No Tapanã, moradores esperam por asfaltamento em vias há 50 anos

Entenda porque 180 famílias que pedem saneamento há décadas fecharam trânsito esta semana

Dilson Pimentel
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Quando chove, a rua São Geraldo, no Tapanã, em Belém, vira um rio. Nessas ocasiões, os moradores saem de suas casas de sandálias, porque sabem que vão molhar os pés. Mais adiante, calçam o sapato para ir trabalhar. Essa é a rotina das 180 famílias que, revoltadas com essa situação, interditaram a rodovia do Tapanã, na última terça-feira (26), bem em frente à entrada da rua, para chamar a atenção das autoridades municipais e estaduais. Veja vídeo:

Na "São Geraldo", moram mais de 500 pessoas. "Essa obra [a duplicação da rodovia do Tapanã, executada pelo governo estadual] é para atender interesses de empresários e dos grandes condomínios, porque, se fosse realmente uma questão social, eles entravam na rua, beneficiavam as comunidades adjacentes, cujas ruas são intrafegáveis", critica Antonio José Viana, presidente do Centro de Defesa à Cidadania do Estado do Pará, e que mora na rua há 27 anos. "A obra passa em nossa porta. Mas a nossa rua está em condições precárias. Há mais de 50 anos a rua não tem um benefício dos poderes públicos municipal, estadual e federal. Quando chove, a rua fica intrafegável, vira um rio e a população fica sitiada".

"A obra passa em nossa porta. Nossa rua está em condições precárias há mais de 50 anos, Quando chove vira um rio e a população fica sitiada", Antonio José Viana, morador

Morando há 30 anos nessa rua, Rosilene Figueiredo de Oliveira, presidente da comunidade São Geraldo, disse que as famílias querem saneamento básico e asfaltamento. "Estamos tendo muitas dificuldades de locomoção, principalmente com idosos e crianças. Pessoas com deficiência física não estão conseguindo se locomover na rua devido à buraqueira. Fora que a nossa rede de esgoto é a céu aberto e prejudicando nossos poços. Não temos água encanada nessa rua. Todo ano chega o IPTU. Pagamos os nossos impostos, mas não temos retorno nenhum".

Rosilene lembra o impacto mais duro dos problemas de saneamento: "Os casos de asma e pneumonia têm aumentado muito entre os idosos e as crianças". Antonio José atesta: ressalta que tem morador que anda com lenço no nariz, por causa da poeira. "O pessoal passa mal, mas não entra ambulância. É um transtorno para todo mundo", afirma.

"Crianças, idosos e pessoas com deficiência têm muitas dificuldades. Todo ano chega IPTU. Pagamos impostos, mas não há retorno. Os casos de asma e pneumonia têm aumentado muito" Rosilene Figueiredo, presidente da comunidade São Geraldo

image Melhorias na rua só vêm de esforços dos próprios moradores (Igor Mota)

Obras com as próprias mãos 


Há uns dois meses, moradores fizeram um mutirão e aterraram a rua. Esse serviço permitiu a circulação dos carros e melhorou o acesso dos pedestres. Antonio José lembra que os donos de comércio "sofrem" para receber as mercadorias, por causa da dificuldade de acesso dos caminhões à rua.  "Essa é a nossa indignação. Queremos que a comunidade de fato seja atendida", acrescentou.

O presidente do Centro de Defesa à Cidadania do Estado do Pará lembra que, em junho do ano passado, houve uma audiência pública para debater os impactos econômicos, sociais e ambientais, e qual seria a contrapartida dessa obra para atender as comunidades do entorno dela.

"O encontro reuniu lideranças comunitárias, pastores e representantes do governo do Estado e da empresa responsável pela obra. Fizemos um apelo para que a obra gerasse empregos para o Tapanã. Mas essa obra não agregou nenhum funcionário do bairro para pelo menos dinamizar a economia do bairro", afirma o morador.

image Ato fechou rodovia do Tapanã pedindo providências (Igor Mota)

Asfaltamento foi comprometido na Câmara e Alepa


"Queremos asfalto, drenagem, saneamento", ressalta Antonio José. "Quando nós puxamos a audiência pública, nós aprovamos, na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de Belém, a inclusão dessa rua para ser beneficiada com asfaltamento. A Assembleia Legislativa mandou esse expediente para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) e para o Núcleo de Gerenciamento do Transporte Metropolitano (NGTM, órgão estadual responsável pela execução da obra). Só que, até agora, não tem um canal de diálogo", afirmou Antonio José.

Procurada pela redação integrada de O Liberal, a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), da Prefeitura de Belém, informou que "uma visita técnica será realizada na via para que seja feito um levantamento da situação no local".

Por sua vez, o Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM) confirmou, também através de nota, que executa obras de duplicação e requalificação na rua Yamada e rodovia do Tapanã, que, segundo admite o NGTM, são "importantes corredores de transporte localizados dentro do município de Belém". Segundo o NGTM, as obras geram em torno de 350 empregos e priorizariam a mão-de-obra local.

"O NGTM esclarece que não possui atribuições para realizar obras nas demais vias municipais, cuja responsabilidade, como é o caso da rua São Geraldo, é da Prefeitura de Belém".

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