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Saúde de pessoas trans é tema de pesquisa da Uepa; saiba como participar

"Sexualidade e Função Urinária na População Transexual no Brasil" é o tema do estudo que pretende trazer mais material científico sobre essa população

João Thiago Dias
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A pesquisa "Sexualidade e Função Urinária na População Transexual no Brasil", a partir da parceria de pesquisadores da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), com apoio de outras instituições do país, está ouvindo pessoas transexuais com 18 anos ou mais e que realizaram ou não cirurgias de redesignação sexual, com ou sem tratamento de hormonioterapia. A iniciativa, por meio de formulário virtual, busca analisar como a sexualidade e a função urinária podem impactar sobre a qualidade de vida dessa população. O questionário está disponível na plataforma Google Forms, no site da Uepa (www.uepa.br).

Como a cirurgia de redesignação sexual e terapia de hormonização são recentes no Brasil, poucos estudos foram realizados para verificar as consequências funcionais nos músculos do assoalho pélvico, desta forma, o estudo se justifica pela necessidade de obter esse conhecimento dentro da área da saúde para melhoria do atendimento especializado na população transexual. Desta maneira, o estudo pretende reconhecer como a fisioterapia pode auxiliar ainda mais na readequação funcional das mudanças corporais ocorridas no processo transexualizador e, consequentemente, no bem-estar do grupo social de pessoas transgêneros.

O trabalho é do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento e Reabilitação na Amazônia (Gederam), vinculado ao curso de Fisioterapia da Uepa, sob a coordenação da professora Erica Feio. Conta com a parceria do professor João Simão de Melo Neto, coordenador da Unidade de Pesquisa Clínica e Experimental, do Sistema Urogenital, da UFPA (UPCEURG-UFPA). 

De acordo a pesquisadora Erica Feio, conhecer mais as questões de saúde LGBTQIA+, em especial das pessoas transexuais, é um interesse antigo do curso de Fisioterapia da Uepa, pois com este conhecimento é possível ter uma intervenção mais direcionada e eficaz aos cuidados em saúde e, assim, propiciar padrões ótimos de assistência com ética e humanização.

“São diversos os enfrentamentos que os transexuais precisam lidar no seu dia a dia, que podem dificultar o acesso aos serviços públicos de saúde. São necessários mais estudos científicos que possam orientar os profissionais nos procedimentos para serem resolutivos. Tal condição é prevista nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), em que o acesso aos serviços de saúde é universal, integral e equânime, preservando a autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral”, comentou. 

Carências e cuidados podem ser levantadas na pesquisa

O pesquisador João Simão endossou que existe uma carência de material científico que possa respaldar o estudo e a aplicabilidade clínica em cima de possíveis disfunções ligadas à função urinária e sexual de pessoas transsexuais. "Enquanto a gente não conhecer quais as disfunções que existem, a Fisioterapia fica limitada para atuar no processo de reabilitação", frisou. "Pensando nisso, como nosso grupo já estuda há um tempo a sexualidade, como em populações quilombolas e indígenas, procuramos transpor, uma vez que dentro do nosso grupo de pesquisa tem uma população LGBTQIA+ grande", explicou.

Segundo ele, o questionário foi pensado de forma cuidadosa para não se tornar invasivo. "Dentro dos nossos integrantes que representam a população LGBTQIA+, selecionamos um indivíduo que adaptou os questionários da população cisgênero. Após a adaptação, como nosso estudo é multicêntrico, solicitamos que uma aluna de mestrado, trans, da UFG, fizesse a leitura e verificasse se estava de acordo com os princípios que evitassem qualquer tipo de constrangimento", detalhou João Simão.

A pesquisa, que também faz busca ativa com ONGs e movimentos sociais, foi lançada em julho de 2021 e deve seguir ao longo de 2022, até conseguir uma participação representativa. Os resultados serão apresentados em eventos nacionais e internacionais; revistas científicas; e por meio da mídia local e nacional. Também devem ser apresentados aos órgãos governamentais, para embasar a construção de políticas públicas. "A partir daí, conseguimos dialogar diretamente com a população trans", finalizou o professor da UFPA.

image Os pesquisadores João Simões e Erica Feio destacam a importância de preencher lacunas de informação e estudos sobre a saúde da população trans (Thiago Gomes / O Liberal) 

Público-alvo da pesquisa reforça a importância do diálogo

Eduarda Lacerda, coordenadora do coletivo universitário Raissa Gorbatchovk (coletivo de alunxs universitários LGBTQI+), avaliou que pesquisas desse tipo costumam aparecer justamente no período do Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro, mas que ainda falta mais divulgação sobre as problemáticas e as soluções. "É de suma importância, mas, para além da pesquisa, precisamos que tudo isso que é apontado seja publicizado. Para que nós, enquanto movimento social, possamos correr atrás das nossas pautas de reivindicação, de políticas públicas para nossa população", argumentou.

"Na maioria das vezes, nós, pessoas trans, nos colocamos à disponibilidade para as universidades para irmos até o local e participar das pesquisas, mas não temos retorno. Apesar de ser um projeto, nós, enquanto objetos de pesquisa, deveríamos sentar e discutir essas pautas também", sugeriu Eduarda. "E de que forma isso vai ser abordado. Sem ser invasivo. Porque são perguntas bem íntimas. Lançar uma questão dessa, a forma como vai ser feito o questionário, se faz necessário para que a população não use isso como arma contra nós", completou.

Rafael Carmo, gerente de Proteção à Livre Orientação Sexual da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), avaliou como positiva a iniciativa. "Acredito que seja sim um tema importante. E que assim como quase tudo que envolve as pessoas trans é pouco aprofundado. Mas que se tiver uma pesquisa que traga dados e informações sobre isso, é importante sim", opinou. 

Entretanto, segundo ele, assuntos como a sexualidade e função urinária na população transexual ainda estão longe dos debates recorrentes e com detalhamento da sociedade. "Para ser bem sincero. Não vejo muito nossa população debatendo isso a fundo. Mas é comum falarmos de situações que levam a gente a ter problemas urinários", disse

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