CARLOS FERREIRA

Jornalista, radialista e sociólogo. Começou a carreira em Castanhal (PA), em 1981, e fluiu para Belém no rádio, impresso e televisão, sempre na área esportiva. É autor do livro "Pisando na Bola", obra de irreverências casuais do jornalismo. Ganhador do prêmio Bola de Ouro (2004) pelo destaque no jornalismo esportivo brasileiro. | ferreiraliberal@yahoo.com.br

Como ficarão Remo e Paysandu no fair play financeiro?

Carlos Ferreira

Juntos, Leão e Papão contrataram quase 1.300 jogadores nos últimos 20 anos (até sexta-feira, 640 azulinos e 651 bicolores). Nas 25 temporadas deste século, 72 técnicos, cada, mais os profissionais de outras funções do futebol. Essa imensa farra não caberia no fair play financeiro, que está sendo elaborado para o futebol brasileiro por 34 clubes, entre eles Remo e Paysandu, além da CBF e algumas Federações.

O flair play financeiro é um conjunto de regras destinado a tornar o mercado mais responsável e clubes sustentáveis. Implica em disciplina orçamentária. Os clubes ficam impedidos de gastar mais do que arrecadam, com punições pré-estabelecidas para infratores. A FIFA, por exemplo, aplica o Transfer Ban para casos de calote. O Paysandu mostrou o funcionamento desse mecanismo quando ficou impedido de registrar jogadores por causa de um débito com o Torrense de Portugal.

Caso típico de irresponsabilidade

Em 1987, o Remo vendeu para o Santa Cruz o seu principal jogador, o artilheiro Dadinho, por 2 milhões de cruzados. Uma fortuna, na época! Dadinho fez sucesso também no clube pernambucano, que não pagou um centavo sequer ao Leão Azul e o vendeu para o Internacional. Um mega calote! Caso típico de irresponsabilidade do Santa Cruz e de imprevidência do Remo.

Se já houvesse fair play financeiro, o Remo não perderia o principal jogador ou todo aquele dinheiro. O regramento do mercado será importante para os clubes e para atletas, técnicos e demais profissionais, que têm como única segurança a Justiça do Trabalho, mas em longos prazos.  

BAIXINHAS

* Vai funcionar no Brasil? Essa é uma pergunta inevitável. Por enquanto não se sabe nem se o fair play financeiro será aplicado pela CBF ou Liga de Clubes. O processo de elaboração deve ser fechado no final de novembro. Até lá, muitas discussões na defesa de interesses, muito puxa-encolhe.

* São esperados os sinais que vão indicar a referência. O fair play brasileiro será inspirado no da Bundesliga (Alemanha), no da LaLiga (Espanha), do da Premier League (Inglaterra), no da UEFA...? Só é certo que será aplicado gradativamente, etapa por etapa, mas com impactos a partir do primeiro momento.

* O último grande impacto de regulação no futebol brasileiro foi produzido pelo Estatuto do Torcedor, sob grandes batalhas de promotores de justiça, desde 2003. Cinco anos antes, a Lei Pelé com a extinção do passe e as rescisões contratuais na Justiça do Trabalho por descumprimento de obrigações trabalhistas.

* O Remo foi um dos maiores perdedores de atletas na Justiça do Trabalho, via Lei Pelé. Foram mais de 20 rescisões, sendo a de Velber a mais polêmica, pela transferência para o Paysandu antes do desfecho. Voltando ao Estatuto do Torcedor, foi o fim das “viradas de mesa” nos campeonatos, principalmente em questões de rebaixamento, além de maior segurança e condições mais dignas nos estádios.

* Desde junho de 2023, o antigo Estatuto do Torcedor é a Lei Geral do Esporte, que norteia todas as regras extra-campo do futebol no país e que terá sob o seu “guarda chuva” também o fair play financeiro. A implementação deverá ser concluída em cerca de 10 anos.

* O trabalho de concepção desse conjunto de regras para o mercado do futebol vem sendo conduzido na CBF pelo vice Ricardo Gluck Paul, também na condição de presidente da FPF. Em videocast do Sport Insider (YouTube), Gluck Paul fala do assunto com Rodrigo Capelo, jornalista esportivo especializado em mercado.

* Como consta acima, Remo e Paysandu, juntos, contrataram cerca de 1.300 atletas nas últimas 20 temporadas, além de executivos, técnicos, auxiliares, analistas de desempenho e de mercado,  preparadores físicos, fisiologistas, fisioterapeutas... Fortunas rasgadas! Absurdo que será freado se o fair play financeiro emplacar. Para o futebol brasileiro entrar na “era” das gestões responsáveis, terá que haver e funcionar punições severas aos clubes infratores, sem margem de “jeitinho”. Será que veremos?

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