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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Alma e anjos

Océlio de Morais

Quem um dia ainda não se  sentiu envolvido  por  uma especial, estranha  ou incompreensível sensação intuitiva que lhe sussurrou conselhos sobre como proceder antes de tomar uma decisão importante – decisão que poderia gerar consequências  positivas ou negativas à sua vida ou, ainda,  a sensação de que aquela fato já foi visto e vivido por você em algum momento do passado?

Pense nisso, pois este ensaio reflexivo se destina  à temática “Alma ou Espírito” na perspectiva  teosófica;  primeiro, com  a finalidade de saber se são unos ou se são seres distintos e, segundo, se são distintos,  em que se diferenciam, e se estabelecem algum inter-relacionamento com seres humanos e se haveria alguma missão específica em face dos humanos.

A teosofia pode ser compreendida por diversas perspectivas.  O texto “O Que é Teosofia? Um Exame da Sabedoria Universal Presente em Todas as Épocas e Nações”, de  Helena Petrovna Blavatsky,  nos oferece algumas perspectivas teosóficas sobre a natureza de Deus e as leis espirituais do universo : 

– a eclética (como “essência suprema, desconhecida e incognoscível”); concepção vedantina de Brahma (a ideia de consciência absoluta); na perspectiva naturalista (que designa substância ou natureza, que existe por si mesmo e sem nenhum criador);  na visão arcaica (religião de sabedoria dos tempos arcaicos, a doutrina esotérica conhecida em cada país antigo que pretendesse ser civilizado), e  a teosofia moderna (a ideia do essência absoluta, o Uno e o Todo).

Como ponto de partida, interessa ao nosso ensaio apenas a visão teosófica moderna porque, como definiu a escritora teosófica Helena  Blavatsky (31/07/1831 a 08/05/1891), é a que se apresenta como “crença na Divindade como o TODO, como a fonte de toda existência, como o infinito que não pode ser nem compreendido nem conhecido; e só o Universo pode revelar”. 

E também nos interessa porque o texto se refere ao “Espírito” como sinônimo de "Alma”. Blavatsky afirma que Alma e Espírito são a mesma entidade espiritual com poderes para se inter-relacionar com os humanos.

Nas próprias palavras de Blavatsky,: “Espíritos são Almas desencarnadas ou encarnadas: (…) Espíritos, ou Almas das pessoas desencarnadas (...)” tem poderes de  “comunicar-se de modo visível e tangível com aqueles que eles amavam na terra”. 

Mas essa sinonímia entre Alma e Espírito não é identificável  na teologia de Tomás de Aquino (1225-1274), o mais aristotélico teólogo da Igreja Católica de todos os tempos.

Aquino fez distinções entre “Alma” e “Espírito”. Como aristotélico que fora, Aquino define a Alma como a parte sensitiva do corpo que produz a sensibilidade humana ou  a Alma racional, relacionada ao princípio da razão. Já o "Espírito", na teologia de Aquino, é o próprio  Anjo, um Ser espiritual com missões distintas da Alma humana. 

A obra “A Física dos Anjos – uma visão científica e filosófica dos seres celestiais”, de Matthew Faxe e Ruppert Sheldrake, nos apresenta um estudo científico e teológico acerca da existência dos Anjos (Espíritos).

Observemos a distinção apresentada por Tomás de Aquino, conforme os dois estudiosos da "Física  Anjos” a: “(...) Nós, humanos, temos uma luz intelectual diminuta  em nossas almas (...)”  (p. 94) . 

A “luz intelectual", na definição teológica de Aquino,  é o Ser espiritual, qualificado como Anjo, também designação de Espírito de luz. 

Em relação aos poderes de  Deus, afirmam  Faxe e Sheldrake, os Anjos têm poderes limitados, mas  os deles são superiores aos dos seres humanos; por isso, têm por missão – como mensageiros de Deus –  a divulgação profética, auxiliar na governança do mundo e auxiliar na tarefa dos desígnios divinos, dentre outras tarefas espirituais. 

Aquino sustentou que os Anjos bondosos – também  denominados anfitriões de Senhor, anfitriões dos Céus, os sagrados –  “são seres intelectuais, são seres espirituais”, que ajudam Deus na governança do mundo.  

Na condição  de “Espíritos superiores”, os Anjos são “especialistas em intuição” e, desse modo, – segundo descrevem Faxe e Sheldrake – os Anjos  “representam forças celetiais que se unem em Jesus e que Ele emprega para o bem das pessoas”. (p.2013-2014).  E, assim, eles estabelecem inter-relacionamentos com os humanos.

Na teologia de Aquino, a Alma é definida como uma parte sensitiva e sensível que designa o corpo humano, mas não é propriamente um Anjo, pois,  a o teólogo cristão deixa bem claro que Alma e Anjo (este, designado como força espiritual ou Espírito mensageiro) são distintos:

– “Se nossas almas humanas fossem dotadas da abundância angélica  de luz intelecutal [Anjo], assim que intuímos os primeiros princípios  entenderíamos todas as suas consequências [...]. Nós, humanos, temos uma luz intelectual diminuta  em nossas almas , mas essa luz manifesta-se em sua máxima potência  em um Anjo [Ser espiritual], que é um espelho puro e brilhante” (p. 94).

O que o pensamento aristotélico de Aquino traduz como Alma sensitiva é, provavelmente, aquela experiência de “tranquilidade de alma por meio do conhecimento  e da contemplação”,  descrita por Sêneca “O Moço”,  filho de Sêneca, “O Velho” – aquele, advogado, escritor e filósofo e, este, o retórico, político: 

– “Às vezes, a minha alma se eleva com  a magnitude do pensamento, torna-se ávida por palavras aspirando às alturas”,  (p. 2009, 39), disse Sêneca, nascido em Córdoba (Espanha) e que viveu por 65 anos no século IV a. C.  

Para o filósofo Sêneca, a Alma habita o corpo, mas aspira a elevação das “alturas”, ou seja, deseja ser elevada aos “Céus”.  E, por sua vez, Aquino descreve que “Alma humana está no corpo humano”.

Como “ser espiritual superior”, o Anjo –  segundo o teólogo cristão – é uma espécie de transmissor e realizador das graças de Deus aos seres humanos (p.104), Já  a “Alma humana está no corpo humano como o contendo, e não contida por ele”, sendo que, por usa vez, “mas da mesma forma um Anjo está em um determinado espaço corpóreo não contido por ele,mas comandando” (p.11).

Alma é a parte sensível ou racional do corpo humano. Anjos são forças espirituais  que, por sua natureza imaterial, não possuem corpos físicos, muito embora – como aconteceu com o Anjo Gabriel na anunciação da gravidez espiritual de Maria ( Lc 1,26-38).–  podem assumir temporariamente a forma física humana. 

Exemplifico para ressaltar, não por meras conjecturas, mas como evidências efetivas dessas distinções entre Alma e Espírito.

O mais extraordinário fenômeno espiritual de toda a humanidade – a comunicação direta entre um Anjo (Ser espiritual) de Deus  e um ser humano (Maria), assim eu reputo – está  assim narrado por Lucas  na anunciação da concepção do Messias:

– “O anjo, aproximando-se dela (Maria), disse: alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!“ (...) O anjo respondeu: "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus.” (Lc, 1:28, 36)

Então, Jesus – uma concepção do Espírito Santo –  é o próprio  “Santo, Filho de Deus”. Pelo o que posso interpretaar e entender, essa é a conclusão mais lógica possível deste trecho evangélico.  Portanto, Jesus é  um Ser  espiritual de Luz de máxima potência, é um Espírito elevadíssimo. 

E por quê? Porque o  “Filho Santo de Deus” é reconhecido pela fé teológica cristã como o “Deus-Filho”, o ungido do Deus-Pai (o próprio “Altíssimo Espírito Santo”), referido pelo Anjo Gabriel na conversa extraordinária corpórea que teve  com a jovem Maria.

O próprio Jesus, em diversos momentos de sua passagem corpórea na Terra, refere-se às forças espirituais superiores (que se inter-relacionam com os seres humanos, transmitindo as revelações proféticas) e às forças espirituais inferiores, (que se apropriam das almas vulneráveis, subjugando  às suas pérfidas vontades). Por isso que Faxe e Sheldrake, interpretando Aquino, afirmam que o “universo está povoado de seres espirituais”.  

Vou exemplificar  com outros casos: Num deles,  sobre a boa companhia ou assistência espiritual aos seres humanos, Jesus disse: “Pois, onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18:18-20). Jesus se referia à sua presença e à sua assistência espiritual constante prometida aos seres humanos que Nele creem. 

Noutro momento, sobre a comunicação/ligação  do ser humano com o Ser Divino, Jesus é a própria ponte espiritual: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,1-6). Ora, os seres espirituais (Anjos)  são intermediários das graças divinas.  Na angeologia  de Faxe e Sheldrake, uma das missões divinas  dos Anjos (Espíritos de Luz) consiste em "acompanhar as pessoas por toda a vida e desta vida para a próxima”. 

A expressão “desta vida para a próxima”, aliás, também foi anunciada por Jesus, quando se refere à “Casa do Pai”  como moradia espiritual composta por diversos estágios, lugar que – para chegar lá como um Espírito de Luz – é preciso ter o merecimento. 

Veja-se nas palavras de Jesus, conforme narrado por  João 14,1-6:  “Não se agite o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai, há muitas moradas”, disse Jesus.

Mas Jesus também foi importunado pelos “anjos caídos”, os denominados demônios ou espíritos maus, aqueles que desafiam a autoridade de Deus.  Exemplos disso são as  batalhas espirituais entre o Espírito Santo e o demônio, nas três  tentações no deserto, no início do ministério de Jesus, fatos reais narrados pelo evangelista  Lucas: 4:1-3.  O Espírito Santo que habita o Jesus Nazareno venceu todas as três batalhas espirituais.

Ah”, ainda posso citar o caso daquela “legião de espíritos imundos”  que dominava a alma de um homem,  espisódio espiritual  que   Mateus (5: 1-16) relatou  que “Jesus expulsou “a legião de demônios”, que acabou por entrar nos corpos dos porcos que estavam às proximidades. 

Por último, mas não é o último caso das manifestações espirituais narradas na Bíblia, trago à lembrança, aquele momento antes de morte física  de Jesus na Cruz – aqueles últimos segundos  antes da separação do seu Santo Espírito do corpo físico,  quando Jesus bradou em alta voz:  “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. Tendo dito isso, expirou. (Lucas, 23:46).

Aquele sublime momento espiritual quer dizer o seguinte, na minha perspectiva interpretativa: Jesus – concepção do  Espírito Santo, o Filho Santo de Deus e reconhecido  Deus-Filho –  retorna à sua condição anterior à vida humana, entregando seu Espírito  ao Altíssimo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito”.  Isto é, como Espírito, Jesus volta à “Casa” do Pai, o lugar das “muitas moradas”, o Reino dos Céus.

Por todas as concepções abordadas,  acredito por fim que é possível afirmar: primeiro, que Alma e Espírito são distintos, na concepção teológica de Tomás de Aquino; segundo, Alma designa a parte sensitiva e racional do corpo humano, enquanto que Anjo (Espírito de Luz, Ser espiritual, Ser intelectual superior) é o mensageiro das graças divinas, incumbindo-lhe as comunicações com seres humanos, mas também nas tarefas de  intuí-los, orientá-los e protegê-los; terceiro. os fatos bíblicos referidos comprovam manifestações espirituais relativas aos  Inter-relacionamento entre Anjos bondosos (Seres espirituais de potência máxima de Luz) e humanos, e entre “anjos caídos ou espíritos imundos” que se apoderam espiritualmente das almas vulneráveis.

Quero finalizar este breve, porém desafiante ensaio  teosófico com uma ressalva necessária: um ensaio – por sua própria natureza de experimentação  –  sempre está sujeito às críticas  substantivas  sustentáveis; por isso, este estudo reflexivo não possui determinado fim  em si mesmo, tampouco a intenção de vincular aceitação às ideias aqui lançadas. Ensaio  teosófico, por si, possui a dinâmica da abertura constante às oposições coerentes da mesma natureza.

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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