Paraense é escolhida nova Embaixadora do Oceano Atlântico no Brasil

A oceanógrafa Raqueline Monteiro quer utilizar o cargo para se dedicar à educação ambiental

Eduardo Laviano
fonte

Raqueline Monteiro não sabe bem de onde saiu tanta paixão pela água. Mas sabe que começou na infância. "Quando a gente é pequeno adora Outeiro, Mosqueiro, Salinas. Olha todo mundo feliz, brincando na areia. Eu adorava estar ali. Até na escadinha [da Estação das Docas] eu me divertia muito. Sempre tive muito contato com a água", conta ela, que foi escolhida Jovem Embaixadora do Oceano Atlântico no Brasil. O título foi concedido a ela para um mandato de um ano e é resultado de um esforço internacional para a conservação do oceano Atlântico. 

Ao lado de outros oito jovens, um para cada país, Raqueline será a representante oficial da diplomacia científica brasileira na All Atlantic Ocean Research Alliance. Ela é graduada em oceanografia pela Universidade Federal do Pará, mudou-se para a Universidade Federal de Pernambuco por conta do mestrado e agora está de volta à alma mater para o doutorado.

Ela já escolheu uma missão principal: "A educação ambiental. Desde a graduação trabalho com lixo marinho, educação ambiental em Salinas e Mosqueiro. No mestrado já fui para um lado mais cientifico em Fernando de Noronha, em Pernambuco, para pesquisar um tema muito em voga, que é a poluição por plásticos. Quero me dedicar a isto durante esta oportunidade", afirma.

Monteiro conta que a seleção foi difícil, especialmente por conta do processo seletivo em língua estrangeira. Para ela, trata-se de um reconhecimento de dez anos de trabalho. Ela gostaria de agir de maneira local a partir de óticas globais relacionadas aos temas urgentes da sustentabilidade e defesa do meio-ambiente.

"Muitas vezes a Amazônia é retratada pelas vozes de outras pessoas e nós precisamos assegurar o nosso direito de ser ouvido e respeitado dentro dos espaços de poder e decisão. Ninguém melhor que uma amazônida para falar da Amazônia", comenta a embaixadora.

Raqueline foi selecionada em novembro. Em janeiro, irá começar os cursos de formação em comunicação, governança marinha e desenvolvimento de projetos. Mesmo sem saber o detalhes da empreitada, ela se diz animada.

"Já estou entrando em contato com grupos de pesquisa da universidade, mas ainda preciso me conectar melhor com os governos e a sociedade civil para atuar de fato na conscientização sobre a água e os perigos do lixo despejado nela para a população", diz.

Os perigos mencionados pela embaixadora são muitos: entupimento de esgotos, doenças letais, contaminação dos rios e mares, formação de ilhas de lixo, morte da fauna e da flora aquática etc. Para ela, a raiz do problema, não só em Belém, mas em todo o Pará, é o saneamento básico.

"É o primeiro desafio da nossa cidade. A região Norte tem os piores índices de saneamento básico. Isso engloba resíduos sólidos, tratamento, drenagem urbana, esgoto, a contaminação dos rios e oceanos. As pessoas descartam lixo no rio e esquecem que é a mesma água que usamos para beber, tomar banho", alerta ela, ao lamentar o fato de que os primeiros atingidos por esta tragédia ambiental são os mais jovens.

A veia social de Raqueline é apurada. E ser oceanógrafa não a impediu de exercê-la. Ela acredita que a oceanografia é mais do que estudar as ondas e as marés. "Isso é porque há todo um conhecimento humano, sociocultural e até holístico dessas relações que temos com a água. Principalmente aqui na Amazônia, com tanto popopó, tanta ilha, tantos pescadores", afirma.

Ela admite ter ficado espantada com a quantidade de cálculos que se deparou no iniciou do curso. Isso a motivou a se aprofundar nos estudos da educação ambiental, especialmente com crianças e jovens. "Quando conheci a oceanografia, conheci ela de maneira muito tradicional. realmente eu não escolhi, o curso que me escolheu. A vivência dos trabalhos e projetos de expansão me alertaram para esse chamado especial que recebi", conta Monteiro.

Após ela dizer que recebeu um chamado especial, pergunto se a obsessão pela água desde a infância não era vontade de ser sereia. Ela cai na gargalhada. "Olha, pensando bem agora, pode ser", brinca. Todavia, ela confirma que a sua referência quando o assunto é água é de fato uma mulher, mas ela não tem cauda. "A oceanógrafa mais famosa do mundo, Sylvia Earle, costuma dizer que 'sem azul, não há verde'. Isso porque a chave para a existência da vida é a água. Por isso, precisamos cuidar dela", finaliza a embaixadora.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM