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Após chuvas de domingo, moradores ainda sofrem com alagamentos nesta segunda-feira

Vários pontos da capital seguiam alagados essa manhã: transtornos ocorrem tanto nas comunidades pobres quanto em áreas nobres de Belém

Cleide Magalhães

Os constantes alagamentos que acontecem em Belém, capital paraense, não são novidades. Há anos e até décadas, a situação têm deixado centenas de famílias e trabalhadores no prejuízo. Ela piora quando os alagamentos se mantêm mesmo por horas após o término das chuvas. Esse tipo de cenário de descaso pode ser constatado não somente em áreas da periferia da cidade, mas também nobres, já que ambas não contam com saneamento básico necessário.

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Apesar daquela chuva toda que caiu na noite deste domingo (22) e madrugada desta segunda-feira (23), ainda por volta das 11h deste mesmo dia, diversos moradores da passagem José Leal Martins, onde fica o canal com o mesmo nome, no bairro do Marco, estavam indignados pelo alagamento que ainda persistia existir na rua, nas calçadas, nos pátios, dentro das casas, nos saguões e outros espaços, todos tomados pela lama e água suja e imunda.

“Quando chove praticamente todos os moradores têm tudo tomado pela água nojenta que vem do canal José Leal Martins, que transborda. E não precisa estar maré cheia, não. O canal está abandonado, todo obstruído com areia e lixos, falta mureta, limpeza e manutenção constante de tudo isso. O governo quer fazer a pavimentação das vias aqui, mas sem saneamento não adianta. E, assim, nosso dinheiro público vai embora”, lamenta o pedreiro Wagner Ferreira, 37 anos, que mora na beira do canal há 26 anos e teve a casa tomada pela água do canal.

“Quando chove praticamente todos os moradores têm tudo tomado pela água nojenta que vem do canal José Leal Martins, que transborda. E não precisa estar maré cheia, não. O canal está abandonado, todo obstruído com areia e lixos, falta mureta, limpeza e manutenção constante de tudo isso. O governo quer fazer a pavimentação das vias aqui, mas sem saneamento não adianta. E, assim, nosso dinheiro público vai embora”, lamenta o pedreiro Wagner Ferreira, que mora na área há 26 anos

O professor Reginaldo da Silva, conhecido como “Joca”, mora na área praticamente desde que nasceu, há 44 anos. Ele conta que sempre quando chega, principalmente, o “inverno amazônico” o trecho em que mora, na travessa Barão do Triunfo, entre as passagens José Leal Martins e Ortinha, o alagamento se torna permanente.

“A água entra na casa de muita gente. Com as chuvas dessa madrugada, aumentou quase um metro de altura. Entrou no meu pátio e, por pouco, não entrou em casa. A situação piorou porque teve obra na casa de um morador aqui perto e o material de construção foi parar no bueiro, que ficou entupido”, reclama o professor Silva.

Outro morador disse ainda que o canteiro na travessa Barão do Triunfo está tomado por lixos, materiais de construção e caroços de açaí, o que ajuda a agravar o problema. “O canteiro virou depósito de vários materiais e lixos. Então, quando chove a situação piora, porque esses materiais vão acabar parando no bueiro, que fica entupido e a água empoça”, afirma o idoso, que preferiu não ser identificado.

Em Batista Campos, mais alagamentos crônicos


Os transtornos que o pós-chuvas ocasionam não prejudicam somente a vida das pessoas que vivem na periferia de Belém, como nessa área do Marco, mas também em bairros nobres, como no bairro da Batista Campos.

Na travessa Quintino Bocaiúva com a rua dos Pariquis, as águas das chuvas nunca secam. Moradores e trabalhadores da área relatam que o problema é crônico, existe mesmo quando há chuvas de verão e ao longo de décadas. Eles reclama do descaso da Prefeitura de Belém diante do problema.

“Trabalho aqui há 35 anos e esse problema de alagamento sempre existiu, e cada vez piora. A Prefeitura vem aqui só para fazer retira dos lixos das vias e da água. Mas ela já sabe que a situação é ocasionada devido entupimento nas tubulações, que ficam por debaixo da pista, porque já foi constatado. Tem que fazer o serviço definitivo. Porém, a Prefeitura não resolve”, critica Luzinaldo Mendes.

Mendes é batedor de açaí e quando chove tem que fechar o estabelecimento sempre que o alagamento aumenta. “Isso me prejudica muito, porque os clientes não podem encostar para comprar e enche meu espaço de trabalho. Aí tenho que fechar a venda para secar, limpar e desinfectar tudo. Tenho quatro funcionários para pagar e aí situação fica muito difícil”, lamenta o batedor de açaí.

“Trabalho aqui há 35 anos e esse problema de alagamento sempre existiu, e cada vez piora. A Prefeitura vem aqui só para tirar o lixo das vias e da água. Mas ela já sabe que a situação é do entupimento nas tubulações, que ficam por debaixo da pista, porque já foi constatado. Tem que fazer o serviço definitivo. Porém, não resolvem”, critica Luzinaldo Mendes

Ainda segundo ele, o alagamento nesse trecho já ocasionou diversos acidentes com condutores de carros e ciclistas. “Quando está cheio, carros e bicicletas caem nos buracos. Outro dia uma ciclista se machucou todinha. Deu muita pena e indignação na gente. Desse jeito ninguém vai pra frente. Enche até casa de uma senhora idosa aqui. Nunca seca. E olha que isso acontece em pleno centro da cidade”, afirma Mendes, que tem 65 anos, e tem moradia atrás da loja de venda de açaí.

Prefeitura diz que problema é com macrodrenagem 


A redação integrada de O Liberal entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Belém para pedir esclarecimentos e informações sobre medidas a serem tomadas. Em nota, a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que o canal José Leal Martins recebe influência direta da bacia do Tucunduba, que integra a estrutura das ações da macrodrenagem, de responsabilidade do Estado.

"Assim como outros canais, o da José Leal é impactado pelo grande número de ocupações irregulares localizadas nas áreas dos canais, o que acaba por dificultar a limpeza", disse a Sesan. Com relação à travessa Quintino Bocaiúva, a Sesan afirmou que a solução dos alagamentos "depende do avanço das obras de macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova".

Sedop diz que obras do Tucunduba avançam. E afirma que problema que afeta Batista Campos é responsabilidade da Prefeitura

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas (Sedop) informa que as obras de macrodrenagem do Tucunduba seguem avançando nas três frentes do projeto. Quando concluído, o projeto vai beneficiar cerca de 230 mil pessoas em bairros como o Guamá, Terra Firme, Marco e Canudos.

"A expectativa é de que os trabalhos nos dois primeiros trechos do projeto, que vão, juntos, da rua São Domingos à rua 2 de Junho, sejam concluídos em meados de 2021. Já o terceiro trecho, da rua 2 de Junho à travessa da Vileta, deve ser concluído até o final de 2022. Este terceiro trecho dará vazão às águas do canal da José Leal Martins, acabando com o problema de alagamento no local".  

A Sedop ressalta ainda que as obras de macrodrenagem na Bacia da Estrada Nova, que afeta tanto a rua dos Pariquis quanto a travessa Quintino Bocaiúva, são de responsabilidade da Prefeitura de Belém.

 

Belém