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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Sistema liberta ladrão e mata inocente

Océlio de Morais

(De como o sistema conspirou contra Jesus)

Uma das coisas que mais me intriga é aquilo que denomino de obscurantismo da inteligência  ou lapso de memória coletiva ou ainda amnésia geral . 

Esse sentimento me ocorre sempre que leio o Capítulo 21, versículo 9 do Evangelho de Mateus: “A multidão que ia adiante, e a que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” E ainda  quando leio Lucas 9:11: “E, sabendo-o da multidão que o seguiu; e ele os recebeu, e falava-lhes do Reino de Deus, e sarava os que necessitavam de cura.”

A multidão que o aclamou como o Filho de Deus, o seguiu e ficou maravilhada com os milagres de Jesus – beneficiária das curas prodigiosas e  destinatária do novo código do amor caridoso e fraternal – é a mesma que O preteriu.

E também ingenuamente endossou o jogo político dos sacerdotes, doutores da lei e do governador da Judéia, Pôncio Pilatos, para condenar Jesus e libertar  o assassino Barrabás, o salteador das  legiões romanas  – um ladrão já condenado à morte.

Por que o povo esqueceu tão rapidamente os prodígios divinos do Mestre dos mestres de todos os tempos? 

Por qual motivo  o povo  não soube separar o joio do trigo, tal como Jesus havia orientado: “(...) Colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro” (Mateus? 13: 24-46), disse Jesus na parábola  do trigo e do joio, explicando que “O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo” 

O joio,  ali, era o jogo sujo do poder político de Pôncio Pilatos   aliado ao sistema religioso judaico.  Quando se fala em sistema, geralmente vem uma ideia abstrata de que se trata de algo fluido e incontrolável,  que se  interligam para formar um todo organizado. Mas no coração do sistema tem algo concreto: pessoas que são movidas por inúmeros interesses  e, assim, vão criando suas redes (éticas ou anéticas) nas entranhas do sistema.

Um jogo político corrupto: Pilatos  queria porque queria  mais dinheiro para construir um aqueduto que passava pelo Templo, pela área urbana de Jerusalém e chegava diretamente no seu palácio. E, assim, pretendia ampliar o seu prestígio político junto ao imperador Tibério. 

Os secadores, por sua vez, queriam porque queriam  manter sua influência religiosa sobre o povo alienado. E do povo exigir o dízimo para sustentar seus luxos e avarezas – dízimo que também alimentava o regime político de Pilatos.

Tudo era bem articulado: Caifás  foi nomeado por Valério Grato, um poderoso comandante ou general romano na região da Galileia, território que abrangia   Jerusalém. Disso decorria o poder político do Sinédrio (uma espécie de supremo tribunal dos judeus da época), liderado por Caifás, o qual, –em razão da nomeação pelo  comandante romano –  passa a ter grande prestígio na tradição judaica e também se constitui num fiel colaborador político do Império romano.

Esse foi o sistema  (o joio) que manobrou o povo para libertar Barrabás e condenar Jesus.

Mas, para o temor e preocupação daquele sistema, a boa semente de trigo germinou. O trigo, o bom e saudável trigo, era (e ainda O é)  Jesus, o Messias anunciado por todas as profecias  do Antigo Testamento.  O Mestre chegou desafiando o sistema. Mandou o recado direto aos homens que o manipulam:  “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? (Mateus, 8?36).

Sentindo-se ameaçado, o sistema reagiu como sistema corrupto: entre o ladrão e o assassino sem o carisma entre o povo, e o profeta influente e prodigioso em milagres, os homens do sistema  preferiram aquele que lhes era conveniente: libertou o ladrão e o assassino, que já está preso e condenado à morte. E matou o inocente: Jesus.

 É possível, de um ponto de vista lógico, que – na alienação do povo, ignorante acerca dos reais interesses do sistema político – esteja uma das respostas para a incrédula mudança na postura do  povo no julgamento  de Jesus: a manipulação ideológica daquele sistema   corrupto e corruptível.

Era um sistema  opressivo, do ponto de vista da ideologia romana  massivamente imposta ao imaginário do povo que não tinha o senso crítico  da realidade – pessoas  que  não sabiam separar o joio do trigo.  

A troca de favores políticos e financeiros  entre os doutores da lei, sacerdotes e Pânico Pilatos  alimentava a corrupção daquele sistema: a gestão da  coisa  pública  era corrupta, fato, aliás, que se perpetua na história de muitos sistemas políticos de nossa contemporaneidade. 

Barrabás era uma espécie de líder dos salteadores,  um assassino do grupo dos Zelotas, que lutava contra a dominação romana.  Porém, não tinha forças para enfrentar aquele sistema. E assim como  foi beneficiado pelo sistema, também por ele  foi descartado, sem cerimônias.

Depois da libertação de Barrabás, o povo viu o que aconteceu:  Barrabás  continuou na saga dos assaltos e assassinatos. Passou a ideia de que o crime sempre compensa, até que o sistema romano o eliminou.   

Mas Barrabás teve tempo de se arrepender:  ao pé da cruz da crucificação, faminto e maltrapilho. reconheceu seus crimes, fato relatado no livro  “O que a Bíblia não falou sobre Jesus”, editora Novo ser, 2013: “Matei, furtei, prejudiquei”, teria dito Barabás,  teria dito Barrabás, questionando: “Por que motivo fora o Cristo condenado?”,  ao mesmo tempo em que converteu-se: “- “Agradeço-te, oh! Deus Onipotente, a inesperada graça.” 

Por sua vez, Caifás, depois da crucificação de Jesus –  isso está no  Capítulo 4 do Atos dos Apóstolos,   –  continua perseguindo os discípulos de Mestre: “(...) Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum.”

E, assim, as histórias de Jesus e de Barrabás se cruzaram naquela farsa de julgamento, onde ardilosamente no obscurantismo da inteligência  do povo, o governador Pôncio Pilatos lavou as mãos: “Percebendo Pilatos que não conseguia demover o povo, mas, ao contrário, um princípio de tumulto já era visível, ordenou que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante da multidão e exclamou: “Estou inocente do sangue deste homem justo. Esta é uma questão vossa!” E todo o povo respondeu: “Caia sobre nossas cabeças o seu sangue, e sobre nossos filhos”. (Mateus, 27:24-25).

Ele queria passar a seguinte mensagem final: vocês são responsáveis pela morte de um inocente, minha consciência está livre de culpa. Mas,  nu fundo, ele tinha medo de perder prestígio político em  Roma.

Por certo que Jesus já havia previsto que seria rejeitado e morto pelo sistema: “Pois é necessário que o Filho do homem passe por muitos sofrimentos e venha a ser rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei; seja assassinado e, ao terceiro dia, ressuscite”. Tome a sua cruz e siga a Jesus” (Lucas, 9: 21-22).

Jesus foi claro e direito, numa percepção filosófica : os sistemas de poder podem ser justos ou injustos, éticos e corruptos, conforme  a natureza ética ou antiética dos agentes que o compõem.

A profecia  ficou atemporal.  E como na época da existência humana de Jesus, nossos tempos também registram sistemas de poder corruptos, mudando apenas   as técnicas manipulatórias da consciência do povo. 

E os atos se repetem, vão se transformando em fatos similares e, assim, a humanidade vai enfrentando sua dualidade: cria sistemas éticos aceitáveis, mas também vai  perpetuando sistemas de poderes  políticos minados pela corrupção. 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M.)

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