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Falso médico usou nome e CRM de profissional para assinar 200 óbitos de pacientes em hospital

Em 2012, Fernando Henrique Dardis foi condenado pela Justiça por portar distintivo da Polícia Civil e carregar munições em seu carro, mesmo não sendo policial

O Liberal
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Fernando Henrique Dardis, acusado de ser falso médico e matar duas pacientes, usou a foto dele, mas com o nome e o número do registro do Conselho Regional de Medicina (CRM) de um profissional verdadeiro para assinar mais de 200 declarações de óbito de pacientes na Santa Casa de Sorocaba, interior de São Paulo. O caso foi revelado no domingo passado (22/6) pelo Fantástico.

As informações são do próprio Fernando Henrique Dardis, que foi preso na terça-feira (24/6) pela polícia após se entregar numa delegacia em Guarulhos, na Grande São Paulo. Procurado pela Justiça, ele chegou a confirmá-las durante uma audiência, anos antes da prisão.

Ele admitiu que fingiu ser médico entre 2011 e 2012, quando atendeu pacientes, prescreveu remédios e indicou tratamentos no hospital em Sorocaba, onde era conhecido como "doutor Ariosvaldo".

Segundo o G1, o fato de Fernando ter assinado documentos que atestavam as mortes de pacientes não significa que ele atendeu todos eles. Isso porque médicos plantonistas costumam assinar declarações de óbito de pacientes atendidos por outros colegas. Quem assina certifica, no entanto, a provável causa da morte. E foi isso o que o falso médico fez, mas de maneira ilegal, já que nunca foi médico.

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Para conseguir manter essa farsa, Fernando confessou ter pego documentos desse médico verdadeiro sem o conhecimento dele quando fazia faculdade de Medicina e estagiou num centro hospitalar em Guarulhos, onde Ariosvaldo trabalhava.

Para dar mais credibilidade ao personagem que criou, Fernando também colocou a foto na carteira de identidade de Ariosvado e pegou o currículo do verdadeiro médico como sendo seu. Providenciou ainda um carimbo com o nome e CRM do profissional.

A fraude foi descoberta depois após denúncias de pacientes e familiares que procuraram as autoridades. A equipe de reportagem não conseguiu localizar Ariosvaldo para comentar o assunto.

Ainda conforme o G1, neste período em que trabalhou como falso médico em Sorocaba, Fernando jamais usou o seu verdadeiro nome, que só era conhecido em Guarulhos, onde também passou por mudanças. Batizado como Fernando Henrique Guerreiro, ele resolveu retirar o último sobrenome e adotou no lugar Dardis, que é da sua família paterna. Essa alteração foi feita legalmente.

Entre as ilegalidades, Fernando atuou como médico sem ser por um ano e meio. Ele chegou a cursar até o sétimo semestre de medicina, mas abandonou o curso sem concluí-lo ou se formar médico. E nesse tempo em que exerceu a profissão ilegalmente, acabou condenado pela Justiça por falsidade ideológica.

Fernando também foi acusado pelo Ministério Público (MP) de provocar as mortes de duas pacientes. É réu na Justiça de ter assumido o risco de matar Helena Rodrigues e Therezinha Monticelli Calvim. Ele ainda não foi julgado pelos crimes. O julgamento do caso de Helena foi marcado para 30 de outubro deste ano em Sorocaba.

Atualmente Fernando responde preso por homicídio por dolo eventual nos casos das duas pacientes mortas. Ele é acusado de prescrever remédios e não saber dar o atendimento necessário às vítimas.

De acordo com o G1, a Justiça decretou a prisão preventiva de Fernando em maio a pedido do MP. O motivo: a Promotoria descobriu que ele havia forjado a própria morte para não ser julgado pelos homicídios das pacientes.

De acordo com o MP, Fernando conseguiu um atestado de óbito falso de que ele teria morrido por sepse no Hospital Brás Cubas, em Guarulhos, na região metropolitana. O hospital pertence à família dele.

Depois disso, ainda segundo a acusação, Fernando forjou documentos do Cemitério Municipal Campo Santo, em Guarulhos, para informar que ele foi enterrado lá. Para isso, colocou no sistema do Serviço Funerário Muncipal o nome dele no lugar do de um idoso de 99 anos, que realmente está sepultado no local.

Por meio de nota, Luiz Antonio Nunes Filho, advogado de Fernando, informou que a decretação da prisão de seu cliente é "desnecessária e desproporcional, razão pela qual já está a requerer a substituição por medidas cautelares alternativas."

Em um vídeo encaminhado no último domingo por sua defesa, o falso médico disse que vinha "a público esclarecer que está vivo" e agiu sozinho "em um momento de desespero". 

"Venho a público esclarecer que estou vivo, que agi sozinho em um momento de desespero. Lembrando que a dona Helena foi atendida por mim, foi internada, passou por mais três médicos e veio a óbito. Eu não aceito por não ter nada no processo que me indique esse crime e desculpa a todos os envolvidos", disse Fernando na gravação.

O Fantástico recebeu uma nota da empresa Med-Tour, que não aparece como sócia do Brás Cubas, mas é de propriedade da família de Fernando. Ela informa que os proprietários receberam com surpresa a notícia narrada pela reportagem e negam envolvimento em qualquer irregularidade.
Procurada pelo g1 para comentar o assunto, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou, por meio de um comunicado, que irá apurar o caso do falso médico que atendia pacientes em hospital.

Em 2012, Fernando foi condenado pela Justiça por portar distintivo da Polícia Civil e carregar munições em seu carro, mesmo não sendo policial. O caso ocorreu em 2009 em Guarulhos. À época ele havia dito a Polícia Militar (PM) que encontrou o material dentro de uma mochila e o iria entregar numa delegacia, ainda segundo o G1.

De acordo com o promotor Antônio Domingues Farto Neto, existe a possibilidade de o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP de Guarulhos participar das investigações sobre o caso porque há suspeita do envolvimento de mais pessoas no esquema criminoso.

Procurada para comentar o assunto, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou por meio de nota que a Corregedoria da Polícia Civil vai apurar se policiais forneceram o distintivo e munições para Fernando fingir que era policial.

"A Corregedoria Auxiliar de Guarulhos instaurou uma Apuração Preliminar para verificar possível conduta de proteção indevida a policiais civis. Paralelamente, um inquérito policial foi aberto no 1º Distrito Policial da cidade para investigar os fatos ligados ao suspeito. As investigações seguem em andamento", informa o comunicado.

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