Refluxo gástrico necessita de atenção, tratamento e mudanças de hábitos
Tratamento pode incluir remédios e até cirurgias, mas bons hábitos alimentares são essenciais
O refluxo gastroesofágico é um problema que afeta milhões de brasileiros e vai muito além de uma simples azia. A condição exige atenção, tratamento e mudanças de hábitos alimentares para ser controlada e não evoluir para complicações mais sérias.
O estudante de Publicidade e Propaganda Davy Araújo, de 21 anos, conhece bem as dificuldades que a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) pode causar. Diagnosticado há cerca de um ano, após ser internado por sintomas preocupantes, ele busca melhorar os hábitos para recuperar a saúde. Especialistas alertam que o tratamento deve sempre vir acompanhado de mudanças no estilo de vida.
“O diagnóstico foi lá para outubro. Primeiro fui internado, porque tive episódios de vomitar sangue. Eu tinha ficado muito preocupado. Fui internado, fiz um exame que eu não lembro agora e pouco tempo depois fui na consulta com o gastro, onde fui diagnosticado com gastrite e refluxo. Desde então eu venho fazendo tratamento e melhorando em relação a isso”, detalhou o estudante.
Davy começou a sentir os primeiros sintomas em 2022. Na época, sofria com queimação no estômago e ânsia de vômito. Ações simples do dia a dia se tornaram incômodas. Apenas andar na rua, após beber água, já provocava os sintomas. Durante dois anos, eles persistiram, mas o estudante só buscou tratamento quando houve piora no quadro.
O refluxo pode se manifestar ainda por meio de outros sintomas, como queimação no peito, dor de garganta e até tosse crônica. De acordo com o médico gastroenterologista e cirurgião geral Fábio Araújo, o refluxo ocorre quando o conteúdo ácido do estômago retorna continuamente, ou de forma ocasional, para o esôfago. Esse fluxo se dá em sentido contrário ao habitual, e pode ser provocado por defeito parcial ou falência total dos mecanismos de contenção da região de transição entre o esôfago e o estômago.
“A principal causa é o defeito funcional de uma válvula anatômica nessa transição chamada Esfíncter Inferior do Esôfago, que já nasce comprometida, mas se agrava com fatores variáveis, como o avanço da idade, o mau hábito alimentar e o ganho de peso. Outros fatores anatômicos secundários também estão envolvidos”, explica o especialista, que é titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e presidente do Capítulo Pará de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica. Entre os hábitos e condições que agravam os sintomas estão tabagismo, obesidade, consumo de álcool e estresse.
Crianças – Bebês e crianças também podem apresentar refluxo, mas nesses casos a condição costuma ser transitória, desaparecendo à medida que o sistema digestivo amadurece.
“A regurgitação percebida com frequência é considerada normal, a não ser que esteja causando irritabilidade no neném, quando as orientações do pediatra se fazem presentes. Sintomas de ordem respiratória também devem ser relacionados a regurgitações mais intensas e frequentes”, indica o especialista.
O médico recomenda que os pais se atentem ao posicionamento da criança na hora de dormir — nunca de barriga para baixo. Caso o bebê regurgite muito após as refeições, deve ser mantido ereto no colo por pelo menos 30 minutos. Quando os sintomas persistem, pode ser necessário adotar tratamento medicamentoso.
Alimentação – A nutricionista Mikelly Pires alerta que o problema em adultos está diretamente associado à qualidade da alimentação. “A alimentação tem impacto no desenvolvimento da doença quando o paciente consome, em excesso, alimentos muito gordurosos, volumes muito altos de comidas, álcool, café e ultraprocessados”, aponta.
Entre os alimentos que devem ser evitados estão café, chá preto, chocolate, frituras, embutidos, comidas gordurosas, refrigerantes, bebidas alcoólicas, temperos fortes, pimentas e excesso de frutas cítricas como laranja, limão e abacaxi.
Se não tratado, o refluxo pode evoluir para quadros mais graves. Mikelly cita complicações como esofagite (inflamação do esôfago), úlceras, estenose (estreitamento do esôfago) e, principalmente, o esôfago de Barrett — condição em que as células esofágicas sofrem alterações e se tornam pré-cancerosas, aumentando o risco de câncer esofágico.
O médico Fábio Araújo confirma essa possibilidade. “O processo inflamatório se faz presente sempre nessa doença, sendo chamado de Esofagite. Ela recebe a classificação endoscópica, atualmente se usa a classificação da convenção de Los Angeles, em graus A, B, C e D. O grau D, o mais grave, é usualmente chamado de Esofagite de Barrett, onde a alteração estrutural do epitélio esofágico passa a ter potencial de malignização”, detalha.
Mudança de hábitos
Para enfrentar o refluxo, Davy modificou a dieta. Passou a consumir alimentos mais naturais e com menos gordura, como feijão, arroz, frango, carne e legumes. Também deixou de comer lanches fora de casa. Ainda assim, admite a dificuldade de manter a rotina alimentar equilibrada diante da vida corrida.
Os medicamentos aliados à nova dieta resultaram em melhora significativa na frequência das crises, embora ainda ocorram de forma ocasional.
“Foi bem significativa, ainda pode melhorar bastante, mas o básico foi feito. O principal foi a redução de comer frituras, comidas de rua, eu reduzi bastante. Os ataques reduziram significativamente. Ainda tenho, mas é muito pouco. Se antes eu tinha a semana toda, agora eu tenho uma vez a cada semana, então melhorou muito”, diz.
Profissionais da saúde ressaltam que a recuperação depende essencialmente da adoção de hábitos saudáveis de alimentação e prática de atividade física — medidas que devem ser mantidas por toda a vida.
“Já na cura, a alimentação adequada é primordial, visto que os sintomas melhoram quando o paciente ajusta sua dieta, fraciona as refeições, evita os excessos e opta por alimentos mais magros”, assegura Mikelly.
“O paciente deve preferir refeições com volume menor, fracionando essas refeições. Consumir alimentos de fácil digestão, como arroz, batata, carnes magras, como filé de frango e patinho, peixes, legumes e verduras cozidos, evitar os crus e não comer deitado nem deitar logo após comer”, orienta.
Em alguns casos, mesmo com medicação e mudanças de hábitos, o refluxo pode não ser solucionado. Nessa situação, a recomendação médica é a cirurgia.
“O refluxo patológico tem quatro diferentes estágios de intensidade, sendo os dois primeiros (A e B) mais frequentes e, normalmente, tratados clinicamente. Já os estágios C e D (Barrett) podem ter uma determinação de tratamento cirúrgico”, indica Araújo.
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