Corpo em movimento: dança melhora corpo e mente, relatam alunos e professores de Belém
Prática vai além da atividade física, estimula emoções, memória e autoestima, e reúne pessoas de diferentes idades em clubes e companhias de dança na capital paraense
A dança vai além da atividade física, cada passo, giro ou sequência coreografada envolve o corpo e a mente em um processo que estimula emoções, memória, concentração e autoestima. Em busca de bem-estar físico e mental, pessoas procuram a dança e aprendem com o chamego do brega e outros ritmos a se soltarem. Em Belém, clubes e companhias de dança desempenham papel importante nesse processo.
A neuropsicóloga e especialista em saúde mental Roberta Rios afirma os benefícios da prática da dança. Apesar de não substituir os tratamentos especializados. “A atividade física e o lazer são grandes aliados do bem-estar mental, porque saúde emocional também se constrói no prazer, no movimento e na experiência vivida, e não apenas na reflexão racional”, afirma.
Segundo a psicóloga, a dança possibilita soltar as emoções: “A dança permite expressão emocional sem a necessidade de palavras, ajudando a aliviar tensões e promovendo sensação de bem-estar e liberdade emocional”, pontua Roberta. Além dos benefícios emocionais, dançar também contribui para a saúde física. A atividade ajuda a reduzir o estresse do dia a dia e promove maior disposição. Uma pesquisa da Contexto & Saúde aponta que 54,4% das mulheres que praticam dança relatam aumento da disposição e diminuição do estresse.
Dança como espaço de acolhimento e autocuidado
Para Neli Nazaré Monteiro, 71 anos, aluna de dança da Cia de Dança Cabanos, as aulas são um lazer que ela não abre mão. Esse contato com a dança surge aos seus 12 anos e ela leva até hoje. “Eu não me sinto bem se eu não vier pra dança. Eu conto que na minha casa eu era considerada uma velha, uma anciã. Depois que eu entrei pra dança, que tu tá vendo, os meninos são todos jovens que dançam com a gente. Aqui não tem negócio de separação, a gente tem tudo ao mesmo tempo. Então eu danço com eles e isso me faz muito bem”, conta entusiasmada.
O professor de dança e coreógrafo, Rodrigo Barros (Cia Cabanos) afirma que o ambiente acaba funcionando também como um espaço de escuta por conta da proximidade com os alunos, acaba vendo pessoas de várias idades iniciarem tímidas e durante o ano, criarem laços e amigos. “A dança não é o principal motivo da pessoa vir atrás de nós. Eles vêm por conta de outras coisas. Tem pessoas que vêm por ansiosas, crise no trabalho, de estar muito sobrecarregados, pessoas que não têm autoestima e através da dança eles conseguem “, conta.
Segundo Rodrigo, a dança se torna um processo de autocuidado: “O primeiro passo é sempre o mais difícil, porque as pessoas geralmente acreditam que aprender a dançar vem de berço, E a dança solta eles, liberta eles e faz com que eles fiquem à vontade e se divirtam muito com o que estão dançando. Saem, se divertem”, afirma o professor de dança.
O casal de alunos da Cia Cabanos, Rodnei Barbosa Campos e Adriana Sena Campos, ambos de 52 anos, se interessou pela dança ao observar outras pessoas dançando em festas, o que despertou a vontade de aprender. Rodnei é piloto de navio e trabalha embarcado por períodos de 28 dias, tempo que ele também aproveita para treinar os passos e manter a prática. Segundo Rodnei, a dança passou a ter um papel importante na vida do casal. “A gente tem isso como uma terapia. Melhorou muito o nosso relacionamento. A gente pode sair juntos, ir para as festas, namorar, dançar. Isso fez o nosso casamento ficar muito mais feliz”, afirma.
Adriana reforça que a dança fortaleceu ainda mais a parceria entre os dois e contribui para o cuidado com a saúde mental. “Nós sempre gostamos muito de dançar, não só pelo corpo, mas pela mente também. Vivemos hoje um trabalho muito exaustivo. Eu sou professora, ele é marítimo. E esse é o momento em que a gente relaxa, vem para cá e consegue desligar um pouco”, completa.
Essa percepção é compartilhada pela professora de dança Ana Unger, que atua há mais de 50 anos com modalidades como balé clássico, jazz e sapateado. Para ela, a dança permite que emoções sejam expressadas de forma natural. “O aluno consegue colocar para fora sentimentos que muitas vezes não consegue verbalizar. Quando o corpo encontra seu melhor ritmo ,a mente encontra o silêncio e a alma agradece”, comentou.
“Acompanhar essa evolução em todas as idades — desde bebês a partir de 2 anos, passando pela pré-escola, infanto juvenil, adultos e grupos 60+ e agora também 80+ — e ver como refinam seus movimentos em diferentes estilos de dança é, sem dúvida, a parte mais gratificante do meu trabalho”, acrescenta Ana Unger.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA