As escolhas, o pântano e os crocodilos Ocelio de Morais 10.06.25 10h30 Quantas vezes já nos sentimos assim, inseguros, impotentes ou injustiçados como se estivéssemos no meio do lago, no meio rio ou no meio do pântano rodeados de crocodilos? E lá no meio nos sentimos, de alguma forma, nos sentimos aprisionados. Ao que parece, em alguns momentos da vida, temos a sensação de que vivemos no pântano rodeado de crocodilos – aqueles temíveis animais semiaquáticos agressivos, predadores e carnívoros – porque as situações indicam que tudo parece está contra nós e não vemos esperanças em nada. Essa metáfora – a pessoa no meio do pântano cercada por crocodilos – pode representar muito bem aqueles momentos que a gente se sente cansado das injustiças e alma acabrunhada ver dia a dia a esperança fluir entre os dedos das mãos e, do coração, desaparece a alegria e a felicidade. O grande lago, o grande rio ou o grande pântano representam, nesta pensata, o grande tabuleiro da vida, à medida que – por toda a existência corpórea – a vida estará sujeita às diversas intempéries, relacionadas às questões políticas, sociais, econômicas, culturais e religiosas de um modo geral e, mais especificamente, vinculadas às individualidades pertinentes à saúde, ao trabalho, ao bem-estar, à realização profissional e à centralidade espiritual. Nas questões socioeconômicas – quando a situação é a miséria e a penúria, gerando desigualdades sociais e o aviltamento da dignidade – o pântano e os seus crocodilos vorazes parecem intransponíveis. A pessoa se sente impotente e resignada. A pessoa não vê perspectivas de melhorar a própria condição socioeconômica e da família e, para sobreviver, acaba se sujeitando a tudo ou a quase tudo, incluindo-se coisas que nunca imaginaria que poderiam acontecer com a sua vida. O desemprego é uma espécie de grande pântano. A pessoa fica atolada em dívidas – dívidas que são como areia movediça. E não consegue sair do atoleiro. Falta-lhe também trabalho digno, outro pântano da dívida social. Os crocodilos representam as políticas socioeconômicas, aquelas que rompem as barreiras da governança e, desse modo, não priorizam a pessoa humana e ignoram o sublime princípio da prevalência dos direitos humanos. Nessa condição, a pessoa torna-se refém das anestesiantes narrativas ideológicas, portanto, fica cega acerca do que é certo e do que é errado na vida política. A pessoa passa a viver numa espécie de “dependencionismo” estatal – aquele tipo condição da pessoa que não é livre. As narrativas em nome das “verdades” ideológicas – ao relativizar a ética, a democracia e os bons valores inerentes à dignidade humana – acabam promovendo mais desigualdades sociais, mais desigualdades de gênero, mais discriminações religiosas e mais desigualdades de raça e de cor. Desigualdades promovidas na contramão do preconizado na Constituição Federativa, a qual é – ressalte-se – magnífica quando declara que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” e quando anuncia como um objetivo fundamental da República “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” As extremas narrativas ideológicas divisionistas também podem ser comparadas ao grande pântano, notadamente quando a pessoa perde a autonomia de pensar e de agir de forma livre e consciente. É neste ponto que a pessoa nem percebe, mas já saíram de seu domínio, por exemplo, o direito à inviolabilidade de liberdade de consciência e de crença, o direito à inviolabilidade da liberdade de pensamento e de livre expressão. A ideologia que relativiza a ética na coisa pública e que também relativa a vida e os valores que podem dignificá-la é, igualmente, uma espécie de grande pântano. No meio deste pântano, existe um turbilhão de situações que impõe temor e medo, e aprisiona as liberdades. Os crocodilos, nesta metáfora, também podem ser representados por aqueles que constroem narrativas massificadas para manipular ideologicamente as pessoas. Mas, observe-se bem: tudo é resultado das escolhas e das decisões de natureza pública e privada, pois toda escolha e decisão – motivadas pela condição humana do momento (condição aqui tomada no sentido ontológico que designa a característica ou a essência que determina algo ou alguém) – produz um resultado imediato ou imediato, positivo ou negativo. Mas como cada um pode identificar onde tudo começou? Se folhearmos as páginas do nosso livro, certamente iremos encontrar as motivações das escolhas e das decisões passadas, que influenciam a vida no presente e podem projetar as expectativas do futuro. É possível que sejam identificados o momento e a razão do aprisionamento ao pântano ideológico cercado por crocodilos. Também é possível que se encontrem as raízes motivacionais da vida. Então, assim posso concluir esta pensata: consiste num desafio diário, por toda a vida, fazer a boa escolha para a tomada da correta decisão – aquela decisão baseada na ética virtuosa, pois é dela que tudo o mais decorre para viver com tranquilidade de alma e serenidade espiritual. ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. 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