O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Jesus, o filósofo da verdade e da esperança aos injustiçados

Océlio de Morais

Ao reler a obra prima “A República – escrita por por Platão, volta de 380 a.C. – chamou-me a atenção aquilo que poderíamos dizer que teria sido uma espécie de profecia que o mundo iria conhecer: a história de um homem mais puro e mais justo, mas que seria açoitado,  torturado,  acorrentado e, ao final, crucificado. 

Por certo que, na época de Sócrates e Platão, não se falava em profecias como veio a acontecer nos tempos bíblicos do Antigo e Novo Testamentos; mas, em oráculos – os  locais tidos como sagrados das comunicações dos deuses   às Pitonisas ou aos Pítias  sobre o destino humano .

Lá  no Livro II, Platão relata um diálogo entre Sócrates (o seu mestre) ,  Adimanto, e Glauco  sobre os valores da Justiça ,  sobre a honradez do  “juiz bom e sábio (homem de “alma justa”)”. 

Abro um parêntesis para publicar o excerto: 

“Glauco —  (...). Agora, se eles são como acabo de os apresentar, julgo não ser difícil descrever o gênero de vida que os espera. Portanto, digamo-lo; e, se esta linguagem for demasiado rude, lembra-te, Sócrates, que não sou eu quem fala, mas aqueles que situam a injustiça acima da justiça. Eles dirão que o justo, (...) será açoitado,  torturado, acorrentado, terá os olhos queimados, e que, finalmente, tendo sofrido todos os males, será crucificado e saberá que não se deve querer ser justo, mas parecê-lo. (...)".

Três séculos e oitenta anos depois daquele vaticínio de Glauco relatado por Platão, Jesus nasceu em Belém da Judeia ou da Galileia – historiadores, antropólogos e arqueólogos dividem opiniões sobre o local do nascimento, mas a tradição da Bíblia Sagrada afirma que foi em Belém da Judéia, a cidade  do rei Davi .

O enredo da história é conhecido de todos: o homem mais justo e mais virtuoso  para os Cristão, que já viveu neste Planeta,  seguiu exatamente o roteiro daquele famoso diálogo entre maiêutico Socrático:    o homem justo,  honesto e  virtuoso foi preso,  açoitado,  torturado e acorrentado – só não teve os os olhos queimados – e foi  impiedosamente crucificado: Jesus é assassinado pelo conchavo político (romano) e religioso (judaico) de então, que  se sentiu ameaçado pelas verdades libertadoras ecoaram como chicotes nos ouvidos, mentes  e corações dos injustos homens daquele sistema – verdades libertadoras plenas das  virtudes de justiça, aquelas que, por princípio, rejeitam toda  e qualquer espécie de injustiça. 

No caso de Jesus – e por outra forma também foi o julgamento de Sócrates condenado ao auto envenenamento por crimes que não cometeu –  prevaleceu extremamente como relatado por Platão: os homens injustos , como não poderia ser diferente, colocaram a injustiça acima da justiça.

Os dois casos apontam que os dois filósofos da verdade, embora em épocas distintas, não viveram  pelas aparências, mas concretamente de acordo com a verdade, porque simplemente eram homens justos e honrados. 

Então,  as condenações à morte de Sócrates e de Jesus pelas forças iníquas daqueles que colocaram a injustiça sobre os valores da justiça, à primeira vista, poderia  estimular  a ideia de que seria melhor viver conforme as aparências da justiça e não propriamente de acordo com a força da honradez da justiça, cujo fundamento sempre deve ser a verdade.

Isso poderia levar à ideia de que viver conforme as aparências da justiça seria mais valioso  do que viver de acordo com  os valores da justiça. 

Ou ainda: se há algum fundo  de verdade na afirmação que geralmente se ouve, de que a  vida do injusto é muito melhor do que a do justo, seria lógico dizer que nenhuma vantagem decorre  (para a  boa vida) das escolhas justas, sendo preferível as escolhas injustas, visto que  os valores da justiça, nesta hipótese, são ignorados pela injustiça. 

Conquanto assim possa ser visto em determinadas situações,  a hipótese em oposição –  àquela de que a vida do injusto é muito melhor do que a do justo  – é baseada  na visão filosófica que Jesus apresentou como um prêmio ou recompensa  aos injustiçados, ainda que justo e bom sejam os seus valores de vida. 

Então, eis a questão central como problema reflexivo: sendo, a vida, uma experiência contínua em busca da felicidade e se a felicidade é incompatível com  a injustiça, em que medida vale a pena ser uma pessoa honesta e justa, quando a filosofia da justiça dos homens , dissociada desses valores, é apenas uma aparência de justiça?   

Essa questão, sem dúvida, domina muitas mentes e corações honestos, porém, não podem solapar o princípio de justiça que reside em cada um,  pois o princípio motor da  filosofia da justiça deve ser  a verdade como sentido mais nobre da vida.

Quando se fala em  filosofia da justiça  dos homens, é certo que estamos  diante dos desafios de entender os princípios que  iluminam e orientam sobre o que é justo  ou injusto nas relações humanas em todos os seus ambientes.  Assim, e por isso, a filosofia da justiça  dos homens  tem por princípio  teleológico a busca da convivência  baseada na ética social, que é uma das partes  bem legais e prazerosas da vida. 

O princípio  finalístico  é a busca da convivência  baseada na ética social – ética social que não será possível em ambiente de injustiça.  E por quê? Porque nos ambientes de injustiça prosperam as aparências de verdade, as quais funcionam, no fundo, como gatilhos da infelicidade. 

Nessas situações, a filosofia de Jesus não é  a do  rebanho oprimido – como a filosofia materialista já o definiu  – mas, sim, é  a filosofia da esperança  recompensadora,  como pode ser identificada  no relato de Mateus (5:6): “Bem-aventurados  os que têm fome e sede de justiça, pois serão recompensados” –  princípio filosófico e teológico de esperança, referente à justiça Divina,  que é reproduzido  na epístola de Paulo aos Efésios  (6:14) “(...) Assim, mantenham-se  firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça”.

O “cinto da verdade” apresenta um  duplo sentido (filosófico e teológico)  numa referência  à  “armadura” de Deus: assim como o cinto prendia a armadura do soldado romado , deixando-o seguro dentro do seu uniforme imperial, assim o “cinto da verdade” , como “armadura” de Deus,  que é revertida pela  “couraça da justiça”, cujo sentido filosófico e teológico é adotar como princípio de vida  as virtudes filosóficas pregadas e vividas  com  totalidade  de propósito,  tal como o fez Jesus, o filósofo da esperança, que se apresentou como a ponte dos justos e dos honestos  entre a Terra e os Céus. 

Quando, então, projeta-se a bem-aventurança  da esperança aos justos injustiçados,  pode-se concluir que é falsa a percepção de que a vida do injusto é muito melhor do que a do justo, visto que a filosofia de vida  que não sabe discernir entre o sentido do justo e do injusto revela que ainda não descobriu  o verdadeiro sentido da justiça como esperança permanente inerente à  pessoa justa e honesta, ainda que seja vítima de temporárias ou permanentes injustiças. Jesus, nessa perspectiva, é o filósofo da verdade e da esperança aos injustiçados.

E o ponto mais profundo e relevante desta filosofia é que a morte física de Jesus não quebrou a ponte entre os Céus e a Terra,  mas,  ao revés,   a sua filosofia  e  sua teologia (a verdade que liberta e  a esperança) se estabeleceram como eternas.

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Océlio de Morais
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