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Romulo Maiorana 100 anos: inovação e visão que transformaram comércio e imprensa paraense

Neste 20 de outubro de 2022, celebra-se o centenário de nascimento de Romulo Elégio Dario Severo Maiorana Chiapetta

Daniel Nardin, Leo Nunes e Eduardo Rocha

Diariamente, centenas de pessoas cruzam o hall de entrada da sede do Grupo Liberal. No local, está instalada a pintura do retrato de Romulo Maiorana, produzida pelo artista vigiense Antonio Coutinho. Com um pouco mais de atenção para a obra, percebe-se o detalhe do olhar, profundo e mirando o horizonte. O semblante parece observar serenamente a movimentação, a realidade viva que se renova do que um dia foi apenas um sonho de um visionário.

Neste 20 de outubro de 2022, celebra-se o centenário de nascimento de Romulo Elégio Dario Severo Maiorana Chiapetta. Ou simplesmente “seu” Romulo, como era conhecido e ainda lembrado com carinho por muitos que com ele conviveram e deixou saudades ao partir, aos 63 anos de idade, em 23 de abril de 1986.

O olhar, mirando além do presente, já era uma de suas características quando, aos 31 anos, mudou-se para Belém. Assim como muitos que aqui escolheram para viver e criar raízes, tornou-se “paraense de coração”.

Filho dos imigrantes italianos Francisco Maiorana e Angelina Chiapetta Maiorana, nasceu em Recife, capital de Pernambuco. Foi estudar em Roma, na Itália e retornou ao Brasil depois do fim da II Guerra Mundial, onde serviu e atuou no “front”. Na volta ao país, deu seus primeiros passos na publicidade e no jornalismo em Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Essa experiência, apesar da pouca idade, contaria na sua chegada a Belém. Iniciou a jornada com a empresa Duplex Publicidade, instalada na Avenida Senador Lemos, onde fabricava placas de ônibus, painéis luminosos e flâmulas de publicidade.

Lojas RM mudaram “cara” do comércio

Com o tino empresarial, Romulo Maiorana foi além. E inaugurou um novo estilo de fazer compras na capital ao investir nas suas primeiras lojas, que levavam suas iniciais RM. Tornou-se inclusive uma rede, com sete na cidade. Numa época em que shoppings não existiam, criou vitrines amplas e espelhadas. Bem elaboradas, atraiam desde a calçada os olhares dos clientes. E esses, ao entrar, recebiam tratamento diferenciado, com atendentes treinadas. Era a personalização para a venda, com loja no estilo magazine e de departamentos, para agradar e oferecer produtos a todo tipo de cliente.  

As lojas tinham ainda espaço para venda de lanches, o que era algo bastante original para os padrões da época. E, por todas essas inovações, acabou inspirando e transformando positivamente o comércio de Belém naquele período. “Para o comércio, Romulo Maiorana sempre fez muito”, destaca texto do livro Personagens do Comércio, do Sindlojas (Sindicato do Comércio Varejista e dos Lojistas de Belém). De acordo com a publicação, suas ações “foram decisivas para que o comércio belenense oferecesse as oportunidades para que a classe emergente da cidade tivesse o poder de compra decisivo”.

Consciente de que para crescer e desenvolver mais era preciso um esforço coletivo, foi um dos fundadores do Clube de Dirigentes Lojistas (CDL), que passou a pautar mais atenção para as melhorias que fossem necessárias para o setor crescer mais, empregar mais e, assim, desenvolver a cidade.

Nesse período, assinava as colunas “RM Informa” e “Sempre aos domingos”, no jornal Folha do Norte. Mesmo com o rumo empresarial do comércio que tinha tomado, não deixou o jornalismo de lado. Aos poucos, decidiu então que o jornalismo estaria no centro de sua vida profissional.

O Liberal - O Liberal assume uma nova fase a partir de 1966, quando inicia a direção de Romulo Maiorana. Desde o primeiro dia, Romulo empreendeu uma série de modificações estruturais no matutino, como a ampliação da equipe de profissionais na redação e aquisição de novos equipamentos.

O saudoso jornalista e colunista de O Liberal, João Carlos Pereira, em texto publicado em novembro de 2019, menciona a fase de entre o início e a transformação de O Liberal. “Fundado em 1946, pelo tenente Moura Carvalho. Naquele ano, criou um veículo que circulava às 16 horas, com apenas quatro páginas, para sustentar os planos políticos com Magalhães Barata, que viria a ser o 13º governador para a República, na época uma "jovem senhora" de apenas 41 anos”, conta o escritor.

“Quando Barata morreu, o jornal voltou para as mãos de seu criador, que, cinco anos mais tarde, vendeu para o engenheiro Ocyr Proença”, relata. João Carlos também cita que o período era o pior de sua trajetória de quase duas décadas. “Sem leitores e anunciantes, não conseguia tirar mais de 300 exemplares e, apesar da tiragem quase simbólica, ainda havia sobras. Na prática, ninguém, incluindo seu proprietário, queria o jornal. Então negociou sua venda para aquele que talvez fosse a única criatura nesta cidade disposta a investir num jornal praticamente falido. Esse visionário, na época chamado "louco" até pelos amigos mais próximos, era Romulo Maiorana”, escreveu João Carlos Pereira.

Entre as inúmeras mudanças, as fotos eram preparadas no tamanho em que sairiam impressas. Romulo trouxe para Belém o sistema offset, ou impressão à frio, proporcionando uma impressão de altíssimo nível, nitidez de imagens e de textos.

Além da melhor qualidade e agilidade na impressão, uma novidade agradou em cheio: os leitores não mais sujavam as mãos com a tinta que desprendia do papel no sistema anterior.

Na época da primeira impressão offset, Romulo Maiorana apreciou o exemplar ao lado da esposa, Lucidéa Maiorana, na casa deles, na travessa Padre Eutíquio, em frente à Praça Batista Campos. "Em 1º de maio de 1972 – data do aniversário de O LIBERAL, nas mãos de Romulo Maiorana -, a cidade conheceu a beleza da impressão em offset. Na véspera, ‘Seu Romulo’, como todos os chamavam, abriu a porta de casa, na travessa Padre Eutíquio, levando o primeiro exemplar com nova feição. Ele era a imagem da felicidade. Entrou no quarto e acordou a esposa, dona Lucidéa Maiorana, para mostrar a novidade. Ela mesma, há algum tempo, me descreveu a cena: ‘Deinha, Deinha, acorda. Olha o nosso jornal. Ele não suja mais a mão de ninguém’, e esfregava os cadernos no lençol branco da cama, para provar que ficavam para trás os dias da impressão a quente, que deixava excesso de tinta no papel, e que manchava as mãos do leitor", lembra João Carlos Pereira, no mesmo texto de 2019.

Em 1974, outro momento histórico: Romulo Maiorana comprou a “Folha do Norte” e transferiu O Liberal para um prédio na rua Gaspar Vianna.  Máquinas de escrever foram substituídas por computadores, e foram implantados novos processos de composição e edição. Era, para os visionários da época, o início de uma nova Era da Comunicação.

Rádio e TV - Após o início da consolidação do impresso no mercado e entre os leitores, a empresa foi ampliando para os moldes que é hoje, um grupo de comunicação e expandiu a marca Liberal para as ondas do rádio, já em 1973. Hoje, a rádio Liberal FM é uma das líderes de audiência e lembrança entre os ouvintes, com sinal em quase todo o Estado e presente mundo afora pela Internet.

Em 1976, concretizou um outro sonho: a TV Liberal. A emissora foi oficialmente inaugurada em 27 de abril de 1976. A festa de inauguração dessa que é a líder de audiência no Pará e uma das principais do Brasil foi histórica.

O próprio jornalista Romulo Maiorana, sua esposa Lucidéa Maiorana e seus 7 filhos (Romulo, Ronaldo, Rosana, Angela, Rosangela, Roberta e Rose) participaram do evento. Foram mais de 500 convidados, entre os quais o ministro das Comunicações, Euclides Quandt de Oliveira; o governador do Estado, Aloysio Chaves; o prefeito de Belém, Ajax de Oliveira, além de artistas, personalidades e diretores da Rede Globo, como Joseph Wallach e Walter Clark.

Eram 19h30, quando o ministro das Comunicações acionou um botão que colocava a emissora no ar. Ao mesmo tempo, a sirene da redação de O Liberal, na rua Gaspar Vianna, soava para anunciar a entrada da emissora no ar. Coube ao radialista Jaime Bastos ler um breve texto sobre a inauguração da TV Liberal.

Integração – A sirene na redação do impresso de O Liberal e a participação de radialistas da Rádio Liberal durante a inauguração da TV Liberal não eram simples obras do acaso ou mera coincidência. O uso do mesmo nome e marca em todos os veículos reforçava também a intenção que até hoje é norte em todas aas plataformas do Grupo Liberal: a integração.

Mesmo após sua partida, o legado da preocupação com a permanente integração entre veículos e plataformas e a incessante busca por inovação que melhore a qualidade entregue aos leitores/telespectadores/ouvintes - e, agora, internautas – permanece viva.

Essa visão de Romulo ao horizonte, atento ao presente e buscando o futuro, segue presente todos os dias, tal qual sua imagem na sede do Grupo. Ao lado de sua imagem no quadro, está a íntegra do editorial escrito por Romulo Maiorana em 1966, ao iniciar a nova fase do jornal. Em um trecho, Romulo afirma que “Não se lançará o jornal contra ninguém, mas sim a favor de alguma coisa. Não se preocupará em destruir, mas sim em construir. Não procurará dividir, nem diminuir, mas somar, se não for possível multiplicar. Debaixo dessa diretriz, nossas colunas estarão abertas para todos, sem distinção de classe, credos políticos ou religiosos. O que nos interessa é o desenvolvimento e o progresso do Pará (...) A notícia honesta, o comentário criterioso, a crítica justa e respeitosa e a sugestão sensata e oportuna terão sempre guarida nestas páginas, pois entendemos que essa é a função do verdadeiro jornalismo que é o que pretendemos exercer”, diz o texto.

As palavras são valores e diretrizes para todos os profissionais que atuam nos diferentes veículos e nas multiplataformas do Grupo Liberal. E o texto segue atual, ainda hoje, na data em que se celebra o centenário e o legado de um visionário na Amazônia. 

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Belém
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