Tradicional homenagem de feirantes para São Pedro se reinventa na Pedreira

O dia 29 de junho costumava ser de festa nas feiras de Belém. É o Dia de São Pedro, padroeiro dos pescadores e também feirantes e mercadores. Mas a pandemia de covid-19, a doença causada pelo coronavírus sars-cov-2, atrapalhou tudo. Duas das principais comemorações, no mercado da Pedreira e no complexo do Ver-o-Peso, foram bem diferentes dos últimos 100 anos.

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No mercado da Pedreira, foi a 101ª edição da festividade. Até o ano passado, a festa começava às 6h, com uma missa (que não ocorreu). Às vezes, a festa entrava pela madrugada. Tinha banquete e aparelhagens. Até a travessa Mauriti ficava fechada, mobilizando os 500 feirantes de todo o complexo, amigos, familiares e consumidores. Com as regras de segurança pela pandemia, só deu pra fazer um pequeno lanche e soltar fogos. Às 13h, o mercado já deveria estar fechado.

Na Pedreira, festa sem missa e aparelhagem  

Carlos Reis, mais conhecido como "Broa", é um dos organizadores da festividade no mercado da Pedreira. Lamentou as mudanças deste ano, mas disse que, dentro das regras permitidas pelo administrador do complexo, a festividade não ia passar sem alguma atitude. Três berlindas foram montadas e algumas velas foram acesas em alguns pontos. E foram servidas comidas típicas.

Veja:

"Mudou tudo. Depois de 100 anos, foi a primeira vez que não deu muito certo. Mas a gente deu um jeito e para o ano esperamos fazer uma melhor. Deus e São Pedro vão nos ajudar com essa pandemia. Nosso principal pedido é que essa crise passe logo, todos tenham saúde e fiquem bem. Esse é nosso pedido para este ano", disse o feirante Broa.

Rojões prestaram homenagens a São Pedro (Fábio Costa / O Liberal)

No Ver-o-Peso, tradições ficam para o ano que vem

As erveiras do complexo do Ver-o-Peso também faziam uma comemoração até ano passado. Havia imagens do santo e também banho de cheiro, que é típico do período junino. Nem essa tradição escapou dos prejuízos do coronavírus. O que segurou as erveiras foram encomendas dos banhos. Neste ano, o principal pedido dos trabalhadores de feiras e mercados e pescadores foi saúde.

"Até agora, por causa dessa arrumação dessa pandemia, não está tendo o banho. Esperamos que ano que vem seja tudo bem e possamos voltar. Nessa época, no ano passado, estava bem movimentado. As erveiras estavam dando banho de cheiro, que não é só coisa cheirosa, é poder da Terra e que vem de Deus, e as pessoas levavam as ervas pra fazer o banho em casa. Com fé, pedimos, em primeiro lugar, saúde", disse a erveira Suely Silva, do Ver-o-Peso.

Suely Silva, erveira do Ver-o-Peso, pede saúde para todos, para que, no ano que vem, São Pedro e outros santos juninos possam ser homenageados (Fábio Costa / O Liberal)

A devoção começa com a "Pesca Milagrosa"

Pedro foi o apóstolo que viveu o episódio bíblico conhecido como "Pesca Milagrosa". Ao conhecer Jesus e oferecer a ele lugar no barco, para que pudesse pregar para uma multidão, foi agraciado com uma pesca farta. Nas mesmas águas onde antes não tinha tido sucesso. E pescou muitos peixes. Por esse motivo, acabou se tornando o padroeiro dos pescadores. A devoção acabou se estendendo a feirantes e comerciantes em geral.

O caranguejeiro Valdo Vilar pede a São Pedro que haja muito peixe, fartura e que ninguém passe fome (Fábio Costa / O Liberal)

Valdo Santos Vilar, caranguejeiro do mercado da Pedreira, disse que a devoção vem desde criança. Mas quando se tornou feirante, há 30 anos, aí se agarrou com o santo mesmo. "Pedimos que São Pedro garanta muito peixe para as pessoas e não deixe que ninguém passe fome, porque tem muita gente passando necessidade aí por causa da pandemia", disse.