Há 25 anos, mãe procura por filha que sumiu na véspera de Natal
Em 2020, Fabiana Esperidião da Silva completaria 38 anos. A mãe se recusa a falar da filha no passado
Há 25 anos, uma mãe procura pela filha que sumiu às vésperas do Natal, no dia 23 de dezembro de 1995. A menina Fabiana é a filha mais velha de Ivanise Esperidião Santos, que naquele dia, se preparava com a família para a chegada das festas de fim de ano. O caso aconteceu em Pirituba, zona oeste de São Paulo.
Fabiana desapareceu após ter saído para visitar uma amiga, que vivia a 300 metros de casa. “Depois da faxina, eu fui ao cabeleireiro. Quando voltei, perguntei: onde está a Fabiana? A minha mais nova disse que ela tinha ido visitar a Damares com a Luciana, mas já voltaria rapidinho”, lembra Ivanise.
Damares, a colega de Fabiana, fazia aniversário naquele dia, mas não haveria festa. Fabiana teria ido ao endereço no mesmo bairro apenas para dar um abraço na amiga. Naquele fim de tarde, Luciana relatou a Ivanise que as duas caminharam juntas até o supermercado que fica a 120 metros da casa da família de Fabiana. Ali se separaram para cada uma seguir seu caminho. Depois disso, ninguém mais teve notícias de Fabiana.
Às 2h30 da madrugada seguinte, Ivanise foi à delegacia mais próxima, mas ouviu do delegado que a menina devia estar com algum namoradinho e logo voltaria. A mãe começou então uma busca sem a ajuda da polícia. “Naquele tempo não tinha celular com internet. Também não havia uma câmera de segurança a cada esquina. Eu fiquei completamente perdida”, relata.
Nos dias seguintes, Ivanise fez uma verdadeira peregrinação em delegacias e também bateu à porta de jornais e emissoras de televisão, em busca de publicidade para o caso. “A única resposta que ouvia é que aquele assunto não estava em pauta. Em 25 anos nunca tive uma informação sequer sobre o paradeiro da minha filha.”
Ela procurou sozinha durante três meses. “Cheguei à beira da loucura. Achei que eu não ia conseguir sobreviver sem a minha filha. Depois, conheci uma ONG no Rio que cadastrava crianças desaparecidas. Passadas umas semanas, eu participei da novela Explode Coração, que colocou depoimentos de mães que tinham seus filhos desaparecidos. Eu me deparei com 72 mães, e vi que não estava sozinha. Muita gente, assim como eu, procurava por seus filhos”, relata.
Ivanise conheceu o grupo Mães da Cinelândia, formado por mulheres do Rio de Janeiro que dedicam suas vidas a buscar filhos desaparecidos. Com elas aprendeu a se organizar para montar o próprio grupo, o movimento De Volta para Casa, nascido em 31 de março de 1996, também composto por mães, em sua maioria.
“Eu transformei a minha dor em luta por 11 mil pessoas que já passaram pela minha vida nesses 24 anos de fundação. Fora 5.016 pessoas localizadas”, orgulha-se.
A maior parte dos casos são de fuga do lar, outros envolvem pessoas adultas que desaparecem no momento de algum surto relacionado à saúde mental e há exemplos de idosos desorientados por consequência de doenças como Alzheimer, que perdem o rumo de casa. Casos como o de Fabiana são minoria, segundo Ivanise.
A família de quem desapareceu assina um termo de responsabilidade autorizando a ONG a buscar informações com o governo, a polícia e em hospitais, por exemplo. A divulgação é a principal ferramenta de trabalho, pois ao ver imagens de desaparecidos pessoas compartilham pistas.
O maior entrave para a busca por pessoas desaparecidas é não haver um sistema unificado de informações nacionais sobre esses casos, afirma Ivanise.
Série de crimes
Ivanise ressalta que, por trás de um desaparecimento pode haver uma série de crimes: adoção ilegal, tráfico de seres humanos e exploração sexual são apenas alguns deles. “Mas é mais fácil fechar os olhos para o problema do que fazer alguma coisa”, diz.
Em 2020, Fabiana Esperidião da Silva completaria 38 anos. A mãe se recusa a falar da filha no passado. “Eu não recebi uma certidão de óbito, guardo a de nascimento. Para o Estado, porém, Fabiana não existe mais.”
Enquanto a lei não sai do papel, pessoas “viram” arquivos. O caso de Fabiana hoje se resume a algumas folhas esquecidas dentro de uma caixa onde se lê: “Arquiva-se por falta de elementos”.
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