Marco: o bairro que marca a expansão de Belém

No início do século XX, Belém vivia momento de franca expansão. O Marco da Légua, que marca a ampliação do território, fica na avenida Almirante Barroso, antiga Tito Franco

Victor Furtado / Redação Integrada de O Liberal
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O bairro do Marco representa um momento importante na história de Belém. E esse momento foi chegar à primeira légua patrimonial da cidade, em franca expansão entre o final do século XIX e início do século XX. E próximo de onde essa métrica significativa estava, foi criado um pequeno monumento: o Marco da Légua. Fica bem em frente ao Centro de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS / Uepa), na avenida Almirante Barroso. Local que no passado foi um manicômio.

Belém, naquele momento, vivia o auge da economia da borracha. O desenvolvimento da cidade estava em ritmo acelerado. Ainda mais com a estrada de ferro Belém - Bragança. O bairro do Marco se tornou a nova entrada da capital. Era a medida territorial: o município começava na Cidade Velha e terminava no Marco. O cruzamento da Almirante Barroso com a avenida Doutor Freitas é a representação desse limite histórico, como explica o historiador Diego Pereira, coordenador do curso de História da Unama.

Diego ressalta que apesar do símbolo de progresso e expansão, o Marco ainda era considerada uma área afastada. Por isso, teve várias construções de rocinhas, as casas elitizadas da população rica de Belém. Por isso, o perfil socioeconômico do bairro sempre manteve uma característica de classe média e classe média alta, com alguns bolsões de desigualdade social nas baixadas, nas áreas onde ocorrem os históricos alagamentos. O bairro, hoje altamente urbanizado e com vias modernas, já foi um vasto lamaçal.

Também era uma área de exclusão. Por isso, segundo moradores antigos, havia a existência de lixões em alguns pontos. E não tão diferente do que ocorreu com o Guamá, no afastamento social de pessoas com hanseníase, reservaram ao Marco o depósito de pessoas com doenças mentais.

Onde hoje é o CCBS/Uepa, em 1892, foi o Asilo dos Alienados. Era uma construção rica e pomposa, mas destinada apenas a isolar um problema de saúde pública, que a ciência ainda não tinha avanço suficiente para atender. Em 1937, passou por uma ressignificação  e se tornou o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, mas pouco havia mudado em relação ao tratamento quase medieval disposto aos pacientes. "Esse processo de higienização social da cidade era muito característico da época", pontua o historiador.

Em 1961, a primeira grande crise do hospital ocorreu: um evento chamado "Revolta dos Loucos", uma rebelião liderada por militares internados com doenças mentais. Foi contida com violenta repressão e mudança de técnicas de atendimento. Outra crise se deu em 1982, quando o prédio pegou fogo. A estrutura ficou abalada. Em 1984, o prédio histórico foi demolido de vez. Tudo ocorria ali, em frente ao pequeno monumento do Marco da Légua.

 

BOSQUE, PALACETE E GRUPO LIBERAL SÃO CARACTERÍSTICAS DO BAIRRO

Outro ponto que caracteriza o bairro é o Bosque Rodrigues Alves. Mais um projeto urbanístico e ambiental do intendente Antônio Lemos e a ideia fixa de transformar Belém numa "Paris n'América". Foi idealizado em 1882, pensado em recriar o bosque francês Bois de Bologne. Por isso lá há traços arquitetônicos de estética francesa. Inicialmente, se chamava Bosque Municipal do Marco da Légua. A inauguração oficial foi em 1905 e o nome atual é uma homenagem ao presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1902 a 1906). A história pode ser vista nas fotos e documentos expostos no Chalé de Ferro.

image Antes chamado de "Bosque Municipal do Marco da Légua", o Bosque Rodrigues Alves é inspirado no bosque francês "Bois de Bologne". (Cláudio Pinheiro / Redação Integrada de O Liberal)

 

"Há resquícios bucólicos da urbanização do Marco daquela época. O bosque e a avenida Romulo Maiorana, antiga 25 de Setembro, são remanescências disso", destaca Diego. O nome da via é uma homenagem ao fundador do Grupo Liberal, Romulo Maiorana. É também onde fica a sede dos jornais O Liberal, Amazônia, site OLiberal.com e Rádio Liberal.

Outra memória viva da história do bairro é a já descaracterizada Chácara Bem Bom (chamada erroneamente de Palacete Faciola, apenas porque pertenceu a Edgar Faciola), hoje readequado para servir como uma unidade de saúde bucal. O palacete Faciola real fica na avenida Nazaré, esquina com Doutor Moraes. E está abandonado.

Alguns registros, diz o historiador, mostram um engenho na área do Utinga, que ainda faz parte do processo de organização do bairro, como descreve Meira Filho, em livro publicado em 1976. Por isso, acredita-se que a história do Curió-Utinga esteja, de alguma forma, ligada também ao bairro do Marco.

"O desenho atual do bairro do Marco é de um bairro central, cheio de vias de entrada e saída e ligações para outras áreas da cidade, assim como vários meios de transporte. É nele que fica a principal via troncal de Belém, a Almirante Barroso, que um dia foi Tito Franco", conclui. E com o prolongamento, a avenida João Paulo II — uma homenagem à visita do Papa João Paulo II a Belém, em 8 de julho de 1980 — se tornou uma nova opção de entrada e saída da cidade. Desde o início, as vias do bairro sempre foram largas e pensadas para um futuro.

 

MORADORES DIZEM NÃO DEIXAR O BAIRRO POR NADA

O senhor Adilson Lopes, de 65 anos, foi nascido e criado no bairro do Marco. Viveu nos momentos em que os lixões eram comuns no bairro e todos os passos dados eram sobre a lama. O asfalto, diz ele, foi a principal mudança. E o aumento da violência. "Antes a patrulha da polícia era só a cavalo. O que não mudou foram os alagamentos. Sempre existiram. Antes, os lamaçais das vias eram tapados com tocos de mangueiras", lembra.

image Marco tem a via que é considerada a mais importante de Belém, a Almirante Barroso. Um dos principais corredores de ônibus e de integração da cidade. (Cláudio Pinheiro / Redação Integrada de O Liberal)

 

A esposa dele, dona Lindalva, se mudou para o bairro aos quatro anos. Hoje, com 68, diz não trocar o bairro por nada. "Para mim é muito bom pela oferta de serviços; comércio, que se expandiu muito. Mas acredito que a mudança principal, para as próximas gerações, deve ser o sanamento e a segurança. Antes tínhamos muitas mangueiras. Hoje quase não temos", recorda.

Filho de Lindalva e Adilson, Alex Barata diz que ainda viu alguns traços do bairro como os pais descreveram. Disse que ainda brincou muito na lama, que se formava mesmo quando era tempo seco. Para ele, o Bosque e o Ginásio de Educação Física da Uepa. "Por ser uma área central, acho que o que falta para melhorar o bairro, além da segurança, que é muito importante, talvez fosse um outro shopping center e mais serviços públicos de qualidade, como hospitais. Mas podemos dizer que o Marco é um bairro maravilhoso", disse.

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