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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

“Golpe de Sorte em Paris” é a melhor estreia da semana nos cinemas

Marco Antonio Moreira

“Golpe de Sorte em Paris”, de Woody Allen, é o 50º filme deste cineasta americano, que possui uma carreira cinematográfica brilhante e expressiva desde o final dos anos 1960. Allen é um dos maiores diretores da história do cinema e construiu uma trajetória singular na sétima arte. Sua carreira como comediante começou antes de seu envolvimento com o cinema, alcançando grande sucesso nos EUA em suas apresentações cômicas nos anos 1960. Quando seu talento se expandiu para o cinema, sua visão artística se ampliou de forma significativa.

No final dos anos 1960 e boa parte dos anos 1970, seus filmes apresentavam uma abordagem única para a comédia, caracterizada por uma inteligência e sagacidade que o destacaram como um artista diferenciado. A partir desse período, muitos críticos de cinema e espectadores passaram a aguardar um novo filme de Allen como um evento cinematográfico imperdível.

Após comédias extraordinárias como “Bananas”, “O Dorminhoco”, “Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo mas tinha medo de perguntar” e “A Última Noite de Boris Grushenko”, Allen realizou uma obra-prima memorável: “Annie Hall” (no Brasil intitulado “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”). Um filme sobre amor, paixão, encontros, desencontros e reflexões sobre a vida e a felicidade, que evidenciou a maturidade artística de Allen. Lembro-me de assistir a “Annie Hall” pela primeira vez e nunca esquecer o impacto que causou em minha vida cinéfila.

Em 1978, quando muitos esperavam uma nova comédia, Allen mudou como roteirista e cineasta, decidindo fazer filmes inspirados na obra densa e existencial de um de seus cineastas favoritos: Ingmar Bergman. “Interiores” foi o primeiro filme dessa nova fase, que, de certo modo, se manteve presente em toda sua produção cinematográfica. Allen passou a se dedicar a escrever e dirigir dramas intensos e existenciais, que fizeram o espectador refletir sobre diversos temas. A comédia não foi esquecida, mas sua preferência por dramas mais profundos tornou sua carreira essencial para aqueles que veem o cinema como uma arte além do entretenimento.

É possível citar diversos filmes excelentes de Allen como recomendação ao leitor. Entre tantos que aprecio, sugiro “Annie Hall”, “Manhattan”, “Zelig”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Crimes e Pecados”, “Tiros na Broadway”, “Desconstruindo Harry”, “Poucas e Boas”, “Ponto Final”, “Meia-Noite em Paris”, “Blue Jasmine” e “Roda Gigante”.

Aos 88 anos, Woody Allen tem um novo filme nos cinemas chamado “Golpe de Sorte em Paris”, produzido e filmado na França. É o primeiro filme de Allen falado inteiramente em francês, e novamente ele demonstra sua habilidade como roteirista e diretor, nos conduzindo a um drama com momentos cômicos, centrado na história de um casal rico que vive em Paris. Tudo parece perfeito entre eles, mas a situação muda quando ela encontra casualmente um antigo colega de escola e se encanta por ele. Eles retomam contato e se apaixonam intensamente. A partir desse reencontro amoroso, ela revisita sua vida, suas perspectivas e tenta se redescobrir como uma pessoa mais feliz e realizada. No entanto, seu marido tornará essa transformação em uma jornada dolorosa.

Allen utiliza, neste filme, meios criativos característicos de sua obra cinematográfica, conduzindo o espectador a profundas reflexões sobre temas essenciais da vida, como o amor, a morte, a felicidade e o tempo, reforçando o ato de criação cinematográfica expressiva, em que o cinema pensa e deve fazer o espectador pensar sobre sua principal finalidade: ser uma arte de reflexão sobre o mundo. “Golpe de Sorte em Paris” revela particularidades de outros filmes de Allen, mas de modo distinto, por meio de seus diversos personagens e mudanças em sua narrativa.

Allen é um artista que observa, de maneira singular, os costumes e valores de seu tempo e, felizmente, realizou mais um filme relevante em sua carreira. Além do roteiro, da direção e dos excelentes atores, como Lou de Laâge, Valérie Lemercier e Melvil Poupaud, “Golpe de Sorte em Paris” merece destaque pelas imagens do renomado diretor de fotografia Vittorio Storaro, que tem várias parcerias de destaque com Allen, e a eterna sensibilidade musical de Allen no uso da trilha musical no filme.

Espero que Woody Allen possa continuar escrevendo e dirigindo mais filmes, ampliando ainda mais minha especial consideração por sua trajetória artística na sétima arte. É extraordinário saber que ele realizou 50 filmes! Poucos diretores alcançaram esse número de produções, ainda mais como roteirista e diretor de seus próprios filmes. “Golpe de Sorte em Paris” está na programação do Cine Líbero Luxardo e certamente é um dos melhores filmes exibidos em Belém em 2024.

Dica da Semana

“O Condenado de Altona” de Vittorio de Sicca. Com Sophia Loren. O longa é baseado na peça homônima escrita pelo escritor francês Jean-Paul Sartre (Cineclube SINDMEPA. Dia 01/10 às 19h. Entrada gratuita).

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