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Mesmo em ciclovias e ciclofaixas, ciclistas convivem com insegurança

Projetos tentam ampliar a malha cicloviária e integrar rotas, mas falta coordenação metropolitana, enquanto fiscalização e educação tentam reverter rotina de desrespeito

Victor Furtado
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As ciclofaixas, sobretudo as ciclovias (pistas separadas), são espaços que deveriam dar segurança a quem usa bicicleta como meio de transporte principal ou por hobby ou esporte. Na prática, ciclistas veem essas áreas exclusivas serem invadidas o tempo todo, por pedestres e outros veículos. E assim, os usuários de bikes seguem convivendo com a insegurança e o desrespeito nos poucos espaços reservados que possuem. Possivelmente, o número de ciclistas de Belém só não é maior porque falta estrutura que passe segurança.

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A malha cicloviária da capital, atualmente, conta com 111,02 quilômetros de espaços reservados a ciclistas, entre ciclovias e ciclofaixas. Mais 2,7 km serão implantados com a nova faixa e uma ciclovia na avenida Pedro Miranda, que vai interligar outras faixas já existentes, no trecho da travessa Antônio Baena até a avenida Doutor Freitas. A malha de Ananindeua tem quase 8 km ao todo. Marituba possui 750 metros e pretende chegar a 1,5 km. Só que até agora, com exceção do BRT Metropolitano, do Governo do Estado, não há planos de interligar as rotas da Grande Belém.

Elias Jardim, coordenador de Operações da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), destaca que o órgão vem fazendo uma série de fiscalizações e ações educativas nas ciclovias e ciclofaixas. Nas ciclofaixas, principalmente, há alguns pontos críticos de conflitos que têm demandado atenção, como a rua dos Mundurucus. E o investimento em uma nova faixa, na Pedro Miranda, representa uma intenção de melhorar a vida de quem está nas bikes.

image Frequentemente, ciclistas veem seus espaços sendo ocupados por quem acha que tem preferência sobre as vias (Thiago Gomes / O Liberal)

"Nossa proposta é interligar todas as nossas ciclofaixas e ciclovia. Algumas, no diagnóstico que fizemos, estão em situação precária e precisando de manutenção. E então intensificar a fiscalização. Os ciclistas reclamam que não são respeitados em seus espaços. Precisamos criar essa cultura de respeito. Mas há uma questão cultural muito forte. O condutor, principalmente de carros, acha que a via é preferencial do carro, esquecendo que a via tem outros atores, como pedestres, ciclistas e skatistas", analisa Jardim.

Não se sabe quantos dos acidentes envolvendo bicicletas, registrados pelo Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran-PA), que concentra as estatísticas estaduais, ocorreram nas ciclofaixas ou acostamentos. Mas é fato que mais espaços exclusivos e respeitados por motoristas poderiam ter evitado que em 2019 tivessem ocorrido 701 acidentes no estado, deixando 731 feridos e 52 mortos. Em 2020, até o mês de setembro, foram registrados 540 acidentes envolvendo ciclistas, deixando 614 feridos e 39 mortos.

Neste ano, na madrugada do último sábado (17), a ciclista Cláudia Loureiro, de 37 anos, foi atropelada e morta durante uma pedalada de Belém a Salinópolis. Dois motoristas disputavam um racha, na área de Castanhal da BR-316. Um deles a atingiu. Os dois fugiram sem prestar socorro, rumo a Salinas. A Polícia Civil, nesta terça-feira (20), informou que segue investigando o caso, mas mais de 72 horas depois (96 horas nesta quarta), ainda não houve avanços. A PC pede que informações sejam repassadas ao Disque-Denúncia (181). Não é preciso se identificar.

image Quando não há carros estacionados nas ciclofaixas, há motociclistas circulando nesses espaços, como se fosse destinado a eles também (Thiago Gomes / O Liberal)

 

Falta de investimento em estímulo e segurança perde oportunidades no "mercado das bikes"

 

A cicloativista Daniele Queiroz — membro dos coletivos "ParáCiclo", "Bike Anjo" e "Pedala, Mana" — ressalta que o ciclismo, por hobby, esporte ou meio de transporte, movimenta uma economia inteira. Uma oportunidade perdida. Mais segurança e estímulo pode aumentar o número de pessoas pedalando, comprando bicicletas, comprando peças e acessórios e fazendo manutenções. E ainda, um mercado perdido nos últimos anos, que é o das bicicletas compartilhadas.

"Os negócios das bicicletas sustentam famílias inteiras e o poder público precisa olhar para esse número. As prefeituras precisam olhar essas pessoas, que às vezes cruzam a região metropolitana sem nenhuma segurança ou infraestrutura adequada. São necessários projetos que interliguem cada cidade da RMB. E nos destinos, as pessoas encontrem bicicletários, estacionamentos... precisamos mudar a filosofia das cidades e investir em infraestrutura, em segurança e educação por um meio de transporte que desafoga o trânsito, não polui e, nestes tempos de pandemia, garantem distanciamento do transporte público lotado", analisa Daniele.

image Comumente, há algum obstáculo nas ciclofaixas, que jogam ciclistas para o meio da rua (Thiago Gomes / O Liberal)

Enquanto não ocorrem esses investimentos, ciclistas seguem pedalando com medo. Como Manoel Ribeiro Leão, que tem 64 anos de idade e 40 deles foram andando de bicicleta. Não é só meio de transporte dele. É também ferramenta de trabalho para entregas. Nesse tempo, conta ele, agradecendo a Deus, nunca se acidentou. Mas perdeu a conta de quantos "sustos" e "quases" já teve. "Deveríamos ter mais vias que fossem só para bicicleta, porque os motoristas não respeitam. Aí por esse desrespeito, a gente precisa ficar atento e preocupado até no espaço que é nosso. Ser ciclista em Belém é perigoso", diz.

Hugo Araújo, de 20 anos, é estudante e morador da Sacramenta. As bicicletas são o principal meio de transporte. E é mais um ciclista de Belém que não se sente tão seguro nos espaços exclusivos. E com um bom motivo. "No ano passado, sofri um acidente. Não foi grave, mas sofri. Fui atingido, na avenida Júlio César, enquanto eu estava na ciclofaixa. Essa preocupação varia muito de horário, local. Não é tão seguro não e precisamos melhorar", comenta.

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