar o semelhante. A autoconversão (reconhecer os próprios erros) é o caminho sincero para saber perdoar.

Por isso, Jesus adverte: "Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados “E, por isso, também Jesus dá a chave para a simplicidade e para a humildade: é necessário primeiro remover a “viga” atravessada no próprio olho.

Essas são, portanto, as virtudes da autoconversão e da caridade. 

Noutro momento de suas pregações, conforme a vivência presencial de Mateus 18:21-22, Jesus outorgou à humanidade a virtude do perdão.

— “Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?". Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete.”

O que foi dito há mais de dois milênios por Jesus, continua vigorosamente válido para os dias atuais. E mais do que nunca diante dos desumanos, vorazes apedrejamentos e condenações de pessoas na internet e nas redes sociais.

Perdoar setenta vezes sete – uma expressão hebraica de antes e dos tempos de Jesus – representava (e ainda representa porque a mensagem de Jesus é perpétua) que o perdão é um desafio humano permanente e inacabável. 

É uma forma de cada pessoa entender as próprias falhas, vícios e defeitos e, assim, sendo com humildade, cultivar a caridade do perdão, o que representa maior e sincero respeito humano ao próximo. 

Saber perdoar com caridade de alma é um ato honroso que eleva os valores da simplicidade e da humildade nas relações humanas, as quais, desse modo, ficam mais fraternas. 

Além disso, Jesus – ao mesmo tempo em que indica os caminhos da auto-conversa, da caridade e do perdão permanente –  também faz uma outra advertência: a de que somente  seremos perdoados na mesma medida em que perdoamos o outro.

Observe-se o  que disse Jesus aos seus discípulos, na oração do Pai-Nosso: – “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos (...) Vós deveis rezar assim:  (...)  Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. “ (Mateus 6:12).

Esse trecho do Pai-Nosso é, sem dúvida, o que mais comprometedor para quem faz essa oração com sinceridade (e não mecanicamente), pois expressamente – e não mecanicamente – estamos  admitindo que nosso perdão será na mesma medida do perdão que daremos àqueles que  nos ofendem. 

Eis, portanto, mais uma chave para a vida toda: a reciprocidade do perdão, ato virtuoso que somente será possível alcançar se trabalharmos a humildade e a simplicidade como virtudes teológicas e como filosofia de vida. 

Em conclusão: a auto-conversão e a caridade, o perdão permanente e a reciprocidade de perdão, como valores essenciais à vida na simplicidade e na humildade, são antagônicos em relação às atitudes vorazes — alimentadas pelos vícios do ódio, da inveja, da traição, da soberba, do egoísmo, da vaidade e da arrogância – que levam ao apedrejamento de pessoas nas redes sociais e na internet neste modelo de sociedade que parece autofágica. 

 Sem os valores da auto-conversão, da fraternidade, da caridade, do perdão e do amor (valores que pavimentam a simplicidade e humildade) – essa é uma verdade que penso ser sustentável – ninguém poderá jactar-se de defensor da dignidade humana.

É preciso sublimar a alma na simplicidade e na humildade para aprender a arte de perdoar. 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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