Mudanças climáticas podem alterar emissão e captação de gás na Amazônia
A pesquisa, liderada pela engenheira agrônoma Júlia Brandão Gontijo, da Universidade de São Paulo (USP), foi publicada na revista Environmental Microbiome
As mudanças climáticas enfrentadas atualmente podem colaborar para alterações na emissão e captação do gás metano (CH₄) na Amazônia, conforme pesquisa produzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP). O artigo, publicado na revista Environmental Microbiome, aponta o crescimento de microrganismos produtores de metano e a redução do potencial consumo do gás. O estudo foi liderado pela engenheira agrônoma Júlia Brandão Gontijo e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
VEJA MAIS
O gás metano é um dos responsáveis pelo efeito estufa, responsável pelo aquecimento do planeta. Na pesquisa, o grupo avaliou solos de área de várzea da Amazônia e do rio Tapajós. Durante 30 dias, o estudo ocorreu em duas planícies de inundação e uma floresta de terra alta de Santarém e Belterra, no centro-oeste do Pará, sob temperaturas entre 27ºC e 30ºC e com umidade extrema.
É previsto que a região amazônica passe, como já tem acontecido, por períodos de seca ou chuva excessiva. Nesse cenário e conforme a pesquisa, a produção de metano pode crescer de forma significativa em áreas inundadas. Por outro lado, o potencial de consumo do CH₄ deve reduzir em até 70% nas florestas de terra firme, com aumento de temperatura e condições secas. Já em áreas inundadas, nas mesmas condições e sem aumento significativo de temperatura, o potencial é 22% menor.
“Nas duas áreas inundáveis, embora não tenhamos observado mudanças significativas nos padrões de emissão de metano, houve aumento no número de microrganismos produtores do gás, o que pode indicar um problema futuro”, disse Júlia à Agência Fapesp. A engenheira agrônoma explica que a resistência das várzeas e a sensibilidade das áreas de terra firme mediante mudanças climáticas pode provocar alterações no balanço de emissões do gás metano. “Tomando por base a proporção da floresta amazônica em níveis globais, isso pode ser muito preocupante”, alerta.
A pesquisa identificou abundantes grupos metanotróficos, ou seja, que utilizam o CH₄ como fonte de energia. Esses organismos possuem potencial para atenuar as emissões, mesmo com as mudanças climáticas. Os estudiosos apontem o aprofundamento da pesquisa sobre essas dinâmicas como forma de conservação do meio ambiente.
A investigação ocorreu em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa); Academia Real Holandesa de Artes e Ciências, dos Países Baixos; e Universidade de Stanford, dos Estados Unidos. Além de Júlia Brandão Gontijo, estão envolvidos os pesquisadores Fabiana S. Paula, Wanderlei Bieluczyk, Aline G. França, Deisi Navroski, Jéssica A. Mandro, Andressa M. Venturini, Fernanda O. Asselta, Lucas W. Mendes, José M. S. Moura, Marcelo Z. Moreira, Klaus Nüsslein, Brendan J. M. Bohannan, Paul L. E. Bodelier, Jorge L. Mazza Rodrigues e Siu M. Tsai.
Para acessar o artigo na íntegra em inglês, clique aqui.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão de Enderson Oliveira, editor de OLiberal.com)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA