Os sinais do Papa Leão XIV: o que significa ser um agostiniano na Cátedra de Pedro? Ocelio de Jesús Morais 15.05.25 11h29 Quando nascemos – todo cristão acredita nisso – trazemos um propósito especial que é, na essência, evoluir espiritualmente, através do exercício das nobres virtudes da fraternidade, da caridade, da solidariedade e da comunhão. Apesar disso, excetuado o caso de Jesus Cristo, que já nasceu sabendo que seria traído, condenado numa farsa de julgamento, morto por um sistema religioso e político corrupto e que iria ressuscitar – nenhum outro ser humano sabe qual será o seu destino até o último dia de vida. Esse é um mistério extraordinário da espiritualidade, pois funciona – para aqueles que não fazem da vida uma vala comum de coisas sem sentido – como uma espécie de desafio ao enfrentamento das vicissitudes que irão aparecer no curso da vida. Isso quer dizer, por outro sentido, que fazemos nossas próprias veredas para chegarmos ao topo da montanha – a montanha dos nossos objetivos, onde está o tesouro valioso de nossos sonhos,que pode ser a ascese espiritual. Ao propósito especial a que me refiro, Tomás de Aquino, nos artigos 1º, 2º e 7º da Suma Teológica, traduz como “dom de Deus” ou desígnio, porque, explicou o teólogo e filósofo cristão, nascemos “subordinados aos desígnios ocultos e invisíveis de Deus” para “iluminar” nossas vidas - desígnios que são revelados por “(...) Deus que fala com os santos anjos quando lhes mostra às mentes os seus desígnios ocultos e invisíveis”. Sendo “desígnios ocultos e invisíveis de Deus”, os dons são sempre para o bem, muito embora no campo do livre arbítrio a pessoa possa fazer opções desvirtuadas e corrompidas pelo mal. Nessa perspectiva, “o bem e o mal são contrários”, como dizia Agostinho de Hipona, na obra “O Livre Arbítrio” – livro que trata da liberdade, da moral e da responsabilidade humana e da origem do mal. O livre arbítrio promove esse paradoxo constante: o mal sempre se opõe ao bem, porque sua finalidade maior é neutralizar ou eliminar o bem. A história está cheia desses paradoxos: de um lado, pessoas extraordinárias que contribuíram (e ainda contribuem) para evolução dos valores e princípios humanos; de outro, a história também registra uma enormidade de pessoas que dedicaram a vida (e outras ainda se dedicam) a promover guerras, a praticar genocídios, a impor regimes autoritários e ditatoriais, a promover a corrupção, a promover injustiças – pessoas que se sentem o centro e donas do mundo. São pessoas más! Escrevo esta pensata – a partir das perspectivas dos desígnios ocultos e invisíveis de Deus e do livre arbítrio – com o olhar da esperança voltado ao novo Sumo Pontífice, o Papa Leão XIV, eleito no último dia 7 de maio pelo conclave que reuniu 133 cardeais da Igreja Católica em sucessão ao Papa Francisco, falecido a 21 de abril de 2025. Certamente, a criança Robert Francis Prevost – nascida em Chicago (EUA) em 14 de setembro de 1955, um virginiano como eu – não tinha a menor ideia de que, um dia, seu dom especial, ou sua graça Divina ou seu desígnio oculto e invisível seria a Cátedra de Simão Pedro, na Igreja Católica. Isso nos leva a crer que os desígnios de Deus são realmente “ocultos e invisíveis” e que a boa escolha (o livre arbítrio) estão para as todos os humanos assim como os dias e as noites cumprem seus ciclos ordenados, proporcionando a todos os seres habitantes da Terra a experiência que a rotação pode oferecer com os seus inusitados efeitos climáticos e geográficos. Hoje pode-se afirmar que Robert Francis Prevost nasceu com o dom especial da liderança espiritual universal. A sua trajetória eclesiástica é a prova disso. Usou bem o livre arbítrio: desde cedo – em 1973, concluiu seus estudos secundários no seminário menor da Ordem de Santo Agostinho – e a 2 de setembro de 1978 fez seus primeiros votos religiosos, mesmo mês do falecimento do Papa João Paulo I, ocorrido em 28 de setembro de 1978, exatos 33 dias após ter sido eleito em sucessão ao Papa Paulo VI (eleito em junho de 1963 e falecido a 6 de agosto de 1978). Na sua primeira manifestação pública, na tradicional janela central da Basílica de são Pedro, no Vaticano, pouco tempo depois da fumaça branca na chaminé da Brasília, o novo Papa, Robert Francis Prevost – foi ordenado padre em 1982, nomeado bispo em novembro de 2014, arcebispo em janeiro de 2023 e cardinalato em setembro de 2023 – fez duas revelações importantes, que podem indicar os caminhos que seu pontificado percorrerá enquanto doutrina teológica e social para os cristãos da Igreja Católica. Um, declarou-se agostiniano, uma referência ao teólogo e doutor da Igreja Católica, o bispo Agostinho de Hipona. Os agostinianos (Ordem de Santo Agostinho fundada na Itália no século XIII por monges eremitas) são conhecidos pela busca de Deus através da oração, pelo dedicação ao estudo da Teologia, pela vida em comunidade e pela caridade pastoral – traços espirituais que marcaram a vida do bispo de Hipona. Então, pode-se imaginar – e ter a esperança – de que o Pontífice Leão XIV, sob a perspectiva teológica, vai procurar difundir aos cristãos católicos os ideários teológicos e espirituais inspirados em Santo Agostinho. Considerando que a oração alimenta a fé no Criador, e por ser, a oração, um dos valores espirituais recomendados bem antes por Jesus (vigiar e orar para não cair em tentação,Mateus 26:41 e 6:13), isso também é uma alvissareira esperança para a tradição teológica da fé cristã. Por outras palavras: foi anunciada por suas primeiras palavras uma ênfase especial aos valores espirituais numa sociedade e mundo que têm esvaziando progressivamente os valores e princípios da fé cristã. A outra revelação veio com a escolha do nome Papal (Leão XIV), numa referência ao Papa Leão XIII (20.02.1878 a 20.07.1903), o Pontífice autor da famoso encíclica Rerum Novarum (1891) – dentre as dezenas que escreveu – onde apontou que o comunismo causa “perturbação em todas as classes da sociedade”, sendo “um fator de empobrecimento e de injustiças, porque “em lugar dessa igualdade tão sonhada”, por outro lado, causa “a igualdade na nudez, na indigência e na miséria. Mas também advertiu que os patrões não podem explorar os trabalhadores, porque isso também gera injustiças, por isso, devem “fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade”, assim como trabalhador “não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências e nunca revestirem a forma de sedições”. E foi para o contexto daquela iniciante revolução industrial que Leão XIII – ao afirmar que “não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital” – pediu a concórdia e não a luta de classes, ao mesmo tempo em que atribuiu à Igreja o papel social da concórdia no mundo do trabalho, mas cuja missão deve ser através da religião, baseada no Evangelho, sem a qual “é impossível encontrar uma solução eficaz” para a questão social. Se a opção pelo nome (Leão XIV) quer indicar uma retomada do pensamento social da igreja para a questão do trabalho – agora no século XXI da Era da Inteligência Artificial ocupando as tarefas e trabalho humano – é a grande expectativa do mundo, a partir da escolha do nome Papal. De qualquer forma, os dois momentos históricos – aquele do papa Leão XIII (o comunismo e as lutas de classes; o capitalismo e a exploração da mais valia) – guardam verossimilhanças, à medida que a realidade do mundo atual também demonstra a extremações ideológicas, com evidentes menosprezo aos valores da família, com a proibição à manifestação às liberdades religiosas e ridicularização da fé cristã. Observamos, então, de que forma o mestre em Divindade pela Catholic União Teológica em Chicago e doutor em doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, o nosso Papa Leão XIV vai implementar esse maravilhoso desígnio (oculto e invisível (de Deus) à sua vida na condução de seu Pontificado. ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas oceliodemorais Ocelio de Jesús Morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! 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