O que deve mudar primeiro? As leis ou a mentalidade do legislador? Océlio de Morais 08.03.22 8h00 Nos olhos, uma venda, a deusa romana Diké é a imparcial. Maat , a egípcia, com espada na mão direita, é a Justiça forte e honrada. E Themis com a sua balança traz a ideia da deusa do equilíbrio. Tudo isso compõe a ideia da Justiça: aquela estátua de uma mulher quer dizer essencialmente que a Justiça nunca deve ser parcial, mas eternamente honesta e justa. Os filósofos sabem que a filosofia vai muito além do modo particular de pensar, mas também é uma concepção relativa às regras ou princípios relativos à vida prática. A partir das regras e princípios éticos e morais, a filosofia busca desvendar a condição humana. Por aí dá para entender que a filosofia faz radiografia humana à luz da razão. Isso me autoriza a afirmar - muito embora de modo geral passe despercebido das decisões judiciais - que o espírito de uma lei tem por finalidade a busca da razão (ou Direito). Isso leva à outra questão: a Justiça virtuosa montesquiana - “la bouche de la vérité” (a boca da verdade) - deve ser a busca incessante da razão, o que leva à conclusão lógica: a Justiça deve julgar pelo Direito. Mas, meu quarto de século na magistratura me deu a visão da realidade do que é a Justiça trabalhista nesse torrão amazônico: uma Justiça tendencialmente pró-trabalhador. Por muitas vezes, quando desafiado às decisões complexas, sempre refleti que isso tem representado a superação da máxima latina segundo a qual “ratio est lex anima” (A razão é a alma da Lei). De modo simplificado isso pode ser traduzido assim: a lei, que deve ser aplicada em benefício daquele tem a razão (ou o Direito), nem sempre alcança a complexidade do fato, e, como consequência, a decisão judicial acaba ganhando contornos políticos . Isso pode ser identificado, por exemplo, nas ações e decisões judiciais relativas aos processos coletivos e nas decisões sobre combate, eliminação e controle do trabalho análogo à condição escrava na Amazônia ou, ainda, em ações ambientais específicas ao meio ambiente do trabalho digno e seguro. Logo, mais especificamente aquele espírito normativo inserto no vigente artigo 1º da Consolidação das Leis do Trabalho - “ Esta Consolidação estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho” - não tem sido suficiente como critério normativo para resolver as especificidades jurídicas das novas modalidades de relações de trabalho. Então, essa questão leva à outra: as leis devem ser mudadas ou primeiro a mentalidade (do legislador) deve ser mudada e depois as leis? Se a lei é o meio pelo qual os juízes devem resolver todos litígios humanos, e se a justiça deve decidir pela razão, nem as leis e nem as decisões judiciais devem ser ideologizantes. Decisões judiciais que ignoram a razão como alma da Justiça criam, por natureza, mais dissensos e conflitos sociais, à medida que geram discriminações entre as pessoas. A razão como alma da lei exige adequação à realidade de seu tempo, condição que vivifica a ideia da Justiça com a sua venda nos olhos, a sua espada e a balança. Por outras palavras: é a Justiça que decide pelo Direito e não pela ideologia lei, pois a lei deve ser a certeza da igualização de direitos, nunca discriminatória da razão da Justiça. _______________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M, Océlio de Jesus) e respectiva fonte de publicação. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM OCÉLIO DE MORAIS Océlio de Morais O Papa Francisco, o ativista da teologia da humildade e da amizade social 22.04.25 8h05 Océlio de Morais Qual a sua palavra certa e perfeita para saboreá-la e viver dentro dela? 15.04.25 10h01 Océlio de Morais Os três verbas fortes da justiça para não cometer injustiças 01.04.25 8h53 Océlio de Morais E se tivéssemos um aplicativo tecnológico para medir ética na sociedade? 25.03.25 8h53