Transtorno do Espectro Autista: cresce a busca por diagnóstico em adultos

Descubra o processo de diagnóstico em adultos e seus principais desafios

Eva Pires e Lucas Quirino

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) acomete entre 2 e 4 milhões de pessoas no Brasil, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado no dia 2 de abril, especialistas destacam que o amplo volume de informações sobre essa condição na mídia está levando mais pessoas a se identificarem e procurarem pelo diagnóstico, sobretudo adultos.

Os dados indicam um notável aumento na detecção desse transtorno do desenvolvimento, caracterizado por dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos e interesses restritos. O Censo Escolar do Brasil revelou um crescimento de 280% no número de estudantes matriculados em escolas públicas e privadas com TEA somente no intervalo entre 2017 e 2021.

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Um estudo divulgado em 2023 pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revela que 1 em cada 36 crianças americanas com menos de 8 anos é diagnosticada com autismo. Esta pesquisa, realizada a cada dois anos, demonstra uma tendência consistente de aumento nos casos: na edição anterior do levantamento, a taxa era de 1 caso a cada 44 crianças.

Diagnóstico na fase adulta

Segundo a médica neuropediatra Dra. Ana Leão, o maior acesso a informações sobre o autismo tem levado ao aumento da busca por ajuda e diagnóstico em todas as idades.

"Apesar do começo precoce, o autismo não se limita à infância. Cada vez mais adolescentes e adultos estão buscando o diagnóstico. É muito comum fazer o diagnóstico de crianças e um dos pais se identificar com os mesmos sinais. Esse aumento no número de casos identificados tem sido observado mundialmente e motivos de muita pesquisa, mas sabe-se que se dá principalmente pelo maior acesso às informações e a busca por ajuda", diz.

Os sinais característicos podem ser interpretados, muitas vezes, como timidez, introspecção ou excentricidade. "Na vida adulta, os sinais do TEA podem ser sutis, e muitas vezes camuflados por condições psiquiátricas como ansiedade e depressão. Para avaliação, muitas vezes é necessário informações sobre os anos iniciais de vida fornecidos por pais ou familiares", completa.

Adultos autistas enfrentam constrangimentos e dificuldades nos relacionamentos devido à dificuldade em expressar suas necessidades. Sem diagnóstico, enfrentam uma jornada repleta de frustrações, incompreensões e sofrimento, afetando sua saúde mental e autoestima devido ao isolamento e às dificuldades sociais e profissionais.

Segundo a especialista, são exemplos comuns de queixas de adultos: propensão a erros sociais não intencionais; gostar e insistir nos mesmos temas; dificuldade de manter conversas; interação social afetada (são mais isolados); dificuldade em articular pensamentos pessoais; ter memória intensa de detalhes e interpretar as coisas literalmente.

Conforme a médica, Dra. Ana Leão, o diagnóstico, apesar de tardio, oferece um novo olhar sobre si, permitindo a compreensão das características e necessidades individuais. "O diagnóstico do TEA não significa o fim das dificuldades, mas sim o início de uma nova jornada. Um cérebro é capaz de se moldar e aprender novas habilidades e superar desafios, e é esse o objetivo das terapias de reabilitação", explica.

A especialista ressalta que o autismo não tem cura milagrosa ou receita de bolo e que cada pessoa com o transtorno é única. "Com o apoio adequado, os adultos com autismo podem desenvolver todo o seu potencial e alcançar uma vida plena e autêntica, e seus parceiros e familiares serão capazes de compreender suas necessidades e alinhar suas expectativas", pontua.

Tardia e transformadora: a jornada de Matheus Borges após o diagnóstico de autismo

image(Foto: Cristino Martins/O Liberal)

Matheus Borges, de 19 anos, foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA) de nível leve aos 17 anos. Por falta de conhecimento da família, os sinais passaram despercebidos na infância. Durante a adolescência, no último ano do ensino médio, o jovem passou a apresentar sinais atípicos, dificuldade de interação social e sintomas de depressão.

Somente após a orientação de uma psicóloga, que o atendeu por conta de um episódio depressivo, Matheus teve seu quadro investigado e recebeu o diagnóstico devido. Para Matheus, o diagnóstico tardio se deu por falta de informação.

"Ainda é algo novo. Sou o primeiro da minha família a ter esse diagnóstico. Foi depois dele que fui tendo mais clareza de quem sou e de quem eu era antes. Foi um momento de clareza na minha vida, abriu muitas portas e assim fui me identificando", relata.

Marly Rodrigues, mãe de Matheus e dona de casa, compartilha que receber o diagnóstico de seu filho foi um processo desafiador, marcado por sentimentos de culpa. "Para mim foi muito difícil, uma corrida contra o tempo. A maioria das pessoas que eu procurava conversar me criticavam e me questionavam sobre eu nunca ter percebido ou o porquê de deixar chegar a esse ponto para procurar ajuda. A minha resposta é que eu nunca tive vergonha do meu filho, era falta de conhecimento", narra.

O jovem faz acompanhamento psicossocial na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em Belém. Pela APAE, ainda, Matheus recebeu suas primeiras oportunidades de emprego.

Passar direto nos anos de escola e dedicar-se aos estudos nunca foram problemas para Matheus, que recentemente conquistou a tão sonhada aprovação no curso de jornalismo na Universidade Federal do Pará (UFPA). "Meu pai, desde os meus dez anos, me incentivava a assistir o jornal para ficar mais informado. Assim, eu fui assistindo e pegando interesse por jornalismo e por ser âncora de jornal", conclui.

Eva Pires e Lucas Quirino (estagiários sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)

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