Vítima de assédio cria vaquinha virtual para comprar cadeira de rodas

Renata Modesto está fazendo uma vaquinha virtual para comprar uma cadeira de rodas. Ela precisa arrecadar R$ 4 mil. Mãe de quatro filhos, Renata tem 32 anos. E o fato que mudou a vida dela ocorreu há mais de nove anos, no bairro Mangueirão, em Belém. Então com 23 anos, a estudante foi assediada por um policial militar. Ela reagiu. Ele atirou três vezes nela. Um dos disparos atingiu as costas da estudante. Ela ficou paraplégica. Depois, o então PM foi preso, julgado e condenado. E expulso da corporação. Mas as dificuldades de Renata só estavam começando.

A vaquinha virtual foi criada na segunda-feira, dia 10. E, até agora, arrecadou R$ 50. Diz Renata: "Estou precisando muito de uma cadeira de rodas melhor. A minha está quebrada e fica muito difícil para me locomover. Estou aqui pedindo ajuda porque não tenho condições de comprar uma. Agradeço a quem puder ajudar".

Renata relembra a data que mudou sua vida: "No dia 15 de janeiro de 2010, eu e duas amigas fomos lanchar em uma padaria. Era uma parada de ônibus também. Eu fui ao lado para comprar um crédito e um homem mexeu comigo, dando cantada. E, na minha vinda, ele continuou mexendo. Eu não gostei e falei para uma amiga minha. Ele ouviu eu falar para a minha amiga que eu não tinha gostado. E, aí, veio na minha direção, tipo me apertando um pouco perto do meu seio, perguntando se eu não tinha gostado. Nisso, revidei com um tapa. E ele me deu um soco, que eu caí em cima da minha amiga. Nisso, ele mandou eu correr. E puxou uma arma e deu três tiros. Um pegou nas minhas costas. Perdi na hora o movimento. Caí. Fiquei internada um tempo no Metropolitano. Saí e fiquei na casa de uma amiga minha. De lá, aluguei um quitinete e fiquei com meu filho, que, nessa época, tinha 3 anos".

Acrescenta Renata: "Eu praticamente tive que reaprender a fazer tudo. De lá para cá, aconteceram muitas coisas. No início, o Estado prometeu muitas coisas pra mim. Prometeu casa e não cumpriu. Tive que jogar na Justiça para pegar indenização. Mas não consegui a indenização também. Sobre a cadeira de rodas é uma luta. Esses dias, eles me mandaram uma cadeira super pesada, de hospital. Sorte que eu conhecia uma senhora. Ela me ajudou e fez a troca. Trocou por uma cadeira que ela tinha, melhor. E, nisso, a minha luta vai indo, né? Hoje em dia, eu dependo muito dessa cadeira de roda. Ela é meus movimentos. Tenho uma vida ativa. Vou à feira, cuido dos meus filhos. E, para mim, uma cadeira de hospital fica muito difícil, porque pesa. Para eu ficar andando na rua, corre o risco de eu cair. Hoje em dia, estou aqui lutando contra a depressão. Tem dia que não estou bem... Mas peço muita força para Deus para eu prosseguir a minha vida e tentar ter uma vida normal, né?".

Vaquinha virtual foi criada para ajudar Renata a comprar uma cadeira de rodas (Divulgação)

Em 26 de janeiro do mesmo ano de 2010, a Polícia Civil cumpriu mandado de prisão preventiva contra o então cabo da Polícia Militar Jefferson Lobato Santos, de 38 anos. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio por assediar, agredir e atirar, pelas costas, em Renata.

No mesmo dia do baleamento, Renata foi internada no Hospital Metropolitano. Após dar entrada no hospital, fez duas cirurgias - uma nas costas e a outra no rosto, porque também foi atingida com um soco. 

Em 31 de agosto de 2017, e por maioria dos votos, o Júri Popular da 3ª Vara Criminal de Belém sentenciou o réu e ex-policial militar Jefferson Lobato dos Santos a 17 anos e quatro meses de reclusão pela tentativa de homicídio de Renata Modesto Ferreira.  O réu foi excluído da corporação em 2011.

O crime só não se enquadrou em feminicídio porque ocorreu em 2010. A Lei do Feminicídio, lei nº 13.104, só entrou em vigor em 2015 - cinco anos depois, portanto.

Além da vaquinha virtual (www.vakinha.com.br/vaquinha/renata-modesto), quem quiser ajudar Renata pode ligar para o número dela: 98561-0028.