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Professora une Libras e dança em homenagem inclusiva ao Círio de Nazaré

Lorena Rátis cria vídeo que transforma a devoção em um gesto poderoso de gratidão e acessibilidade para a comunidade com deficiência. Conheça sua história de superação e fé!

Riulen Ropan
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Um emocionante vídeo viralizou nas redes sociais ao unir a fé do Círio de Nazaré com a acessibilidade de Libras e a arte da dança. A iniciativa é da professora Lorena Rátis, que transformou sua jornada de superação após um grave acidente em um poderoso gesto de gratidão a Nossa Senhora de Nazaré.

O vídeo de coreografia em homenagem ao Círio de Nazaré em Libras é a materialização de um profundo processo de ressignificação e a união de paixões na vida de Lorena. A iniciativa nasceu da impossibilidade de Lorena de se dissociar de sua história com a dança – sua primeira graduação e paixão desde a infância – mesmo após uma compressão medular que a deixou em cadeira de rodas.

Esse momento de vulnerabilidade a levou a buscar novas vias de expressão, encontrando na Língua Brasileira de Sinais (Libras), por meio de uma pós-graduação, um novo universo. A conexão entre a arte do movimento e a Língua de Sinais, segundo Lorena, era inevitável. "Eu não consigo dissociar o que eu fui," explica. O projeto é um elo entre o passado como bailarina e o presente ligado à Libras, tudo amparado pela fé em Nossa Senhora de Nazaré, que lhe deu forças para continuar em seus momentos mais difíceis.

O objetivo de inclusão é a parte central da proposta. Lorena buscou ir além da mera tradução ao optar por não usar intérpretes de Libras, mas sim bailarinos — seus amigos Marília e Anderson — sem conhecimento profundo da língua. O desafio foi justamente explorar a junção da expressão corporal da dança com os sinais e a expressão facial da Libras, garantindo que o público surdo fosse contemplado com arte e acessibilidade. Essa abordagem visa demonstrar que a união da dança com a Libras não apenas cumpre um direito da comunidade surda, mas também enriquece a arte, tornando-a acessível e inspirando um novo olhar para a inclusão em manifestações culturais e religiosas.

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Da cadeira de rodas ao palco: a história de superação e fé da professora Rátis

O ano de 2017 marcou uma ruptura drástica na vida de Lorena Rátis, bailarina e professora de dança. Após grave acidente, uma compressão medular a atingiu, tirando-lhe os movimentos do pescoço para baixo, o que a confinou por um ano e meio a uma cadeira de rodas e, posteriormente, a muletas. O momento mais desafiador da recuperação não foi a dor física, mas o impacto emocional de voltar ao seu estúdio, o Artcorpo, e presenciar seus alunos dançando enquanto ela permanecia inerte, impedida de fazer o que mais amava: dar aulas. A frustração de ver "o chão cair" e lidar com a realidade de sua limitação foi o período mais duro.

No entanto, a jornada de superação foi intrinsecamente ligada à e à devoção a Nossa Senhora de Nazaré. O ponto de virada aconteceu quando Lorena, mesmo sem poder dançar, decidiu participar do espetáculo que havia planejado antes do acidente, "Toda a Forma de Amar", dedicando-se à parte sobre o amor a Deus. Na cena, ela discursava: "Valorize seu andar, valorize um abraço, um sorriso, e continue acreditando que você é capaz. Todos nós somos."

Naquele momento, diante do teatro lotado, a professora reafirmou sua fé e esperança. Deixar de crer não era uma opção; ela se apegou à convicção de que "se Deus fizer, ele é Deus, se não fizer, ele é Deus". O agradecimento veio de forma prática: no segundo Círio após o acidente, já sem a cadeira de rodas, ela fez questão de ir à transladação segurando as duas muletas nas mãos para agradecer a intercessão de Nossa Senhora.

Hoje, estar de pé, dançando e sinalizando em Libras para homenagear o Círio, é traduzido por uma única e poderosa palavra: gratidão. O novo significado de dançar para Lorena não está nos passos ou em corpos esculturais, mas na capacidade de resistência e celebração que vem de dentro. É um ato de oferecer ao outro a própria bagagem cultural e as vivências de superação.

A conexão com o Círio de Nazaré e a devoção pessoal

Para Lorena, o Círio de Nazaré transcende o caráter de uma mera festa religiosa. A manifestação de fé paraense é vista como um momento de renovação de valores essenciais: amor, gratidão, esperança e fraternidade. Ela destaca a força da união dos romeiros, "interligados com um único gesto de amor pela corda de Nossa Senhora de Nazaré", e a convergência de identidades por meio das diversas expressões culturais que marcam o período. Por essa amplitude de significado, o Círio se legitima como um verdadeiro Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil.

A fé regional se encaixa diretamente em sua jornada de superação após acidente. O vídeo de coreografia em Libras, unindo a dança, a acessibilidade e a homenagem à santa, não é um "pagamento de promessa" no sentido estrito. É, sim, um profundo ato de agradecimento.

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Ao ser questionada se o projeto serve como seu "manto de promessa ou sua vela de agradecimento", Lorena é enfática: é simplesmente agradecer a Nossa Senhora de Nazaré. A iniciativa é a sua maneira de expressar gratidão pelas bênçãos e a força que recebeu em um período de grande dificuldade, no qual a fé foi seu amparo. Mais do que um ato isolado, o vídeo é a sua forma de pedir a bênção para que, nos próximos Círios, ela esteja de pé e consiga "contribuir da melhor forma" para a maior manifestação religiosa do mundo.

A mensagem que ela deixa para quem enfrenta desafios físicos ou emocionais é de encorajamento e autoconhecimento: "olhar mais para dentro de si mesmo, tentar melhorar para conseguir superar seus desafios, sem ficar comparando com a vida do outro." O segredo está em valorizar cada detalhe — um caminhar, um cheiro, um sorriso — e buscar a energia positiva de pessoas que querem o seu bem, fazendo dessa fé e gratidão a força para seguir em frente.

O vídeo, que já emociona a comunidade surda e serve de inspiração, não é apenas uma manifestação cultural, mas um poderoso lembrete de que a arte e a fé devem ser para todos.

(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Enderson Oliveira, editor web de oliberal.com)

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