Alma e anjos Océlio de Morais 14.03.23 8h52 Quem um dia ainda não se sentiu envolvido por uma especial, estranha ou incompreensível sensação intuitiva que lhe sussurrou conselhos sobre como proceder antes de tomar uma decisão importante – decisão que poderia gerar consequências positivas ou negativas à sua vida ou, ainda, a sensação de que aquela fato já foi visto e vivido por você em algum momento do passado? Pense nisso, pois este ensaio reflexivo se destina à temática “Alma ou Espírito” na perspectiva teosófica; primeiro, com a finalidade de saber se são unos ou se são seres distintos e, segundo, se são distintos, em que se diferenciam, e se estabelecem algum inter-relacionamento com seres humanos e se haveria alguma missão específica em face dos humanos. A teosofia pode ser compreendida por diversas perspectivas. O texto “O Que é Teosofia? Um Exame da Sabedoria Universal Presente em Todas as Épocas e Nações”, de Helena Petrovna Blavatsky, nos oferece algumas perspectivas teosóficas sobre a natureza de Deus e as leis espirituais do universo : – a eclética (como “essência suprema, desconhecida e incognoscível”); concepção vedantina de Brahma (a ideia de consciência absoluta); na perspectiva naturalista (que designa substância ou natureza, que existe por si mesmo e sem nenhum criador); na visão arcaica (religião de sabedoria dos tempos arcaicos, a doutrina esotérica conhecida em cada país antigo que pretendesse ser civilizado), e a teosofia moderna (a ideia do essência absoluta, o Uno e o Todo). Como ponto de partida, interessa ao nosso ensaio apenas a visão teosófica moderna porque, como definiu a escritora teosófica Helena Blavatsky (31/07/1831 a 08/05/1891), é a que se apresenta como “crença na Divindade como o TODO, como a fonte de toda existência, como o infinito que não pode ser nem compreendido nem conhecido; e só o Universo pode revelar”. E também nos interessa porque o texto se refere ao “Espírito” como sinônimo de "Alma”. Blavatsky afirma que Alma e Espírito são a mesma entidade espiritual com poderes para se inter-relacionar com os humanos. Nas próprias palavras de Blavatsky,: “Espíritos são Almas desencarnadas ou encarnadas: (…) Espíritos, ou Almas das pessoas desencarnadas (...)” tem poderes de “comunicar-se de modo visível e tangível com aqueles que eles amavam na terra”. Mas essa sinonímia entre Alma e Espírito não é identificável na teologia de Tomás de Aquino (1225-1274), o mais aristotélico teólogo da Igreja Católica de todos os tempos. Aquino fez distinções entre “Alma” e “Espírito”. Como aristotélico que fora, Aquino define a Alma como a parte sensitiva do corpo que produz a sensibilidade humana ou a Alma racional, relacionada ao princípio da razão. Já o "Espírito", na teologia de Aquino, é o próprio Anjo, um Ser espiritual com missões distintas da Alma humana. A obra “A Física dos Anjos – uma visão científica e filosófica dos seres celestiais”, de Matthew Faxe e Ruppert Sheldrake, nos apresenta um estudo científico e teológico acerca da existência dos Anjos (Espíritos). Observemos a distinção apresentada por Tomás de Aquino, conforme os dois estudiosos da "Física Anjos” a: “(...) Nós, humanos, temos uma luz intelectual diminuta em nossas almas (...)” (p. 94) . A “luz intelectual", na definição teológica de Aquino, é o Ser espiritual, qualificado como Anjo, também designação de Espírito de luz. Em relação aos poderes de Deus, afirmam Faxe e Sheldrake, os Anjos têm poderes limitados, mas os deles são superiores aos dos seres humanos; por isso, têm por missão – como mensageiros de Deus – a divulgação profética, auxiliar na governança do mundo e auxiliar na tarefa dos desígnios divinos, dentre outras tarefas espirituais. Aquino sustentou que os Anjos bondosos – também denominados anfitriões de Senhor, anfitriões dos Céus, os sagrados – “são seres intelectuais, são seres espirituais”, que ajudam Deus na governança do mundo. Na condição de “Espíritos superiores”, os Anjos são “especialistas em intuição” e, desse modo, – segundo descrevem Faxe e Sheldrake – os Anjos “representam forças celetiais que se unem em Jesus e que Ele emprega para o bem das pessoas”. (p.2013-2014). E, assim, eles estabelecem inter-relacionamentos com os humanos. Na teologia de Aquino, a Alma é definida como uma parte sensitiva e sensível que designa o corpo humano, mas não é propriamente um Anjo, pois, a o teólogo cristão deixa bem claro que Alma e Anjo (este, designado como força espiritual ou Espírito mensageiro) são distintos: – “Se nossas almas humanas fossem dotadas da abundância angélica de luz intelecutal [Anjo], assim que intuímos os primeiros princípios entenderíamos todas as suas consequências [...]. Nós, humanos, temos uma luz intelectual diminuta em nossas almas , mas essa luz manifesta-se em sua máxima potência em um Anjo [Ser espiritual], que é um espelho puro e brilhante” (p. 94). O que o pensamento aristotélico de Aquino traduz como Alma sensitiva é, provavelmente, aquela experiência de “tranquilidade de alma por meio do conhecimento e da contemplação”, descrita por Sêneca “O Moço”, filho de Sêneca, “O Velho” – aquele, advogado, escritor e filósofo e, este, o retórico, político: – “Às vezes, a minha alma se eleva com a magnitude do pensamento, torna-se ávida por palavras aspirando às alturas”, (p. 2009, 39), disse Sêneca, nascido em Córdoba (Espanha) e que viveu por 65 anos no século IV a. C. Para o filósofo Sêneca, a Alma habita o corpo, mas aspira a elevação das “alturas”, ou seja, deseja ser elevada aos “Céus”. E, por sua vez, Aquino descreve que “Alma humana está no corpo humano”. Como “ser espiritual superior”, o Anjo – segundo o teólogo cristão – é uma espécie de transmissor e realizador das graças de Deus aos seres humanos (p.104), Já a “Alma humana está no corpo humano como o contendo, e não contida por ele”, sendo que, por usa vez, “mas da mesma forma um Anjo está em um determinado espaço corpóreo não contido por ele,mas comandando” (p.11). Alma é a parte sensível ou racional do corpo humano. Anjos são forças espirituais que, por sua natureza imaterial, não possuem corpos físicos, muito embora – como aconteceu com o Anjo Gabriel na anunciação da gravidez espiritual de Maria ( Lc 1,26-38).– podem assumir temporariamente a forma física humana. Exemplifico para ressaltar, não por meras conjecturas, mas como evidências efetivas dessas distinções entre Alma e Espírito. O mais extraordinário fenômeno espiritual de toda a humanidade – a comunicação direta entre um Anjo (Ser espiritual) de Deus e um ser humano (Maria), assim eu reputo – está assim narrado por Lucas na anunciação da concepção do Messias: – “O anjo, aproximando-se dela (Maria), disse: alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!“ (...) O anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus.” (Lc, 1:28, 36) Então, Jesus – uma concepção do Espírito Santo – é o próprio “Santo, Filho de Deus”. Pelo o que posso interpretaar e entender, essa é a conclusão mais lógica possível deste trecho evangélico. Portanto, Jesus é um Ser espiritual de Luz de máxima potência, é um Espírito elevadíssimo. E por quê? Porque o “Filho Santo de Deus” é reconhecido pela fé teológica cristã como o “Deus-Filho”, o ungido do Deus-Pai (o próprio “Altíssimo Espírito Santo”), referido pelo Anjo Gabriel na conversa extraordinária corpórea que teve com a jovem Maria. O próprio Jesus, em diversos momentos de sua passagem corpórea na Terra, refere-se às forças espirituais superiores (que se inter-relacionam com os seres humanos, transmitindo as revelações proféticas) e às forças espirituais inferiores, (que se apropriam das almas vulneráveis, subjugando às suas pérfidas vontades). Por isso que Faxe e Sheldrake, interpretando Aquino, afirmam que o “universo está povoado de seres espirituais”. Vou exemplificar com outros casos: Num deles, sobre a boa companhia ou assistência espiritual aos seres humanos, Jesus disse: “Pois, onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18:18-20). Jesus se referia à sua presença e à sua assistência espiritual constante prometida aos seres humanos que Nele creem. Noutro momento, sobre a comunicação/ligação do ser humano com o Ser Divino, Jesus é a própria ponte espiritual: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,1-6). Ora, os seres espirituais (Anjos) são intermediários das graças divinas. Na angeologia de Faxe e Sheldrake, uma das missões divinas dos Anjos (Espíritos de Luz) consiste em "acompanhar as pessoas por toda a vida e desta vida para a próxima”. A expressão “desta vida para a próxima”, aliás, também foi anunciada por Jesus, quando se refere à “Casa do Pai” como moradia espiritual composta por diversos estágios, lugar que – para chegar lá como um Espírito de Luz – é preciso ter o merecimento. Veja-se nas palavras de Jesus, conforme narrado por João 14,1-6: “Não se agite o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai, há muitas moradas”, disse Jesus. Mas Jesus também foi importunado pelos “anjos caídos”, os denominados demônios ou espíritos maus, aqueles que desafiam a autoridade de Deus. Exemplos disso são as batalhas espirituais entre o Espírito Santo e o demônio, nas três tentações no deserto, no início do ministério de Jesus, fatos reais narrados pelo evangelista Lucas: 4:1-3. O Espírito Santo que habita o Jesus Nazareno venceu todas as três batalhas espirituais. Ah”, ainda posso citar o caso daquela “legião de espíritos imundos” que dominava a alma de um homem, espisódio espiritual que Mateus (5: 1-16) relatou que “Jesus expulsou “a legião de demônios”, que acabou por entrar nos corpos dos porcos que estavam às proximidades. Por último, mas não é o último caso das manifestações espirituais narradas na Bíblia, trago à lembrança, aquele momento antes de morte física de Jesus na Cruz – aqueles últimos segundos antes da separação do seu Santo Espírito do corpo físico, quando Jesus bradou em alta voz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. Tendo dito isso, expirou. (Lucas, 23:46). Aquele sublime momento espiritual quer dizer o seguinte, na minha perspectiva interpretativa: Jesus – concepção do Espírito Santo, o Filho Santo de Deus e reconhecido Deus-Filho – retorna à sua condição anterior à vida humana, entregando seu Espírito ao Altíssimo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. Isto é, como Espírito, Jesus volta à “Casa” do Pai, o lugar das “muitas moradas”, o Reino dos Céus. Por todas as concepções abordadas, acredito por fim que é possível afirmar: primeiro, que Alma e Espírito são distintos, na concepção teológica de Tomás de Aquino; segundo, Alma designa a parte sensitiva e racional do corpo humano, enquanto que Anjo (Espírito de Luz, Ser espiritual, Ser intelectual superior) é o mensageiro das graças divinas, incumbindo-lhe as comunicações com seres humanos, mas também nas tarefas de intuí-los, orientá-los e protegê-los; terceiro. os fatos bíblicos referidos comprovam manifestações espirituais relativas aos Inter-relacionamento entre Anjos bondosos (Seres espirituais de potência máxima de Luz) e humanos, e entre “anjos caídos ou espíritos imundos” que se apoderam espiritualmente das almas vulneráveis. Quero finalizar este breve, porém desafiante ensaio teosófico com uma ressalva necessária: um ensaio – por sua própria natureza de experimentação – sempre está sujeito às críticas substantivas sustentáveis; por isso, este estudo reflexivo não possui determinado fim em si mesmo, tampouco a intenção de vincular aceitação às ideias aqui lançadas. Ensaio teosófico, por si, possui a dinâmica da abertura constante às oposições coerentes da mesma natureza. _____________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas oceliodemorais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM OCÉLIO DE MORAIS Océlio de Morais Escolhas 21.03.23 8h46 Océlio de Morais Alma e anjos 14.03.23 8h52 Océlio de Morais As virtudes de Sócrates 07.03.23 8h10 Océlio de Morais Como bem servir? 28.02.23 8h23