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Dia da Mentira: o 'fake' não pode ser 'news', diz especialista em checagem de fatos

A jornalista Cristina Tardáguila, fundadora da primeira empresa de checagem de informações do Brasil, responde perguntas sobre o compartilhamento e combate a notícias falsas

Camila Guimarães
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Este sábado, 1º de abril, é conhecido como Dia da Mentira – prática levada popularmente com muito humor neste dia, mas que, em outros contextos, preocupa bastante, principalmente quando envolve informação. Um levantamento da escola de jornalismo Poynter Institute apontou que 4 em cada 10 brasileiros dizem receber notícias falsas todos os dias. O fenômeno é bem conhecido da jornalista Cristina Tardáguila, fundadora da primeira empresa de checagem de fatos no Brasil, a Agência Lupa, entrevistada da semana em O Liberal.

Com o crescimento do volume e a facilidade de propagação de notícias falsas hoje em dia, você acredita que estejamos no tempo da ‘pós-verdade’?

Pós-verdade é um conceito altamente polêmico, porque pressupõe a superação da verdade. É uma expressão internacionalmente difundida e indica a dificuldade que temos de identificar o que é verdadeiro e o que é falso, mas é bem difícil de aceitar. Eu não gostaria de imaginar que vivo em uma era em que a verdade acabou. Seria arriscado para a existência da própria sociedade.

Como você avalia a propagação das popularmente chamadas ‘fake news’?

Eu não uso essa expressão, porque ela é paradoxal. Uma coisa que é ‘fake’, não pode ser ‘news’ - são coisas mutuamente excludentes e o termo é frequentemente usado para atacar o jornalismo de boa qualidade - grandes investigações são acusadas de produzir esse fenômeno quando eles estão fazendo, na verdade, o oposto. É preferível dar os nomes exatos: exagero, mentira, manipulação ou o genérico ‘desinformação’.

image Cristina Tardáguila, jornalista especialista em fact-checking. (Divulgação)

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Quais desafios essa onda de desinformação traz para quem trabalha com Comunicação?

O maior desafio é o tempo - você tem que ser rápido para identificar a desinformação antes de ela viralizar e precisa ser rápido na apuração, ter certeza de que algo é falso, ter base de dados. Também precisa ser rápido na informação e na distribuição da checagem. É uma disputa. Infelizmente, as iniciativas de checagem no Brasil são muito pequenas ainda. Se todas trabalhassem 24h por dia, a gente ainda não daria conta.

Por que as pessoas se atraem às vezes mais para a mentira do que para a verdade?

A mentira é construída para te emocionar, proporcionar muita raiva, euforia ou muita tristeza. Ela é feita para achar no ser humano o ponto não racional. Não importa quantas línguas você fale, quantos diplomas você tenha ou livros tenha lido - todo mundo tem emoção. Então a desinformação navega nesse campo. 

Como combater esse problema e sair da espiral da desinformação?

Primeiro passo: reconhecer que todos estamos passíveis a desinformar. Segundo: saber quais são os seus pontos frágeis, quais são as coisas que você tem tendência em acreditar porque gostaria que acontecesse. Terceiro: sempre que você ver uma informação que tem a ver com essa lista de desejos, sonhos, crenças, deve parar um segundo. O quarto é um convite: agir como jornalista – se perguntar quem produziu, quando produziu, por que produziu, quem tá ganhando e quem está perdendo com isso. O quinto é checar: temos um ecossistema de checadores muito fortes no Brasil, fontes que deveriam fazer parte do café da manhã. É passar um olho no que foram as últimas checagens - ‘qual foi a mentira do dia anterior’ e colaborar nessa luta.

 

 

Dia da Checagem

No domingo, 2, é comemorado o Dia do Fact-Checking, ou Dia Internacional da Checagem de Fatos, criado para demonstrar a importância de apurar notícias e combater o compartilhamento de mentiras. Conheça cinco agências de checagem:

1 - Agência Lupa: fundada em 2015, classifica as notícias em falso, verdadeiro, contraditório, ‘ainda é cedo para dizer’, ‘insustentáve’ e ‘de olho’.
2 - Aos Fatos: de 2015, a agência tem seções de ‘falso’, ‘verdadeiro’, ‘não é bem assim’.
3 - Fato ou fake: serviço do grupo Globo, apura notícias que muito compartilhadas nas redes sociais.
4 - Comprova: financiada pela Google e Facebook. As informações são checadas por profissionais de redações parceiras.
5 - FactCheck.Org: fundada em 2003, checa notícias da política norte-americana

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