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Vítimas de trabalho análogo à escravidão em vinícola não tinham acesso a toalhas, talheres e lençóis

Dois baianos começaram a trabalhar em uma vinícola do Rio Grande do Sul com a proposta de ganharem salário de R$ 4 mil, além de refeições e alojamento

O Liberal
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Vítimas de trabalho análogo à escravidão em uma vinícola em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, dois baianos fugiram após presenciarem agressões físicas, verbais e ameaças de um empresário, que não teve o nome divulgado. No local, que antes era visto como uma oportunidade de trabalho e renda, os funcionários não tinham acesso a toalhas, lençóis ou talheres, e precisavam comer as “quentinhas” - geralmente estragadas - com as mãos.

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As duas vítimas, dois homens amigos que saíram da Bahia juntos em janeiro de 2023 rumo a uma oportunidade de emprego de dois meses colhendo uvas em uma vinícola do Rio Grande do Sul, souberam da vaga por meio do familiar de um deles, que mora no Estado há anos. A proposta inicial incluía alojamento, três refeições e um salário de cerca de R$ 4 mil pelos dois meses. Além disso, as passagens de ida e volta seriam pagas pela empresa.

Mas, a realidade foi outra. “Chegamos lá com um grupo grande de pessoas. Quando vimos a situação, todos quiseram ir embora, mas a gente não tinha dinheiro para voltar", contou uma das vítimas, que preferiu não se identificar. "Quando souberam que dei baixa na minha carteira [de trabalho], ele [suspeito] passou com a pistola com o cabo para fora para me intimidar. Apontavam a arma para irmos trabalhar, davam choque no pé. Era trabalho forçado", relatou.

Os dois ainda contaram que as jornadas de trabalho passavam de 15h por dia e muitos deles começavam a colheita nas primeiras horas da manhã e voltavam para o alojamento após 23h. No dia seguinte, o ciclo se repetia. "Acordavam a gente 4h da manhã, chamando a gente de demônio e presidiário. Nem força para trabalhar a gente tinha”, disse um dos homens. 

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A vítima também contou que o alojamento tinha câmeras e tudo era monitorado. “Se reclamasse de alguma coisa, espancavam a pessoa. [...] Até na cadeia a pessoa é tratada melhor do que lá. O que passamos não foi coisa de Deus", desabafou. 

Um dos baianos ficou no local por 10 dias e fugiu com a ajuda da família após adoecer e não ter direito a receber cuidados médicos. Já o segundo ficou no local por 22 dias e precisou dormir na rua antes de conseguir ajuda financeira da família para voltar para a Bahia. O caso foi descoberto na última quarta-feira (22), após a Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatar outros 150 trabalhadores do local.

Dívidas

A falta de estrutura no local de trabalho fez os baianos acumularem dívidas com a compra de comidas, talheres e outros itens básicos. Eles ainda precisaram arcar com a volta para casa sozinhos. Dos R$ 4 mil que seriam pagos pelo trabalho, as vítimas não receberam nem metade: um deles ganhou cerca de R$ 400 pelo trabalho de 10 dias, enquanto o outro não recebeu nada.

O responsável por recrutar e manter os trabalhadores é um empresário baiano. Ele foi preso após o resgate da PRF, mas foi liberado depois de pagar uma fiança de R$ 40 mil. As vítimas querem ser ressarcidas pelas dívidas que adquiriram por causa das condições de trabalho e desejam que os responsáveis por enganar os trabalhadores sejam presos. "A empresa lucrava muito em cima do nosso trabalho. Queremos alguma indenização para pelo menos pagarmos as dívidas que fizemos", afirmou um dos trabalhadores

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