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Elói Iglesias rechaça termo 'profana' para descrever Festa da Chiquita: 'É pagã!'

A Chiquita, que este ano terá Daniela Mercury como uma das atrações, é reconhecida como patrimônio cultural imaterial pelo Estado do Pará, tombada pelo Iphan e pela Unesco

Vito Gemaque e Igor Wilson

A Praça da República se transformou, mais uma vez, em palco de uma das celebrações mais emblemáticas da diversidade cultural paraense. Assim que a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré passou pela avenida Presidente Vargas, teve início oficialmente a Festa da Chiquita, evento que há décadas marca o calendário paralelo do Círio. Embora seja conhecida popularmente como uma festa “profana”, o coordenador do evento, Elói Iglesias, faz questão de afastar esse rótulo: “Isso não é uma festa profana. A gente não quer acabar com a religiosidade de ninguém. É uma festa pagã que agrega a todos, sendo do bem”, afirma.

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Neste ano, a edição da Chiquita contou com a presença de figuras públicas e artistas que reforçaram o caráter cultural e político do evento. Estiveram presentes a atriz Dira Paes e o carnavalesco Milton Cunha, ambos paraenses, Fábio Porchat, Zeca Camargo, além da cantora Daniela Mercury, que subiu ao palco com sua esposa e se apresentou. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também participou da celebração.


“Sentimento de resistência, de luta, de visibilidade. Somos pessoas que temos todo direito à fé. Fé não tem nada a ver com religião, e religião não tem nada a ver com amor. Religião é ideologia”, diz Elói Iglesias, que coordena a festa desde 1990 e transformou o evento em um espaço de expressão e acolhimento da comunidade LGBTQIAPN+.

Com mais de cinco décadas de história, a Festa da Chiquita é reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Pará e está tombada pelo Iphan e pela Unesco. “São cinquenta anos, para o ano vamos completar o jubileu da Festa da Chiquita, a primeira manifestação LGBTQIAPN+ a céu aberto do mundo, reconhecida pelo Iphan, pela Unesco, pelo Estado e pelo município”, ressalta Elói.

Durante a noite, a ministra Sonia Guajajara destacou a importância da festa como um ato de resistência e de cobrança de construção de políticas públicas voltadas à proteção de vidas. “Parabenizar por essa resistência de quase meio século, estar aqui com Elói, Dira, Daniela e tantas outras pessoas pra receber essa homenagem, reconhecimento à comunidade LGBTQIAPN+ indígena, pra que a gente possa levar proteção a essas pessoas”, afirmou.

A ministra também assumiu o compromisso em apoiar pautas ligadas à comunidade LGBTQIAPN+. “Recebo com carinho e compromisso de estar junto a toda essa comunidade por segurança, respeito e justiça. Estar junto lutando pela vida dessas pessoas, que a gente sabe que são tão ameaçadas, tão violentadas”, completou.

Aos 70 anos, ele vive cada edição como se fosse a última. “Já estou com mais de 70 anos, vivo os últimos momentos do fim da melhor maneira possível”, conta. Neste ano, ele incorporou um alter ego inspirado em um personagem que criou para um filme infantil. “Fiz um cosplay de uma garça, que eu fiz a voz no filme, e tá um sucesso”, brincou.