Sistema liberta ladrão e mata inocente Océlio de Morais 17.05.22 8h00 (De como o sistema conspirou contra Jesus) Uma das coisas que mais me intriga é aquilo que denomino de obscurantismo da inteligência ou lapso de memória coletiva ou ainda amnésia geral . Esse sentimento me ocorre sempre que leio o Capítulo 21, versículo 9 do Evangelho de Mateus: “A multidão que ia adiante, e a que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” E ainda quando leio Lucas 9:11: “E, sabendo-o da multidão que o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura.” A multidão que o aclamou como o Filho de Deus, o seguiu e ficou maravilhada com os milagres de Jesus – beneficiária das curas prodigiosas e destinatária do novo código do amor caridoso e fraternal – é a mesma que O preteriu. E também ingenuamente endossou o jogo político dos sacerdotes, doutores da lei e do governador da Judéia, Pôncio Pilatos, para condenar Jesus e libertar o assassino Barrabás, o salteador das legiões romanas – um ladrão já condenado à morte. Por que o povo esqueceu tão rapidamente os prodígios divinos do Mestre dos mestres de todos os tempos? Por qual motivo o povo não soube separar o joio do trigo, tal como Jesus havia orientado: “(...) Colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro” (Mateus? 13: 24-46), disse Jesus na parábola do trigo e do joio, explicando que “O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo” O joio, ali, era o jogo sujo do poder político de Pôncio Pilatos aliado ao sistema religioso judaico. Quando se fala em sistema, geralmente vem uma ideia abstrata de que se trata de algo fluido e incontrolável, que se interligam para formar um todo organizado. Mas no coração do sistema tem algo concreto: pessoas que são movidas por inúmeros interesses e, assim, vão criando suas redes (éticas ou anéticas) nas entranhas do sistema. Um jogo político corrupto: Pilatos queria porque queria mais dinheiro para construir um aqueduto que passava pelo Templo, pela área urbana de Jerusalém e chegava diretamente no seu palácio. E, assim, pretendia ampliar o seu prestígio político junto ao imperador Tibério. Os secadores, por sua vez, queriam porque queriam manter sua influência religiosa sobre o povo alienado. E do povo exigir o dízimo para sustentar seus luxos e avarezas – dízimo que também alimentava o regime político de Pilatos. Tudo era bem articulado: Caifás foi nomeado por Valério Grato, um poderoso comandante ou general romano na região da Galileia, território que abrangia Jerusalém. Disso decorria o poder político do Sinédrio (uma espécie de supremo tribunal dos judeus da época), liderado por Caifás, o qual, –em razão da nomeação pelo comandante romano – passa a ter grande prestígio na tradição judaica e também se constitui num fiel colaborador político do Império romano. Esse foi o sistema (o joio) que manobrou o povo para libertar Barrabás e condenar Jesus. Mas, para o temor e preocupação daquele sistema, a boa semente de trigo germinou. O trigo, o bom e saudável trigo, era (e ainda O é) Jesus, o Messias anunciado por todas as profecias do Antigo Testamento. O Mestre chegou desafiando o sistema. Mandou o recado direto aos homens que o manipulam: “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? (Mateus, 8?36). Sentindo-se ameaçado, o sistema reagiu como sistema corrupto: entre o ladrão e o assassino sem o carisma entre o povo, e o profeta influente e prodigioso em milagres, os homens do sistema preferiram aquele que lhes era conveniente: libertou o ladrão e o assassino, que já está preso e condenado à morte. E matou o inocente: Jesus. É possível, de um ponto de vista lógico, que – na alienação do povo, ignorante acerca dos reais interesses do sistema político – esteja uma das respostas para a incrédula mudança na postura do povo no julgamento de Jesus: a manipulação ideológica daquele sistema corrupto e corruptível. Era um sistema opressivo, do ponto de vista da ideologia romana massivamente imposta ao imaginário do povo que não tinha o senso crítico da realidade – pessoas que não sabiam separar o joio do trigo. A troca de favores políticos e financeiros entre os doutores da lei, sacerdotes e Pânico Pilatos alimentava a corrupção daquele sistema: a gestão da coisa pública era corrupta, fato, aliás, que se perpetua na história de muitos sistemas políticos de nossa contemporaneidade. Barrabás era uma espécie de líder dos salteadores, um assassino do grupo dos Zelotas, que lutava contra a dominação romana. Porém, não tinha forças para enfrentar aquele sistema. E assim como foi beneficiado pelo sistema, também por ele foi descartado, sem cerimônias. Depois da libertação de Barrabás, o povo viu o que aconteceu: Barrabás continuou na saga dos assaltos e assassinatos. Passou a ideia de que o crime sempre compensa, até que o sistema romano o eliminou. Mas Barrabás teve tempo de se arrepender: ao pé da cruz da crucificação, faminto e maltrapilho. reconheceu seus crimes, fato relatado no livro “O que a Bíblia não falou sobre Jesus”, editora Novo ser, 2013: “Matei, furtei, prejudiquei”, teria dito Barabás, teria dito Barrabás, questionando: “Por que motivo fora o Cristo condenado?”, ao mesmo tempo em que converteu-se: “- “Agradeço-te, oh! Deus Onipotente, a inesperada graça.” Por sua vez, Caifás, depois da crucificação de Jesus – isso está no Capítulo 4 do Atos dos Apóstolos, – continua perseguindo os discípulos de Mestre: “(...) Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum.” E, assim, as histórias de Jesus e de Barrabás se cruzaram naquela farsa de julgamento, onde ardilosamente no obscurantismo da inteligência do povo, o governador Pôncio Pilatos lavou as mãos: “Percebendo Pilatos que não conseguia demover o povo, mas, ao contrário, um princípio de tumulto já era visível, ordenou que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante da multidão e exclamou: “Estou inocente do sangue deste homem justo. Esta é uma questão vossa!” E todo o povo respondeu: “Caia sobre nossas cabeças o seu sangue, e sobre nossos filhos”. (Mateus, 27:24-25). Ele queria passar a seguinte mensagem final: vocês são responsáveis pela morte de um inocente, minha consciência está livre de culpa. Mas, nu fundo, ele tinha medo de perder prestígio político em Roma. Por certo que Jesus já havia previsto que seria rejeitado e morto pelo sistema: “Pois é necessário que o Filho do homem passe por muitos sofrimentos e venha a ser rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei; seja assassinado e, ao terceiro dia, ressuscite”. Tome a sua cruz e siga a Jesus” (Lucas, 9: 21-22). Jesus foi claro e direito, numa percepção filosófica : os sistemas de poder podem ser justos ou injustos, éticos e corruptos, conforme a natureza ética ou antiética dos agentes que o compõem. A profecia ficou atemporal. E como na época da existência humana de Jesus, nossos tempos também registram sistemas de poder corruptos, mudando apenas as técnicas manipulatórias da consciência do povo. E os atos se repetem, vão se transformando em fatos similares e, assim, a humanidade vai enfrentando sua dualidade: cria sistemas éticos aceitáveis, mas também vai perpetuando sistemas de poderes políticos minados pela corrupção. _______________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M.) Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. 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