Matriarcas: conheça histórias de mulheres que chefiam as famílias

As mulheres lideram 49,1% dos lares do Brasil

Ayla Ferreira* e Eva Pires | Especial para O Liberal

Um lar onde a figura feminina é a responsável por liderar a família, sendo a principal responsável pela criação e sustento dos filhos: essa é a definição das famílias matriarcais, que têm os laços maternos como base de toda a estrutura familiar. De acordo com dados do Censo de 2022, cerca de 49,1% das unidades domésticas do Brasil eram chefiadas por mulheres, um aumento significativo em relação ao Censo de 2010, que mostrava os homens como principais responsáveis por 61,3% dos lares.

As mulheres na posição de chefia precisam equilibrar a maternidade com outras responsabilidades, como trabalho, estudos e vida pessoal. É o caso de Marilena Martins, de 82 anos, cuja família é matriarcal há várias gerações. A história da família de Marilena iniciou com a chegada da dona de casa em Belém, na década de 60.

image Marilena Martins, 82 anos, e as filhas (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

Com apenas 17 anos na época, Marilena desembarcou na capital cheia de sonhos e esperança por um futuro melhor. Ela veio do município de Moju, sua cidade natal, com o objetivo de construir a vida em Belém. “A gente ficava longe de tudo em Moju, trouxe a minha vida para cá porque eu queria trabalhar para melhorar. Não gostava de estar no interior, não tinha nada na época”, conta.

A matriarca se estabeleceu na cidade trabalhando em casas de famílias, primeiro como babá, depois como costureira e governanta, conciliando as atividades com a maternidade. Sempre foi a maior responsável por manter o lar e trabalhou até os 80 anos. Marilena teve e criou oito filhos, além de ajudar na criação dos netos e bisnetos. “Tive meu primeiro filho com 20 anos, sou mãe de oito. Cada um tem seu jeito de ser, então tenho que me adaptar a todos, cada um com o seu jeito”, compartilha a matriarca.

Socorro Monteiro, de 60 anos, faz parte da segunda geração da família. Ela é uma das três primeiras filhas de Marilena e vê a figura da mãe como uma fonte de inspiração, pois assim como ela, trabalhou desde jovem e enfrentou dificuldades para conciliar trabalho e família. “A gente passou a se inspirar uma na outra quando outros filhos foram nascendo, tivemos aquele tratamento especial de um para o outro e chegamos onde chegamos”, conta a dona de casa.

Equilibrar a jornada dupla de trabalho com a maternidade é uma realidade desafiadora para muitas mulheres, mas o amor e cumplicidade entre as duas tornou a harmonia possível. “Eu sempre dizia para construirmos uma família onde a gente possa olhar um ao outro, e assim fomos nos desenvolvendo, minha mãe foi tendo outros filhos, nós já fomos botando os outros em outros ritmos”, relata Socorro.

Socorro relembra a história de uma das irmãs mais velhas, que enfrentou a perda precoce do marido e teve o apoio de toda a família durante o momento de luto. “A gente lutou pelo casamento dela. Tenho certeza que foi uma gratidão muito grande para minha mãe de ver os filhos dela conseguir, cada um procurar o seu o seu rumo, principalmente nós mulheres. Somos uma família de mulheres trabalhadoras, e graças ao esforço de nossa mãe, do trabalho dela, nós nos tornamos as pessoas que somos hoje. Temos muito a agradecer a ela”, diz.

Para ela, o Dia das Mães acontece todos os dias. “Temos aquele dia que foi escolhido para se tornar uma data especial. A única coisa que eu falo do Dia das Mães é que Deus sempre deixe presente a nossa mãe ao nosso lado, que a gente não sabe até quando vamos tê-la”, reforça.

O maternar entre gerações

image A matriarca Marilena Martins e as filhas (Foto: Carmem Helena | O Liberal)

Para a filha de Socorro e neta de dona Marilena, Jacqueline Cortinhas, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e mãe, maternar é uma busca constante por equilíbrio. “A mulher hoje, com tudo que ela alcançou socialmente, a posição dela de destaque, principalmente ali no ambiente de trabalho, isso reflete muito no ambiente familiar. Por muito tempo, a mulher ficou sendo vista apenas no ambiente familiar e hoje ela está com força em todos os lugares e ramos da sociedade. Essa figura hoje representa esse ponto de equilíbrio, essa integração e a união familiar”, afirma.

“É difícil definir o que é maternidade, mas acho que, como o nome já diz, é sinônimo de amar, amor sem medida, é dedicação, é você conseguir superar as dificuldades do dia-a-dia sempre com um objetivo maior que é cuidado, é a proteção dos filhos e a união familiar”, declara a professora.

Jacqueline conta que uma das principais inspirações da família é a avó, que trabalhou muito para que os filhos tivessem oportunidades. Para ela, a família é marcada por mulheres dedicadas, trabalhadoras e focadas na maternidade. “Elas sempre demonstraram um companheirismo muito grande, eu acho que isso é uma característica que foi passada de geração em geração. E automaticamente esses ensinamentos foram passados para a gente. A inspiração acontece todos os dias com todas as atitudes e dedicação que as mulheres da minha família tem”.

Família vinda de mãe imigrante compartilha ensinamentos geracionais

image Fernanda Amorim, imigrante portuguesa, com as filhas e netas (Foto: Flávio Contente | O Liberal)

Fernanda Amorim tem 82 anos e carrega no rosto as marcas do tempo e da coragem. Quando chegou ao Brasil, vinda de Portugal, tinha apenas 27. Trouxe na bagagem não só sotaque e receitas tradicionais, mas a determinação de quem recomeça do zero para oferecer um futuro melhor às filhas. Hoje, ela é matriarca de uma família formada majoritariamente por mulheres — com três filhas e quatro netos — que preservam, em gestos e memórias, o que aprenderam com ela.

“Para mim, a coisa melhor que eu tenho no mundo são eles”, diz Fernanda, com a voz embargada ao falar da família.

A família cresceu, mas nunca se distanciou. Rosinha Pereira, de 54 anos, a filha mais velha, vê na união o maior valor herdado da mãe. “O legado que eu passo para os meus filhos é a união com a família. O de estarmos juntos, porque é só a gente aqui no Brasil”, conta a autônoma. Reuniões em datas comemorativas, viagens em grupo e domingos de mesa cheia tornam esse laços cada vez mais fortes.

A fotógrafa Renata Amorim, filha caçula de 45 anos, fala com carinho da mãe portuguesa que transformava o cotidiano na cozinha em tradição. “Se tem uma lembrança afetiva da infância, é o cheiro de bacalhau aos domingos”, diz. Hoje, é ela quem assume as rabanadas no Natal, receita ensinada por Fernanda.

A nutricionista Rosiane Lima, de 50 anos, destca que a maternidade de hoje é muito diferente da que vivenciou na infância. “A gente entendia só pelo olhar dos pais". Mesmo com as mudanças, ela mantém o foco em transmitir os mesmos valores que recebeu: respeito, afeto e presença.

Além de herdar o nome da avó, a advogada Fernanda Amorim, de 27 anos, cresceu cercada por referências femininas fortes. “Ter pais estrangeiros não é simples, mas minha avó gerou mulheres independentes e lutadoras. Crescer com elas me ensinou a me impor, a ser quem sou”, diz. Ela se emociona ao lembrar das viagens em família. “A palavra que define a gente é união. Sempre juntos, para qualquer coisa”.

image Fernanda Amorim, de 82 anos, e as três filhas (Foto: Flávio Contente | O Liberal)

Na ponta mais nova dessa corrente está Maitê Lima, de 10 anos. Com a espontaneidade de quem ainda está descobrindo o mundo, ela resume o que aprendeu com a mãe, a avó e as tias: “Elas trabalham duro para criar os filhos. São pessoas incríveis, cada uma com seu jeito. E quem criou elas foi a minha vovó”, diz.

Entre o cheiro de frango assado dos domingos e os ensinamentos passados no convívio diário, Fernanda construiu mais do que uma família — criou um legado de mulheres fortes que atravessa gerações.

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