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Golfinho é encontrado morto com marcas de rede de pesca em Salinópolis

Por conta dos recentes encalhes de animais marinhos no litoral paraense, bombeiros devem firmar parceria para treinamento sobre primeiros socorros e medidas para resgate e soltura

João Thiago Dias
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Outro golfinho foi encontrado morto, na manhã deste domingo (17), por volta das 8h, em Salinópolis, litoral paraense. Trata-se de um boto-cinza Sotalia guianensis, que estava na areia próxima ao trecho final da praia do Atalaia, conhecido como Ponta da Sofia. O animal apresentava marcas de malha de rede de pesca no bico.

O golfinho foi encontrado pelo surfista Ronaldo Nóbrega, que divulgou um vídeo nas redes sociais relatando que a morte desses animais se tornou frequente no litoral.

"Uma triste realidade que estamos vivendo. Morte de muitos golfinhos aqui na praia. Foram seis em 15 dias aqui no Atalaia. Esse que encontrei deve ter morrido no sábado", comentou. 

image O animal apresentava marcas de malha de rede de pesca no bico. (Reprodução)

"O problema são essas redes de pesca de barcos que ficam na nossa costa. Cardumes deles foram resgatados por pescadores artesanais. Mas provoca a mortalidade de muitos. As redes são grossas e chegam até dez mil metros", explicou Ronaldo.

Em nota, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Salinópolis informou que incidentes do tipo vêm acontecendo ao longo do tempo com várias espécies de peixes e animais marinhos, que, na maioria dos casos, são vítimas de redes de pescas, da ingestão de lixo jogado no mar ou mesmo de mortes por causas naturais. "A prefeitura trabalha intensamente e diariamente na prevenção e limpeza das praias", acrescentou a nota.

TREINAMENTO

Por conta dos recentes encalhes de animais marinhos no litoral paraense, o Instituto Bicho D'água - ONG que atua na pesquisa e conservação de mamíferos aquáticos no Pará - se colocou à disposição do Corpo de Bombeiros de Salinópolis para realizar treinamento sobre primeiros socorros e medidas a serem tomadas para resgate e soltura de mamíferos aquáticos encalhados. 

Além da agenda de treinamentos que será montada, a equipe do instituto orientou que seja dada atenção, nos próximos dias, para o caso de outros animais virem a encalhar. Caso haja alguma ocorrência, a ONG ajudará no resgate e observação para possíveis sinais que expliquem a causa do encalhe.

BOTO-CINZA

Na última quarta-feira (13), um golfinho foi encontrado morto em Salinópolis. Trata-se de um boto-cinza com populações em quase todas as baias da costa do Estado. É uma espécie residente, portanto não foi o caso de ter desviado a rota mediante mudanças de temperatura e clima causadas pelo inverno amazônico. Neste período do ano, a espécie costuma morrer emalhada em redes de pesca, no entanto, não é possível afirmar que esse tenha sido o motivo da morte. 

Quem esclarece é a pesquisadora de mastozoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, Renata Emin Lima, que é presidente do Instituto Bicho D'água. "Não tivemos a chance de examinar o animal, e, portanto, não podemos afirmar que foi capturado em rede de pesca. Na foto que recebi não consegui perceber marcas de rede", avaliou a pesquisadora.

A captura acidental em redes de pesca é a principal causa de morte de pequenos cetáceos ao longo do mundo todo, inclusive no Brasil. "Essa é uma espécie bastante comum na costa brasileira, e temos muitos casos de botos-cinza mortos por conta da captura acidental", disse. "Estou falando do que comumente observamos ao longo de 13 anos de monitoramento de encalhes de mamíferos aquáticos na costa do Pará", acrescentou.

 

O boto-cinza é bastante costeiro e tem preferência por estuários e baias, se distribuindo desde a América Central, Honduras, até o sul da América do Sul, na Baía Norte, em Santa Catarina. Os golfinhos são mamíferos que respiram ar, portanto precisam subir à superfície para respirar. Se encontram uma rede de espera, tipo de armadilha de pesca muito utilizado nas regiões costeiras, podem ficar presos e sem conseguir subir para respirar morrem afogados, ou até mesmo antes disso.

A pesca ocorre o ano todo, mas, neste período, existe a pesca da dourada, por exemplo, bem comum na baía de Marapanim, adjacente a Salinópolis. Ali, no primeiro semestre, muitos barcos vão pescar com essas redes de espera. "E é bastante comum vermos golfinhos encalhados mortos com marcas de rede na pele", detalhou Renata.

BOTO OU GOLFINHO? 

Na classificação dos biólogos, não há diferença entre "boto" e "golfinho". Trata-se apenas de uma questão de nomenclatura regional. O termo boto ganhou força no Brasil para nomear o pequeno cetáceo encontrado nos rios da Amazônia. A partir daí, passou a ser ensinado em escolas que boto era de água doce e golfinho, de água salgada, mas essa diferença não existe.

image Golfinho e tartaruga foram encontrados mortos, na última quarta-feira (13), na Praia do Atalaia, em Salinópolis (Reprodução)

TARTARUGA-OLIVA

Também na última quarta-feira, uma tartaruga-oliva foi encontrada morta em Salinópolis. No Brasil, as áreas de desova conhecidas para as tartarugas-oliva são na costa de Sergipe e Bahia, mas existem áreas na Guiana Francesa. "As tartarugas marinhas são espécies migratórias. Pela proximidade, poderia ser uma tartaruga de lá. Já tivemos registros de desova no Pará, mas são o que chamamos de desovas ocasionais", contou Renata Emin.

GOLFINHO-CABEÇA-DE-MELÃO 

Na última segunda-feira (11), os bombeiros e moradores de Maracanã, no nordeste do Pará, conseguiram resgatar um golfinho-cabeça-de-melão, confundido por muitas pessoas como filhote de baleia. O animal, que ficou preso em um terreno arenoso na Praia da Marieta, foi o primeiro registro da espécie no Pará.

image Golfinho foi salvo por bombeiros e moradores em Maracanã na segunda-feira (11) (Reprodução)

"Temos um registro da mesma espécie no Piauí. Como é uma espécie oceânica, e a característica da nossa costa seja de muitos quilômetros de águas rasas, é natural que não seja comum vermos esse golfinho por aqui. Outra coisa interessante é que essa é uma espécie gregária, vive em grupos de dezenas de animais. O fato de um golfinho ter encalhado só, pode indicar que ele tenha se pedido do grupo", avaliou a presidente do Bicho D'água.

BALEIA JUBARTE

Também houve um caso de uma baleia que foi encontrada morta, no dia 21 de fevereiro, no município de Soure, arquipélago do Marajó. A pesquisadora explica que era um filhote de baleia jubarte e que parece ser um animal que desviou de sua rota.

image Filhote de baleia jubarte foi encontrada morta em Soure, no Marajó, no dia 21 de fevereiro (Sema Soure/Prefeitura)

"Existem baleias jubarte no Atlântico Norte e no Atlântico Sul. As que ocorrem no Atlântico Sul tem uma área de concentração para reprodução e cria dos filhotes bastante conhecida no litoral da Bahia, portanto longe da Costa Amazônica. Como se tratava de um filhote recém emancipado, pode ser que pela inexperiência o mesmo tenha se perdido", concluiu Renata.

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