Jesus, o filósofo da verdade e da esperança aos injustiçados Océlio de Morais 23.12.25 8h00 Ao reler a obra prima “A República – escrita por por Platão, volta de 380 a.C. – chamou-me a atenção aquilo que poderíamos dizer que teria sido uma espécie de profecia que o mundo iria conhecer: a história de um homem mais puro e mais justo, mas que seria açoitado, torturado, acorrentado e, ao final, crucificado. Por certo que, na época de Sócrates e Platão, não se falava em profecias como veio a acontecer nos tempos bíblicos do Antigo e Novo Testamentos; mas, em oráculos – os locais tidos como sagrados das comunicações dos deuses às Pitonisas ou aos Pítias sobre o destino humano . Lá no Livro II, Platão relata um diálogo entre Sócrates (o seu mestre) , Adimanto, e Glauco sobre os valores da Justiça , sobre a honradez do “juiz bom e sábio (homem de “alma justa”)”. Abro um parêntesis para publicar o excerto: “Glauco — (...). Agora, se eles são como acabo de os apresentar, julgo não ser difícil descrever o gênero de vida que os espera. Portanto, digamo-lo; e, se esta linguagem for demasiado rude, lembra-te, Sócrates, que não sou eu quem fala, mas aqueles que situam a injustiça acima da justiça. Eles dirão que o justo, (...) será açoitado, torturado, acorrentado, terá os olhos queimados, e que, finalmente, tendo sofrido todos os males, será crucificado e saberá que não se deve querer ser justo, mas parecê-lo. (...)". Três séculos e oitenta anos depois daquele vaticínio de Glauco relatado por Platão, Jesus nasceu em Belém da Judeia ou da Galileia – historiadores, antropólogos e arqueólogos dividem opiniões sobre o local do nascimento, mas a tradição da Bíblia Sagrada afirma que foi em Belém da Judéia, a cidade do rei Davi . O enredo da história é conhecido de todos: o homem mais justo e mais virtuoso para os Cristão, que já viveu neste Planeta, seguiu exatamente o roteiro daquele famoso diálogo entre maiêutico Socrático: o homem justo, honesto e virtuoso foi preso, açoitado, torturado e acorrentado – só não teve os os olhos queimados – e foi impiedosamente crucificado: Jesus é assassinado pelo conchavo político (romano) e religioso (judaico) de então, que se sentiu ameaçado pelas verdades libertadoras ecoaram como chicotes nos ouvidos, mentes e corações dos injustos homens daquele sistema – verdades libertadoras plenas das virtudes de justiça, aquelas que, por princípio, rejeitam toda e qualquer espécie de injustiça. No caso de Jesus – e por outra forma também foi o julgamento de Sócrates condenado ao auto envenenamento por crimes que não cometeu – prevaleceu extremamente como relatado por Platão: os homens injustos , como não poderia ser diferente, colocaram a injustiça acima da justiça. Os dois casos apontam que os dois filósofos da verdade, embora em épocas distintas, não viveram pelas aparências, mas concretamente de acordo com a verdade, porque simplemente eram homens justos e honrados. Então, as condenações à morte de Sócrates e de Jesus pelas forças iníquas daqueles que colocaram a injustiça sobre os valores da justiça, à primeira vista, poderia estimular a ideia de que seria melhor viver conforme as aparências da justiça e não propriamente de acordo com a força da honradez da justiça, cujo fundamento sempre deve ser a verdade. Isso poderia levar à ideia de que viver conforme as aparências da justiça seria mais valioso do que viver de acordo com os valores da justiça. Ou ainda: se há algum fundo de verdade na afirmação que geralmente se ouve, de que a vida do injusto é muito melhor do que a do justo, seria lógico dizer que nenhuma vantagem decorre (para a boa vida) das escolhas justas, sendo preferível as escolhas injustas, visto que os valores da justiça, nesta hipótese, são ignorados pela injustiça. Conquanto assim possa ser visto em determinadas situações, a hipótese em oposição – àquela de que a vida do injusto é muito melhor do que a do justo – é baseada na visão filosófica que Jesus apresentou como um prêmio ou recompensa aos injustiçados, ainda que justo e bom sejam os seus valores de vida. Então, eis a questão central como problema reflexivo: sendo, a vida, uma experiência contínua em busca da felicidade e se a felicidade é incompatível com a injustiça, em que medida vale a pena ser uma pessoa honesta e justa, quando a filosofia da justiça dos homens , dissociada desses valores, é apenas uma aparência de justiça? Essa questão, sem dúvida, domina muitas mentes e corações honestos, porém, não podem solapar o princípio de justiça que reside em cada um, pois o princípio motor da filosofia da justiça deve ser a verdade como sentido mais nobre da vida. Quando se fala em filosofia da justiça dos homens, é certo que estamos diante dos desafios de entender os princípios que iluminam e orientam sobre o que é justo ou injusto nas relações humanas em todos os seus ambientes. Assim, e por isso, a filosofia da justiça dos homens tem por princípio teleológico a busca da convivência baseada na ética social, que é uma das partes bem legais e prazerosas da vida. O princípio finalístico é a busca da convivência baseada na ética social – ética social que não será possível em ambiente de injustiça. E por quê? Porque nos ambientes de injustiça prosperam as aparências de verdade, as quais funcionam, no fundo, como gatilhos da infelicidade. Nessas situações, a filosofia de Jesus não é a do rebanho oprimido – como a filosofia materialista já o definiu – mas, sim, é a filosofia da esperança recompensadora, como pode ser identificada no relato de Mateus (5:6): “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão recompensados” – princípio filosófico e teológico de esperança, referente à justiça Divina, que é reproduzido na epístola de Paulo aos Efésios (6:14) “(...) Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça”. O “cinto da verdade” apresenta um duplo sentido (filosófico e teológico) numa referência à “armadura” de Deus: assim como o cinto prendia a armadura do soldado romado , deixando-o seguro dentro do seu uniforme imperial, assim o “cinto da verdade” , como “armadura” de Deus, que é revertida pela “couraça da justiça”, cujo sentido filosófico e teológico é adotar como princípio de vida as virtudes filosóficas pregadas e vividas com totalidade de propósito, tal como o fez Jesus, o filósofo da esperança, que se apresentou como a ponte dos justos e dos honestos entre a Terra e os Céus. Quando, então, projeta-se a bem-aventurança da esperança aos justos injustiçados, pode-se concluir que é falsa a percepção de que a vida do injusto é muito melhor do que a do justo, visto que a filosofia de vida que não sabe discernir entre o sentido do justo e do injusto revela que ainda não descobriu o verdadeiro sentido da justiça como esperança permanente inerente à pessoa justa e honesta, ainda que seja vítima de temporárias ou permanentes injustiças. Jesus, nessa perspectiva, é o filósofo da verdade e da esperança aos injustiçados. E o ponto mais profundo e relevante desta filosofia é que a morte física de Jesus não quebrou a ponte entre os Céus e a Terra, mas, ao revés, a sua filosofia e sua teologia (a verdade que liberta e a esperança) se estabeleceram como eternas. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas Ocelio de Jesús Morais pensata COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . 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